Três letras ganharam destaque no universo corporativo nos últimos anos: ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance - ou Ambiental, Social e Governança, em português). Há quem associe o termo somente à sustentabilidade. No entanto, o cenário é muito mais amplo e está ligado ao risco financeiro do negócio e dos investimentos.
É fundamental que a sigla esteja completamente inserida em um planejamento estratégico adequado, atento às atualizações de regras internacionais e nacionais, pois a evolução de ESG é, por natureza, dinâmica e passa por constantes aprimoramentos. As empresas já entenderam o contexto e cada vez mais ampliam os investimentos, que vão além da preservação ambiental.
Para 85% dos 170 presidentes e diretores de empresas ouvidos pelo instituto de pesquisa Data Makers, por exemplo, a imagem da companhia é a principal motivação para adotar práticas ESG. Em segundo lugar vem a reputação corporativa, de acordo com 65% dos respondentes. Outras respostas foram: melhora da gestão da empresa (59%), redução de riscos (38% - pressão de stakeholders): e retenção de talentos (35%).
Já a última pesquisa com o perfil do Operador Logístico realizado pela ABOL, em parceria com o Instituto de Logística e Supply Chain - ILOS, reportou que 81% dos Operadores Logísticos atuantes no Brasil desenvolveram uma área de sustentabilidade em 2022. Do total, 30% dos Operadores Logísticos entrevistados possuem metas de sustentabilidade e 19% têm objetivos dentro de uma área mais ampla, englobando diferentes ações de ESG.
Os Operadores Logísticos, ao adotarem práticas relacionadas ao ESG, demonstram seu compromisso com a sustentabilidade ambiental, o bem-estar social e uma governança responsável. Essas práticas não apenas atendem às demandas dos clientes e investidores conscientes, mas também contribuem para o sucesso e a longevidade do negócio, fortalecendo a reputação da empresa e gerando valor a longo prazo.
Leia também: https://abolbrasil.org.br/noticias/noticias/profissional-deve-estar-por-dentro-da-agenda-esg
Operadores Logísticos e a sustentabilidade
Os Operadores Logísticos já contam com ações efetivas envolvendo a tríade. Quando se trata especificamente de descarbonização da logística, alguns Operadores Logísticos já contam com medidas efetivas, que buscam mitigar o máximo das emissões de gases causadores de efeito estufa.
Muitos já estabeleceram medidores de emissão, mirando o mercado de carbono, por entenderem que é o serviço de transporte de carga que mais polui - em particular o rodoviário - e também onde estão as maiores dificuldades para a operacionalização dessa mudança, em função de dificuldades técnicas e econômicas.
Ainda não é possível, por exemplo, eletrificar caminhões de grande porte, como é o caso de cavalos mecânicos. Com isso, o foco acaba sendo na eletrificação de veículos leves, como aqueles usados para as entregas na última milha.
Há Operadores Logísticos que já estabeleceram metas agressivas nesse sentido, anunciando que, nos próximos 4 ou 5 anos, 100% da frota leve será elétrica. Outros, ampliarão o número de armazéns e galpões com placas fotovoltaicas instaladas, fornecendo toda a energia para a operação in loco.
Vale lembrar que muitos Operadores Logísticos já utilizam carretas movidas a GNV, diminuindo consideravelmente as emissões de CO2. Os Operadores Logísticos que atendem a indústria automotiva também adotam soluções mais simples e que trazem grandes impactos, como é o caso da substituição da lavagem de carretas de jato de água por vapor, reduzindo, significativamente, o consumo de água.
A Coopercarga pauta suas ações conforme os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, um pacto global definido pela ONU, classificados como metas para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.
Na Tegma, como o principal modal de transporte rodoviário 100% a Diesel é fornecido por meio de parceiros, a empresa prioriza iniciativas voltadas para a descarbonização dos seus processos internos.
A Luft estreou, este ano, o seu primeiro caminhão 100% elétrico por meio de uma parceria com o laboratório farmacêutico e de dermocosméticos Expanscience. Além disso, iniciou as operações com um caminhão modelo VW 19.320 movido a GNV e biometano. Ele permite a prática sustentável em longas distâncias, em complemento ao veículo 100% elétrico que, por enquanto, é utilizado em distâncias menores.
Na Sequoia, a execução de sua estratégia passa pela automatização de processos ligados a gestão do carbono, contabilização das reduções de CO2 de projetos já em andamento, uso de tecnologias limpas na operação dos centros de distribuição e modais alternativos para operações de transporte, além de oferecer serviços ligados a gestão e compensação do carbono para 100% de suas entregas.
Operadores Logísticos e o Social
Os Operadores Logísticos desempenham um papel significativo no aspecto "S" (Social) do ESG, que se refere às práticas e impactos sociais de uma empresa. O termo pode ser trabalhado de diversas formas, sendo uma delas a garantia de que as condições de trabalho sejam seguras, saudáveis e respeitem os direitos dos colaboradores. Isso inclui fornecer treinamento adequado, equipamentos de proteção individual, horários de trabalho justos e um ambiente livre de discriminação.
Outra possibilidade é a promoção da diversidade e a inclusão em sua força de trabalho, valorizando a igualdade de oportunidades para todos os funcionários, independentemente de sua origem étnica, gênero, idade ou outras características. Não para por aí. Outros projetos a serem priorizados pelos Operadores Logísticos podem envolver:
Relações positivas com a comunidade: pode ser alcançada por meio de iniciativas de responsabilidade social corporativa, envolvimento em projetos comunitários, apoio a causas locais e contribuições para o desenvolvimento sustentável das comunidades.
Saúde e segurança: os Operadores Logísticos devem priorizar a saúde e a segurança dos funcionários, garantindo que os locais de trabalho estejam em conformidade com as regulamentações e padrões relevantes. As ações envolvem a implementação de medidas de segurança adequadas, treinamento regular sobre práticas seguras e ações preventivas para reduzir riscos ocupacionais.
Ética nos negócios: o objetivo é promover transparência, integridade e o combate à corrupção. Isso envolve a conformidade com as leis e regulamentações aplicáveis, bem como a adoção de políticas e códigos de conduta ética que orientem o comportamento empresarial.
A Luft Healthcare, por exemplo, conta com o Programa de Saúde Integral Corporativa Luft Mais Saúde, desenvolvido pela healthtech HSPW especialmente para os colaboradores da Luft Healthcare, visando o autocuidado e prevenção de doenças. Além disso, desde 2008, a Operadora Logística é signatária do Programa Na Mão Certa, da Childhood Brasil e ainda dispõe do Programa Jovem Aprendiz na Luft Healthcare e Luft Solutions, que seleciona talentos visando a capacitação profissional por meio de processo socioeducativo.
Operadores Logísticos e a Governança
Os Operadores Logísticos também desempenham um papel importante no aspecto "G" (Governança) do ESG, relacionado às práticas de governança corporativa e à estrutura de gestão de uma empresa. Algumas maneiras pelas quais os Operadores Logísticos podem abordar o componente de governança:
Transparência e prestação de contas: O Operador Logístico deve adotar práticas de transparência em suas operações e divulgar informações relevantes aos stakeholders, como relatórios financeiros, desempenho ESG, políticas de governança e outros dados essenciais para avaliar a saúde e a sustentabilidade da empresa.
Leia também: Leia também: https://abolbrasil.org.br/noticias/noticias/santos-brasil-lanca-relatorio-de-sustentabilidade-2022
Estrutura de gestão eficaz: O Operador Logístico deve estabelecer uma estrutura de gestão sólida e eficiente, com definição clara de responsabilidades, tomada de decisão transparente e mecanismos adequados de supervisão e controle. Isso ajuda a garantir a prestação de contas e a promover uma cultura de governança adequada.
Ética e conformidade: Adoção de políticas e práticas que promovam a ética nos negócios e garantam a conformidade com as leis e regulamentações aplicáveis. Isso envolve o estabelecimento de códigos de conduta, políticas anti-corrupção, treinamento em ética empresarial e ações para prevenir práticas ilegais ou antiéticas.
Gestão de riscos: Abordagem proativa na identificação, avaliação e gestão de riscos. Isso inclui a implementação de sistemas de gestão de riscos robustos, a fim de mitigar ameaças, antecipar mudanças e garantir a continuidade das operações.
Engajamento dos stakeholders: Estabelecimento de um diálogo aberto e regular com seus stakeholders, como funcionários, clientes, fornecedores e investidores. Isso permite que os interesses das partes interessadas sejam ouvidos e levados em consideração nas decisões e políticas da empresa.
Responsabilidade corporativa: Isso inclui a consideração dos interesses de longo prazo de todos os stakeholders, a promoção da sustentabilidade e a adoção de práticas que gerem valor a longo prazo para a empresa e para a sociedade.
Ao abordar o aspecto de governança, os Operadores Logísticos demonstram seu compromisso com a transparência, a prestação de contas e a gestão eficaz. Práticas sólidas de governança corporativa promovem a confiança dos stakeholders, ajudam a minimizar riscos e fortalecem a reputação da empresa no mercado. Além disso, a boa governança é essencial para orientar a tomada de decisões estratégicas e sustentáveis que impulsionam o sucesso a longo prazo dos Operadores Logísticos.
ABOL cria Grupo para tratar do tema junto aos Operadores Logísticos
Foi a partir do atual contexto que a ABOL decidiu criar, no final de 2021, o “Grupo ESG”, composto pelos profissionais responsáveis por endereçar o tema dentro dos OLs associados. O Grupo, que conta com a coordenação de Felipe Romera, Gerente de ESG do Grupo Sequoia Log, e da Diretora Executiva da Associação, Marcella Cunha, é um reflexo da postura de responsabilidade, transparência e colaboração que as empresas do setor vêm adotando.
Um dos seus objetivos é desenvolver políticas e trocas de experiências e informações relevantes sobre as soluções possíveis de serem implementadas. O primeiro evento organizado pela entidade este ano abordou a importância das empresas entenderem o real significado dessas três letras. O objetivo foi tirar o foco apenas da sustentabilidade, uma vez que as primeiras ações acabam sendo voltadas ao meio ambiente.
O futuro do ESG
O futuro do ESG é promissor e tende a se tornar cada vez mais relevante nas empresas e na sociedade em geral. Uma estimativa feita pela Bloomberg Inteligence (BI), a divisão de pesquisas da Bloomberg, apontou que em 2025, os ativos financeiros associados aos critérios de ESG devem superar US$ 53 trilhões, representando mais de um terço do total de US$ 140 trilhões que são administrados no mundo.
Gostou do conteúdo? Quer saber mais? Acompanhe as publicações no site da ABOL, no www.abolbrasil.org.br.