Os quase cem navios que esperam no horizonte para atracar nos portos de porta-contêineres de Hong Kong e de Shenzhen são só o mais recente sinal dos problemas que atravancaram as cadeias de suprimentos mundiais, elevaram os preços ao consumidor na Europa e nos Estados Unidos e instauraram episódios de escassez de produtos, que vão de móveis a brinquedos de Natal.
O atraso ao largo da costa do sul da China é atualmente o pior do mundo. Um tufão fechou os portos por dois dias na semana passada – mas, embora o clima muitas vezes interrompa o transporte marítimo, essa ocorrência simplesmente agravou os problemas causados por congestionamentos anteriores registrados desde o início da pandemia.
Em agosto, um único caso de covid-19 paralisou um terminal por 15 dias no grande porto chinês de Ningbo, nos arredores de Xangai. Na quarta-feira, havia 584 navios porta-contêineres parados ao largo dos portos, quase o dobro do número computado no começo do ano, segundo dados em tempo real da Kuehne+Nagel, uma das maiores agentes de frete do mundo.
“As cadeias de suprimentos foram comprometidas por todos os ângulos e paralisaram a um nível sem precedentes”, disse Simon Heaney, analista da consultoria marítima Drewry. “Os problemas são muito mais arraigados do que se vê nos portos.”
O aumento da demanda por produtos de consumo, a desestabilização, induzida pela covid, dos horários dos navios porta-contêineres e a escassez de trabalhadores portuários e motoristas de caminhão se associaram para prorrogar os tempos de espera nos portos.
O que agrava o problema é que, quando os navios chegam em seus destinos depois da data prevista, as operações de carga e os horários de carga, descarga e serviços de abastecimento e manutenção ao navio são alijados da sequência normal, levando à desestabilização, por contágio, os serviços de frete, de transporte rodoviário e de armazenagem.
O emaranhado de complicações nas cadeias de suprimentos se reflete na escalada dos custos do transporte marítimo: o preço mundial médio de remeter por navio um contêiner de 40 pés está atualmente próximo de US$ 10.000, valor três vezes maior que o praticado no início deste ano e quase dez vezes superior aos níveis pré-pandemia, segundo a operadora de frete internacional Freightos.
Detlef Trefzger, executivo-chefe da Kuehne+Nagel, prevê que o congestionamento do frete marítimo persista pelo menos até o começo do Ano-Novo chinês, em fevereiro, e que poderá se agravar antes disso. Outros acham que a crise poderá durar mais – principalmente se houver tempo ruim ou mais surtos de covid-19 na China, em vista de sua política de tolerância zero.
“Estamos entrando no período de inverno (de dezembro a março) no hemisfério Norte que trará um retorno das dificuldades normais – neve, vento e fechamentos de terminais. Aí não sabemos o que vai acontecer”, disse Lars Mikael Jensen, diretor de rede oceânica mundial da operadora Maersk. “Não posso avaliar se deixamos o pior para trás.”
Na Europa, há longos períodos de espera para os navios ao largo de Hamburgo e de Antuérpia. Mesmo quando as embarcações não têm de esperar por dias no mar, pode haver enormes turbulências – como no porto de Roterdã, na Holanda, e no de Felixstowe, no Reino Unido, onde a falta de motoristas de caminhão ou o congestionamento das vias navegáveis para o interior do país desacelerou o avanço das cargas. Na quinta-feira Felixstowe continuava sendo o porto britânico mais gravemente afetado, com dois navios ancorados à espera de um atracadouro.
A Maersk, a maior empresa de transporte marítimo do mundo, desviou parte de sua carga destinada ao Reino Unido para a Europa, onde ela pode ser transferida para embarcações menores para ser transportada para o Reino Unido. Problemas de logística semelhantes atingiram os portos da Costa Oeste dos EUA.
Embora o número de navios que esperam no mar tenha caído do recorde de 76 em setembro para 57 atualmente, a falta de trabalhadores portuários e de motoristas de caminhão gera um período de 12 dias para os navios ancorarem e descarregarem os contêineres, o que atrasa a entrega de produtos que vão desde tênis até frutas tropicais, passando por conjuntos de peças de construção de brinquedo Lego.
É por isso que leva três vezes mais tempo, comparativamente ao período pré-pandemia, para descarregar navios em Los Angeles e em Long Beach. Diferentemente, em grandes portos chineses, que operam 24 horas por dia, sete dias por semana, o acréscimo de tempo é de apenas 20%, de acordo com o programa de desempenho de portos da empresa de análise IHS Markit, um conjunto de dados do setor.
O problema é tão grave que o presidente dos EUA, Joe Biden, tem pressionado empresas de frete ferroviário, grupos de transporte rodoviário e portos a aumentar sua capacidade. Grandes empresas, como a Walmrt e a UPS, desde então, prometeram intensificar seus esforços para deslocar produtos.
Lars Jensen, um analista de transporte marítimo por contêineres da assessoria Vespucci Maritime, disse que, mesmo quando os problemas começarem a diminuir, ainda vão ocorrer, intermitentemente, gargalos portuários em todo lugar quando embarcações atrasadas tentarem atracar todas de uma só vez.
“Ninguém deve esperar que essa seja uma transição gradual e suave”, disse ele. “Vamos ter essas reverberações que levarão algum tempo para liberar o sistema.”
Fonte: Valor Econômico
27/11/2024
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