A Hidrovias do Brasil está determinada a consolidar sua operação logística no Arco Norte do país. A empresa, que já tem atuação forte no escoamento de grãos pela região, planeja expandir a infraestrutura atual, criar novas rotas e até mesmo participar dos leilões da BR-163 e da Ferrogrão, com uma participação minoritária, para garantir a competitividade do trajeto.
“O ano de 2020 marcou a consolidação do Arco Norte como rota de escoamento da produção do Mato Grosso. Os portos da região passaram a responder por mais de 50% da exportação, superando a rota de Santos. Isso é uma mudança estrutural muito grande, que tende a avançar, porque o crescimento da produção agrícola será concentrado no Norte do Estado”, afirma o presidente da companhia, Fabio Schettino.
A rota é o principal negócio da Hidrovias do Brasil. O trajeto começa de caminhão, saindo de Mato Grosso até uma estação de transbordo em Miritituba (PA). De lá, a carga segue por hidrovia até o Terminal de Uso Privado (TUP) de Vila do Conde (PA).
No ano passado, a movimentação na rota disparou. O volume transportado pela empresa subiu 46%, na comparação com 2019. A alta foi estimulada pela queda nos fretes rodoviários na BR-163, após o asfaltamento da via, no fim de 2019. A melhora nas condições da estrada deu mais competitividade ao Arco Norte.
Com isso, a Hidrovias do Brasil pretende antecipar os investimentos na estrutura existente, já que a capacidade da rota está quase toda contratada. “É uma expansão mais rápida e barata. Ainda estamos dimensionando o projeto, mas seria possível duplicar a capacidade com 50% do investimento original”, diz ele.
Além disso, a companhia estuda criar novas rotas na região, possivelmente passando por cidades como Porto Velho (RO), Humaitá (AM), Itacoatiara (AM), Juriti (PA) e Santarém (PA). “São localidades que a empresa está olhando, para expandir a área de atuação. Dependendo do local, a rota pode convergir para Vila do Conde, ou formar trajetos alternativo", afirma o executivo.
As discussões para as novas rotas estão avançadas, segundo Schettino. A ideia é anunciar neste ano, para que as operações possam começar em 2022.
A companhia também acompanha de perto novos projetos na região, mesmo em modais que não são seu foco, como a rodovia BR-163. O governo federal planeja conceder a estrada, no trecho entre Rondonópolis (MT) e Miritituba (PA), por um prazo de dez anos. A ideia é que o operador privado cuide apenas da manutenção, sem necessidade de duplicar a via. O leilão está previsto para o terceiro trimestre de 2021.
A empresa, que chegou a doar os estudos de viabilidade do projeto, não quer operar a rodovia, mas negocia entrar em um consórcio, com fatia minoritária.
“É muito importante para todos os operadores do Arco Norte que a BR-163 seja mantida, que tenha condições boas de tráfego. Precisamos que a carga chegue à estação da forma mais competitiva possível”, afirma Schettino.
A mesma lógica se aplica ao projeto da Ferrogrão, ferrovia que o governo federal planeja construir do zero, entre Sinop (MT) e Miritituba (PA), em um trajeto paralelo ao da BR-163, que também atenderia às necessidades da Hidrovias do Brasil. O empreendimento enfrenta a resistência de diversos grupos, mas tem sido tratado como prioridade pelo Ministério de Infraestrutura. A previsão é que o leilão seja feito no fim deste ano.
“Não é um projeto que vamos liderar, e nem caberia no nosso balanço. Mas, se for preciso, para demonstrar interesse, podemos ter participação minoritária. Temos nos articulado para isso, com ‘players’ que podem ser os líderes dos consórcios, tanto na BR-163, quanto na Ferrogrão”, diz ele.
Para além do Arco Norte, a Hidrovias do Brasil também tem planos de expansão no Sul. Nas rotas da hidrovia Paraguai-Paraná, na qual a operadora transporta minério de ferro e grãos, a companhia tem estudado aquisições. “Devemos exercer um papel de consolidador na região. Estamos olhando oportunidades, mas nada que possa ser divulgado.”
A Hidrovias do Brasil, que foi criada pela gestora Pátria em 2010, fez sua oferta inicial pública de ações (IPO) em setembro de 2020. A operação, na qual alguns acionistas venderam parte dos papéis, movimentou R$ 3,4 bilhões. Após a oferta, o Pátria se manteve como principal acionista, com fatia de 25,7%, mas perdeu o controle - antes, a gestora detinha 55,8% das ações. Entre os demais sócios, estão o fundo soberano de Cingapura, GIC, e a gestora Constellation.
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