Analistas identificam sinais de retomada do comércio exterior brasileiro, em especial nas negociações comerciais com a China. O especialista em comércio exterior com 20 anos de importação no mercado chinês, Claus Malumud, observa aumento de pedidos provenientes do país asiático. Ele avalia que, apesar do quadro de pandemia, os consumidores continuam colocando pedidos e a indústria aumenta a produção para tentar atendê-los. Malumud lembra que, no mundo inteiro, milhares de contêineres ficaram parados em portos e muitos desses equipamentos não retornaram para a origem.
Com isso, muitas rotas de navios foram canceladas ou alteradas. Quando o ritmo do comércio voltou, não havia navios e contêineres suficientes para atender milhões de pedidos, ao mesmo tempo, no mundo inteiro. Com alta demanda, os preços dos fretes ficaram até cinco vezes mais caros. "A China a pleno vapor, fábricas em plena produção causou gargalo de transporte. A logística impacta diretamente na importação, o frete aumentou e os impostos de importação recaem no produto", disse Malumud. Ele acredita que, até que se regule, vai demorar um pouco. Ele estima que a redução dos fretes deve ser gradativa, a partir de abril.
Para o especialista, as questões políticas entre Brasil e China não afetaram as negociações privadas entre os dois países. Ele percebe as empresas continuando a comprar da China, sem retaliação nos negócios. "O que pode influenciar, sendo a China o maior parceiro comercial do Brasil, é optar por não fazer negócios no país. No trato empresarial, não tem diferença, continuam comercializando entre si como sempre", analisou.
A avaliação é que a China continuará a precisar de produtos do agronegócio, como proteína animal e vegetal. "Esses insumos a China sempre precisa porque não tem fabricação própria necessária para atender ao mercado deles. O Brasil ainda depende muito de componentes eletrônicos e insumos, inclusive para remédios — inúmeras áreas em que o Brasil depende da China para abastecer", disse. Malumud cita equipamentos para geração de energia elétrica alternativa, como painéis solares.
Outra tendência de importação, segundo o especialista, são equipamentos para fazer atividades em casa de forma mais autônoma (self-made), desde ferramentas, equipamentos de ginástica para exercícios em casa e outros aparelhos que as pessoas tiveram que mudar e dar mais conforto à rotina diária, como cadeiras e mesas de escritório, ring lights e tripés para transmissões com vídeo, e itens de cozinha.
Esse cenário vai exigir maior planejamento das importações, prazos maiores e custos maiores. Malumud acredita que o mercado vai acabar absorvendo. Ele acrescentou que muitas pessoas estão procurando rendas extras ou alternativas, importando para vender online no Brasil. "Nunca o mundo será o mesmo, mesmo passando a pandemia. Os negócios continuam, mudaram a forma de vender e o comportamento", disse o especialista.
O especialista em investimentos, Rodolfo Marques, destaca o crescimento do principal parceiro comercial brasileiro nos últimos anos. Ele elaborou uma lista com 10 empresas brasileiras que podem crescer com a reabertura e expansão do mercado entre Brasil e China. A relação inclui: Suzano e Klabin (papel e celulose); JBS, BRF e Minerva (proteína animal/frigorífico); CSN, Vale, Gerdau (minério de ferro); Iochpe Maxion (produção de rodas); e Weg (indústria de motores e geradores).
As empresas que exportam papel e celulose, por exemplo, exportam matéria-prima que pode ser transformada em papelão, muito demandado pelo e-commerce nesse período, além do papel higiênico, que é item diário. "O que torna estas empresas atrativas é que suas matérias-primas são fundamentais para essa expansão econômica chinesa. É um investimento mais arriscado, por se tratar de renda variável e de setores que são cíclicos, ou seja, dependem da performance da economia da China”, explica Marques.
20/12/2024
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