Os dados da balança comercial chinesa em março mostram que é a demanda — e não a oferta — o principal responsável pela perda de tração da segunda maior economia do mundo. O impacto vindo do setor externo somado à restrição no consumo interno por causa dos bloqueios em cidades chinesas específicas atinge a atividade em duas frentes, sugerindo um ritmo de crescimento mais distante da meta de expansão de 5,5% para 2022.
A economista do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fabiana D’Atri, explica que os lockdowns tendem a afetar mais a demanda interna do que as exportações. Porém, ela avalia que já há sinais de perda de tração na economia mundial, em resposta ao aperto da política monetária em diversos países, que se refletiram nos dados da balança comercial chinesa. “Esses fatores implicam desaceleração das exportações chinesas”, afirma em relatório divulgado a clientes.
De um modo geral, o comércio de bens na China recuou acentuadamente no mês passado. Entre outros fatores que explicam essa queda, está a retomada da capacidade produtiva de outras regiões da Ásia, que se colocam como concorrentes da indústria chinesa na oferta global de bens, além do uso da poupança acumulada durante a pandemia.
Além disso, a migração da demanda global de bens ligados à pandemia para serviços explica as quedas nos embarques chineses de produtos eletrônicos, móveis e itens recreativos, típicos do período de consumo durante o “fique em casa”. Portanto, a preocupação é com uma desaceleração mais pronunciada da economia chinesa e com um agravamento das cadeias produtivas.
“Embora as interrupções do mais recente surto da covid-19 [na China] sejam parcialmente culpadas [pelo recuo], as mudanças no lado da demanda desempenharam um papel maior”, explica o economista sênior para a China da Capital Economics, Julian Evans-Pritchard, citando cálculos que mostram a maior contração nos volumes de exportação chinesa desde o início da pandemia, em 2020.
Segundo ele, a queda nas exportações chinesas parece refletir principalmente uma demanda global mais fraca.
Do lado interno, a economista do Bradesco lembra que o consumo das famílias “nunca ditou” o ciclo econômico na China, ainda que represente uma parte importante do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Para Fabiana, a evolução dos casos de coronavírus tem chamado a atenção, devido ao aumento de infecções e à disseminação da variante ômicron em várias cidades chinesas.
Para ela, abril ainda deve ser de atividade “muito fraca”, atrapalhando a dinâmica de recuperação vista na virada de 2021 para 2022. Já o economista da CapEcon avalia que os lockdowns tiveram impacto maior nos gargalos da cadeia de suprimentos, aumentando o risco de falta de fornecimento.
Para Evans-Pritchard, os volumes de exportação chinesa devem cair ainda mais nos próximos trimestres, à medida que a demanda por bens de consumo continuará caindo com os padrões de consumo se normalizando após a pandemia. “Os volumes de importação também devem permanecer fracos”, emenda.
Fonte: Valor Econômico