De forma geral, o mercado de trabalho está se transformando, impulsionado por questões que vão desde avanços tecnológicos a mudanças nas cadeias produtivas. Até 2030, o mercado global deverá criar 170 milhões de novos postos de trabalho, enquanto 92 milhões de funções atuais serão extintas.
É um saldo positivo de 78 milhões de empregos, de acordo com informações do “Futuro dos Empregos 2025”, relatório publicado pelo Fórum Econômico Mundial.
No caso da logística, as perspectivas são relativamente otimistas. De acordo com a pesquisa, motoristas de caminhonete ou de serviços de entrega estão na 2ª posição no ranking das profissões que mais devem crescer até 2030. A lista ainda traz os motoristas de carro, van e motocicleta na 7ª colocação e gerentes gerais e de operações fechando o Top 10.
Uma das justificativas para esse cenário é o crescimento do comércio eletrônico. Segundo uma publicação do E-commerce Brasil, o setor faturou R$ 204 bilhões em 2024 — uma alta de 10,5% em relação ao ano anterior. A projeção é de que esse faturamento ultrapasse os R$ 230 bilhões em 2025, conforme projeção da Associação Brasileira do Comércio Eletrônico (ABComm).
Outro cenário que favorece esse tipo de trabalho é a demanda por operações de last mile cada vez mais rápidas. O que se viu nos últimos anos foram as grandes empresas — desde as tradicionais, como Magalu, até as “cronicamente online”, como Mercado Livre e Amazon — investindo fortemente para diminuir o tempo de entrega.
O PARADOXO DA TECNOLOGIA
Enquanto existe uma tendência de alta em algumas profissões que compõe a cadeia logística, outras devem diminuir ao longo dos próximos anos. No relatório do Fórum Econômico Mundial, os assistentes de controle de materiais e estoquistas apareceram na 4ª colocação dos postos de trabalho que devem ser reduzidos até 2030.
Essa perspectiva pode estar diretamente ligada ao movimento de transformação digital nas operações internas ao redor do mundo. De acordo com a pesquisa “O Armazém do Futuro”, conduzida em uma parceria entre Infor e Seal Sistemas, a automação robótica foi apontada por 27% dos entrevistados como uma das tecnologias que devem impulsionar os armazéns do futuro.
O cenário também é justificado no relatório “Next stop, nex-gen”, da Accenture. Segundo o documento, empresas que adotam tecnologias como IA e Machine Learning conseguem aumentar a eficiência dos recursos de engenharia em 21%.
As contradições em relação à tecnologia aparecem até quando relacionadas às profissões que devem crescer. Apesar de haver um crescimento na procura por motoristas para transporte e entregas, também há um aumento na busca por especialistas em veículos autônomos. Esse paradoxo pode ser explicado pelo fato de os veículos autônomos ainda não serem implementados em larga escala, o que mantém em alta a demanda por motoristas humanos.
A ESCASSEZ DE TALENTOS
Mesmo com um cenário promissor para os profissionais de logística, a falta de qualificação ainda é um grande obstáculo. Segundo a pesquisa do ManpowerGroup, o Brasil aparece na 7ª posição global entre os países que mais sofrem com a escassez de talentos.
O setor de logística e transporte é o mais afetado, com 91% do segmento reportando dificuldade em encontrar mão de obra qualificada. Em relação às habilidades mais difíceis de encontrar no país, destacam-se TI e análise de dados (39%), engenharia e manufatura (28%), vendas e marketing (24%) e operações e logística (20%).
Aqui, outra contradição: de acordo com reportagem publicada pela MundoLogística em setembro de 2024, 18,9% dos alunos que se formaram em logística estão desempregados no Brasil.
Quando questionado sobre como pode existir, simultaneamente, oferta de vagas e profissionais desempregados, o professor Orlando Fontes Lima Jr., da Unicamp, declarou que essa é uma realidade de todas as áreas. “As empresas querem determinadas qualificações que não são compatíveis com as formações dadas aos profissionais.”
Inclusive, ao repercutir o relatório do Fórum Econômico Mundial, o Valor Econômico destacou a tendência de alta na procura por profissionais especialistas em transformação digital, IA e Machine Learning — tópicos que ainda não ganharam espaço cativo na educação formal em logística no Brasil.
Fonte: Mundo Logística