30/03/2021

Moda volta a desacelerar e cadeia produtiva pode ter desequilíbrio

 Moda volta a desacelerar e cadeia produtiva pode ter desequilíbrio


O fechamento do comércio em março, com o agravamento da pandemia, e as incertezas sobre a retomada nas vendas a partir da reabertura devem comprometer o desempenho do primeiro semestre do varejo de moda, um dos mais impactados pela crise em 2020. Em parte isso ocorre porque a demanda nesse segmento já havia sido afetada pelas maiores restrições de circulação desde fevereiro. E a venda on-line, apesar do crescimento, ainda representa menos de 15% do faturamento total das grandes cadeias.

Além disso, a volta da quarentena em vários Estados afetou o planejamento de fornecedores e pode trazer novos desequilíbrios para a cadeia produtiva, algo que já impactou a oferta nas lojas meses atrás. Na sexta-feira, o governo de São Paulo decidiu estender a fase emergencial, que impede a abertura de lojas de ruas e shoppings, até 11 de abril, pelo menos. A fase começou no dia 15 e, inicialmente, estava prevista para acabar hoje.

Nas últimas semanas, as grandes redes de moda vêm atualizando o mercado sobre esse cenário. Na C&A, metade de suas 295 lojas estavam fechadas na terceira semana de março e o início de ano foi “desafiador”, disse a analistas dias atrás o CEO, Paulo Correa.

Segundo ele, janeiro e fevereiro mantiveram o mesmo ritmo de dezembro, que já foi mais fraco que novembro, com uma compensação parcial pela venda on-line, que cresce três dígitos. A Renner também mencionou um início de ano afetado pelas restrições de circulação, antes mesmo dos “lockdowns” em março, e uma preocupação maior com a estratégia de manter estoque de “melhor qualidade”, mais assertivo, para não perder venda, disse Fabio Faccio, CEO da varejista, em entrevista ao Valor semanas atrás.

A produção e perfil dos estoques têm sido foco de atenção das redes. Há um temor de novas oscilações na oferta de produtos da indústria. Isso ocorreu no ano passado, quando a paralisação das fábricas reduziu as entregas às lojas no segundo semestre. A alta do dólar e as limitações de crédito no mercado também afetaram os fornecedores, gerando um descompasso entre indústria e varejo.

Na primeira semana de março, quando os Estados foram aumentando as restrições de circulação, a Hering disse que o fluxo de matérias-primas já estava normalizado, mas havia um gargalo de produção na etapa de confecção. “Muitas operações fecharam, pessoas mudaram de ramo. São pequenos e médios negócios terceirizados, empresas que cumprem essa etapa na nossa cadeia”, disse Thiago Hering, diretor executivo de negócios.

“Ainda esperamos dificuldades nessa cadeia em março, abril e talvez em maio, e um cenário de maior estabilização, reduzindo esse desequilíbrio, depois disso”, disse ele, antes do último anúncio de maiores restrições em São Paulo.

Correa, da C&A, afirmou a analistas que se as lojas voltarem a operar em abril, devem diminuir as pressões sobre o estoque, e cai o risco de ter que fazer novas remarcações de preços para desovar mercadorias, como ocorreu em 2020 com o setor. “Mas se os fechamentos perdurarem até maio, vai ser algo parecido com o ano passado, quando houve pressão para a venda de produtos sazonais”. Isso tende a afetar preços e margens das redes.

Dados dos balanços de 2020 mostram que, por conta da crise, as redes de capital aberto, líderes do setor, tiveram queda no lucro operacional ou prejuízo no acumulado do ano passado, e as vendas líquidas caíram 22,3%, para R$ 17,8 bilhões, cerca de R$ 5 bilhões a menos que o ano anterior, ao se considerar dados de Renner, Riachuelo, C&A, Marisa e Hering.

Em geral mais capitalizadas e com capacidade de reação maior, as grandes redes têm tentado driblar o cenário adverso. As medidas envolvem novas estratégias comerciais e de marketing voltadas ao comércio eletrônico e a manutenção de estoques de linhas de produtos mais “perenes”, como diz a Hering, que podem ser vendidas posteriormente.

Com cerca de 210 das 345 lojas fechadas (segundo dados da semana passada), a Marisa está concentrando suas ações em produtos “best sellers”, naqueles já “testados e aprovados”, e em categorias em que é referência, como moda íntima, diz Marcelo Pimentel, presidente da rede. “Estamos concentrando volume e buscando margem nas nossas linhas mais seguras, já consagradas. E não podemos errar naquelas mais básicas, que respondem por parte da demanda hoje por conta do maior isolamento social”, diz.

“O divisor de águas agora, entre as redes que sentirão mais ou menos os fechamentos, será a qualificação do estoque e, de novo, a força do digital. Quem montou realmente em 2020 uma boa estrutura para essa venda sai na frente”.

Segundo ele, o lockdown aumenta a pressão sobre redes ou fornecedores em dificuldades, mas há sinais positivos no mercado: as lojas abertas da Marisa em março têm registrado resultados melhores do que em 2020. Além disso, analistas lembram que Renner, Riachuelo, C&A, Marisa e Hering aprimoraram a logística do on-line, reduziram prazo de entrega, , ampliaram a cesta à venda e reestruturaram os aplicativos.

Isso deve ajudar no desempenho geral, embora o digital, mesmo após o crescimento de até três dígitos nas cadeias em 2020, ainda represente fatia pequena no consolidado anual. Na Hering, o on-line respondeu por 14% da receita em 2020 e na Marisa, por 13,4%.

Em relatórios sobre as empresas do setor, em março, a equipe de análise do BTG ainda menciona, por exemplo, o foco maior de algumas redes na área de casa e decoração, como Riachuelo e Renner (dona de Camicado), que tem tido boa demanda, e a expectativa de recuperação paulatina nas vendas na segunda metade do ano, com o aumento da vacinação no país.

O comando da Marisa reforça, porém, que essas iniciativas não mudam o nível de insegurança com o cenário futuro. “A incerteza da velocidade de retomada hoje é a mesma que existia no ano passado, a diferença é que os aprendizados da crise ficaram. Hoje, ter caixa sólido, uma operação mais enxuta tem peso maior na retomada”, disse Adalberto Santos, vice-presidente financeiro da Marisa.

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