28/03/2024

Para operadores de logística na área da saúde, receita é equilibrar tempo e boas práticas

 Para operadores de logística na área da saúde, receita é equilibrar tempo e boas práticas



O surto de dengue, sem dúvida, fará de 2024 um ano mais intenso para os operadores de logística na área da saúde. Nada, porém, que se compare à situação apocalíptica que foi a pandemia de covid-19 – cuja experiência contribui para enfrentar a nova emergência.
Para Roberto Vilela, presidente da RV Imola Log, o surto de dengue é mais semelhante à epidemia de H1N1 – a gripe suína de 2009. “Só que neste caso da dengue, o estoque é o próprio caminhão, que retira as vacinas na Coordenadoria de Vigilância em Saúde de São Paulo (Covisa) e as entrega nos polos do órgão no município de São Paulo.”


A prática não é uma novidade para o setor de logística da saúde, cujas características técnicas e regulatórias já impõem há tempos as técnicas just in time e planejamento de recursos de produção (MRP, na sigla em inglês). “Isso envolve controle de remédios pedidos quando há demandas, geralmente de medicamentos caros, que necessitam de tecnologia de controle. Um exemplo: as vacinas da covid-19 eram fabricadas de acordo com a demanda e armazenadas em trânsito até o momento da aplicação. Aconteceu com a covid e vai acontecer com todas as outras vacinas”, lembra o professor Marcus Quintella, diretor do Centro de Estudos de Transportes e Logística da Fundação Getulio Vargas (FGV).


O tempo é um fator crucial para garantir a integridade e segurança de produtos com vida útil limitada, que exigem condições controladas de temperatura, umidade, luminosidade, salinização e higiene, especialmente dos medicamentos chamados termolábeis, isto é, sensíveis a grandes variações de temperatura. São produtos com estrita regulação da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), que devem ser mantidos em temperaturas, no geral, entre 2°C e 8°C, podendo chegar a 25°C negativos. “Em um país de dimensões continentais e clima tropical como o Brasil, isso se torna ainda mais crítico”, diz Ricardo Canteras, diretor comercial da Temp Log e especialista em cadeia fria e logística farmacêutica.


Por isso, além da gestão de temperatura e higiene, a logística farmacêutica requer altos níveis de especialização, boas práticas, licenças, capacitação de pessoas e rastreabilidade da informação. Controle de pragas, compatibilidade de cargas, capacitação técnica e planos de contingência também concorrem para preservar as características estipuladas em seu registro técnico junto à Anvisa, desde a obtenção da matéria-prima até o produto acabado.
“A logística da saúde está exposta a muitas variáveis no seu dia a dia – combustível, aluguel de áreas, pessoas, regramento fiscal, regramento técnico, processos e tecnologia. O setor requer, a todo momento, melhores práticas, inovação e a busca pela qualidade assegurada, enquanto, na contramão, temos necessidade de redução de custos operativos com a melhor performance destacada pela OTIF [on time in full] de todo este processo”, ressalta Kleber Fernandes, coordenador do grupo de logística de produtos de interesse à saúde da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol).
Fernandes lembra que se a evolução regulatória dos últimos dez anos é evidente, persistem hiatos e diferenças entre os Estados do Brasil sobre a interpretação da natureza da operação preconizados pela logística farmacêutica. Daí resultam tributação diferente de Estado para Estado e entre os municípios, fiscalizações também distintas e um regramento totalmente heterogêneo. “O arcabouço legal que a logística está exposta chega a ser preocupante”, ressalta.


Canteras, da Temp Log, acrescenta: “A complexidade regulatória e fiscal, que varia entre regiões, adiciona uma camada de dificuldade [à operação], exigindo um conhecimento aprofundado e atualizado das legislações pertinentes. A retenção de medicamentos refrigerados em postos fiscais por horas ou dias é um exemplo claro de como a burocracia pode impactar negativamente a logística na saúde”. Ele lembra ainda que se a queda das taxas de juros e a redução e estabilização dos preços dos combustíveis foram benéficas para o setor, a renovação da medida provisória que desonera a folha de pagamento e a regulamentação célere da reforma tributária serão determinantes para a competitividade, novos investimentos e criação de postos de trabalho.
Os problemas econômico-financeiros decorrentes da pandemia de covid-19 que assediam os planos de saúde e os hospitais também impactam a logística da saúde, reforçando a tendência da terceirização da gestão de estoques para os operadores logísticos. “No passado, meu maior concorrente era o próprio nome do hospital, que resistia a confiar seu medicamento para um terceiro administrar”, relata Vilela, da RV Imola, ressaltando que o custo da estocagem de medicamentos e insumos representa até 35% das despesas totais de muitas instituições hospitalares. “Se o hospital tinha, por exemplo, estoques para um mês, 40 dias, nós conseguimos reduzir esse tempo para 15 dias, até dez dias de estoque”, afirma, acrescentando que percebeu uma tendência de desospitalização dos pacientes e a consequente necessidade do home care. O crescimento do número de idosos no país também impulsiona esse mercado que Vilela inclui entre os novos negócios, que demandarão dobrar os investimentos para R$ 24 milhões/R$ 25 milhões neste ano.


Além da complexidade da logística da saúde, soma-se a preocupação com a sustentabilidade. Operadores logísticos estão adotando medidas para maior eficiência energética e redução da emissão de carbono, como reciclagem, controles de consumo de água e energia, diminuição de papel, uso de cintas em vez de invólucros de plástico (filme strech) nos paletes, caixas retornáveis no lugar das de papelão, entre outras.
A eletrificação da frota, embora desejada, é abordada com cautela, diante das dimensões continentais do país, da limitada disponibilidade de pontos de recarga, das condições da malha rodoviária, com estradas em situação calamitosa. “Uma coisa é a Holanda, onde a maior distância é de 250 km. Aqui, não posso sair com produtos sensíveis, percorrer distâncias continentais com o risco de um caminhão que tem que estar climatizado ou refrigerado ter problemas de falta de energia”, afirma o presidente da RV Imola, que tem uma frota de 150 caminhões e movimenta algo como R$ 80 bilhões em medicamentos por ano, com 11 centros de distribuição no país.
O grupo Elfa enfrenta essa questão começando pelo fim: a última milha das entregas na cidade de São Paulo começa a ser feita por autos elétricos. “É um piloto, porém diferente, porque já nasce escalado; não é um carro-teste circulando, para tirar foto, é uma frota-piloto, uma rampa para uma futura malha viária”, diz José Roberto Ferraz, presidente da companhia. O conglomerado, resultante de aquisições de 21 empresas, reflete uma tendência cada vez mais frequente: a consolidação de um segmento extremamente fragmentado, caracterizado por uma multiplicidade de operadores e transportadores, de portes os mais variados e no qual convivem o estado de arte no uso intenso de tecnologia de ponta – como é o segmento de distribuição de vacinas e armazéns multitemperaturas – e soluções, por assim dizer, caseiras. Como a encontrada por Ferraz em uma das empresas investidas pelo grupo Elfa: “Era uma empresa de um único dono, que embarcava medicamentos no porão do ônibus, porque era a melhor rota e saía baratinho, mas totalmente em desacordo com o compliance técnico e regulatório”.


O trade off entre custo e qualidade está no cerne do processo de consolidação, presente no setor de logística como um todo, que abriga 280 mil transportadores cadastrados, sem contar quase um milhão de caminhoneiros autônomos. “Recentemente, de 239 fusões e aquisições, cerca de 200 foram no setor de logística”, lembra Quintella, da FGV. Porém, como observa Kleber Fernandes, da Abol, o segmento da saúde vem “assumindo um protagonismo” nesse processo, dada a “seleção natural acelerada” imposta pela complexidade e alta especificação técnica da atividade.
Canteras, da Temp Log, vê a consolidação como “predominantemente positiva”, ao possibilitar a formação de empresas mais robustas, capazes de investir em tecnologia, inovação e infraestrutura de ponta, melhorando a qualidade do atendimento aos pacientes e a segurança dos produtos da saúde e desde que não resulte em concentração de mercado e redução da concorrência.
O presidente do grupo Elfa – que realiza cerca de duas mil entregas por dia – enumera as conquistas propiciadas pelo amálgama de 21 empresas: “Reduzimos mais de 40 armazéns para 26 centros de distribuição, caminhando para 25, e hoje somos cerca de 50% maiores do que a soma das 21 operações individuais originais”. Ferraz destaca o papel da informatização e da automação na passagem pelo “inverno” das fusões. “Imagine o que é integrar 21 sistemas contábeis, fiscais e operacionais diferentes. Hoje, 100% da operação comercial já está sob a mesma plataforma de sistemas e de inteligência virtual, o que é um passo para ganhar ainda mais eficiência.”


Fonte: Valor Econômico



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