Quando Marcelo Queiroga disse que faria um trabalho de continuidade ao ser convidado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Saúde, o sinal de alerta acendeu de vez. Esse sentimento de urgência foi um catalisador de adesões dos setores produtivo e financeiro à carta elaborada por economistas com críticas à gestão da pandemia pelo governo.
As assinaturas trazem a público uma insatisfação que fermenta nos bastidores há meses entre empresários e banqueiros. Até então, poucos haviam exposto abertamente suas críticas à condução de uma crise sanitária e econômica que parece não ter fim.
“A carta revela a fragilidade do governo na condução da pandemia”, afirma Pedro Passos, um dos acionistas da Natura. Para o empresário, que é um dos mais de 500 signatários do documento, o Congresso tem se fortalecido nas discussões e deveria cobrar mais o governo federal nas ações sobre a crise.
Ao trazer nomes como os de Passos, dos banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, copresidentes do conselho de administração do Itaú Unibanco, e do presidente do Credit Suisse, José Olympio Pereira, a carta ganhou peso. Por outro lado, engrossou as iniciativas de mobilização do setor privado diante do colapso da saúde e, por tabela, da economia.
“A sociedade precisa se mobilizar \[diante da pandemia] para fazer a parte que lhe cabe, seja por meio de iniciativas próprias, seja influenciando as políticas públicas”, afirma Fábio Barbosa, sócio-conselheiro da Gávea Investimentos e um dos mais de 500 signatários do documento. Mas ele faz a ressalva de que a carta é sobre economia e não política.
Esse é o tom. Em geral, mesmo após a divulgação do documento, são poucos os que centram suas críticas a Bolsonaro de forma pública. Uma fonte do setor financeiro diz que o empresariado perdeu as esperanças de ver um bom trabalho do governo e decidiu agir.
Não é só a má gestão da pandemia que incomoda. Nas palavras de um executivo do setor bancário, o país entrou numa “zona de perigo” com a alta da inflação e a desvalorização cambial. Ao mesmo tempo, afirma, o governo flerta com o risco fiscal porque “Bolsonaro terá que ser cada vez mais Bolsonaro” para recuperar sua popularidade.
Ainda assim, de acordo com uma das fontes, não se fala em impeachment - menos por apreço ao presidente do que pelo custo de uma ruptura no meio da pandemia. A saída, diz, é o setor privado fazer o que puder para empurrar o barco para a frente. “Vamos remar a favor”, afirma.
Em outra iniciativa, executivos e empresários ligados ao Unidos pela Vacina, cujo objetivo é contribuir com a logística para ajudar no processo de imunização, se reuniram ontem para discutir como o setor privado pode ajudar o governo no período mais agudo da pandemia. “Entendemos que não é o momento de apontar o dedo. Temos de ajudar na influência e articulação a favor do país”, afirma, Eduardo Sirotsky Melzer, do grupo RBS e um dos sócios do fundo de private equity EB Captal. Ele tem sido um dos braços-direito da empresária Luiza Trajano. “Não vamos comprar vacina”, reitera.
Outro movimento empresarial, o Convergência Brasil, tenta emplacar a agenda de reformas. O grupo voltou a intensificar o corpo a corpo com parlamentares pela aprovação do Programa de Renda Mínima. Capitaneada por Elvaristo Amaral (ex- Santander), a frente defende a criação de uma contribuição complementar voltada à população mais pobre. Amaral defende que 30% da economia gerada com a reforma administrativa e dos recursos de privatizações sejam usados para bancar o programa.
Nos últimos dias, o grupo fez videoconferência com o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM) e deve agendar uma conversa com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Criado no ano passado, o movimento tem apoio de empresários da indústria, como Jorge Gerdau, e também de ex-ministros e técnicos do governo.
Paulo Uebel, ex-secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, tem ajudado Amaral a amarrar a agenda do grupo com a do governo. Segundo Uebel, a proposta pode ajudar a reduzir a resistência da sociedade civil e de partidos de esquerda às reformas. Para ele, a pauta tem um apelo social muito importante e pode gerar uma comoção a favor da emenda a ser apresentada à comissão que discutirá o conteúdo da reforma administrativa.
Uma das principais lideranças do agronegócio do país, Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura no governo Lula, também apoia o projeto. “É preciso fazer uma discussão mais ampla sobre esse tema”, diz.
Apoiadores da iniciativa, contudo, não acreditam que será uma discussão fácil em Brasília, pois avaliam que Bolsonaro tem um viés mais estatizante.
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