Se em 2020 a bienalidade positiva do café brasileiro gerou recorde de colheita, com 72 milhões de sacas – 53 milhões de arábica e 19 milhões de conilon –, o ano passado fez jus à menor expectativa de produção. O período 2021/22 começou sob altas temperaturas com períodos de seca mais intensos, e as condições climáticas apertaram ainda mais com as geadas que caíram sobre os cafezais nos meses de junho e julho. A previsão é de 56,7 milhões de sacas para a temporada atual, de acordo com o Rabobank. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) estima produtividade de 26 sacas por hectare, redução de 22,2% em relação à safra passada. É possível que os danos climáticos persistam até o próximo período e a tão aguardada supersafra de 2022 dificilmente se concretize.
Além do clima, há outras variáveis na equação do mercado de café. Para o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, “há dificuldades na saída dos produtos por conta das limitações de logística”. A falta de contêineres e de espaço nos navios impediu embarque de 3,7 milhões de sacas, entre janeiro e outubro de 2021. Os problemas no escoamento da produção impedem que se aproveite o mercado aquecido e reduzem a entrada de dinheiro no País. “Estamos exportando, mas poderíamos fazer mais se não fosse essa crise operacional”, afirmou. Segundo o executivo, o Brasil perdeu receita cambial de US$ 600 milhões em decorrência desse cenário.
Para o analista setorial do Rabobank, Guilherme Morya, enquanto os gargalos logísticos não forem amenizados, a comercialização de café ainda enfrentará dificuldades. “A alta no custo dos contêineres, a disponibilidade e o cancelamento dos bookings acabaram impactando esse fluxo do grão”. Safra recorde em 2022 poderia ser tanto boa notícia quanto problema. “Não conseguiríamos exportar”, afirmou Matos, diretor do Cecafé. A dobradinha clima e logística deve ditar o ritmo do ano.
Pela perspectiva do produtor, preço e receita tendem a continuar fortalecidos até o fim do primeiro semestre. Morya, do Rabobank, no entanto pondera, “Não podemos nos esquecer dos custos de produção, que subiram consideravelmente”. Para o analista, será mais importante que o cafeicultor avalie com rigor o melhor momento tanto para adquirir insumos quanto para vender sua produção, e dessa forma compor uma boa margem. Será um ano analítico e a saída é ter os custo na ponta do lápis.
O cenário traz desafios, incertezas e preocupação, mas apesar dessa combinação, caminha para estabilidade. Matos, do Cecafé, lembra que desempenhos recentes foram positivos, “convivemos com irregularidades climáticas desde 2013 e isso não impediu as safras de 2016, 2018 e 2020”, disse. O executivo afirmou que não acredita em produção recorde neste ano, mas não descarta a possibilidade para 2023. Se as condições das lavouras ainda não são ideais, enquanto o solo se recupera das secas e geadas, a chegada das chuvas em novembro do ano passado trouxe um respiro para os cafezais. As previsões da safra de 2022/23 apontam colheita com aproximadamente 63,5 milhões de sacas, e pode melhorar. De acordo com o relatório do IPEA, se as chuvas se mantiverem nas regiões cafeeiras no momento de floração, é possível reestabelecer a produção ao patamar de 72 milhões de sacas registradas em 2020.
Fonte: Dinheiro Rural
27/11/2024
Costa Filho defende avanços na agenda de sustentabilidade no mercado de aviação e navegação
Durante o seminário “Brasil rumo à COP 30”, realizado pela Editora Globo em parceria com a CCR, o ministro afirmou que o governo tem estimulado a contratação de navios "cada vez maiores" (...)