O presidente da Praticagem do Brasil e vice-presidente da Associação Internacional de Práticos Marítimos (Impa), Ricardo Falcão, avalia que um navio do porte do Ever Given tem grande risco de se descontrolar em um ambiente estreito. Ele explicou que, com 60 metros de boca, o navio que encalhou no Canal de Suez, na última terça-feira (23), tem apenas outros 60 metros para cada lado, considerando que ele é navegável somente em 180m, metade da largura da via marítima, que concentra 12% do transporte marítimo mundial.
Falcão frisou que ainda é muito cedo para se encontrar os responsáveis desse incidente. Ele disse, no entanto, que uma dos fatores que torna um navio ingovernável é aproximá-lo muito da margem, o que pode descontrolar a embarcação, gerando um efeito hidrodinâmico. Segundo o prático, esse é um dos principais riscos estudados nos treinamentos e simulações da categoria no Brasil. Ele citou que, na Amazônia, as embarcações se deparam em situações parecidas em rios como Jari e Trombetas.
Nesses eventos, é preciso muita perícia em muito pouco tempo para tentar guinar o navio de volta para o meio do canal. O prático salientou que tudo que se faz com um navio com as dimensões semelhantes às do Ever Given em lugar estreito para manobras traz consequências exponenciais. Falcão avalia que, se fosse um petroleiro derramando óleo haveria um prejuízo fenomenal ao meio ambiente. O presidente da Praticagem do Brasil, porém, não acredita que há ameaças de vazamento do cargueiro ou danos ambientais de grandes proporções.
Ele espera que as investigações apontem as causas do encalhe. Para o prático, dificilmente um navio desse porte e construído em 2018, não tem um VDR (Voyage Data Recorder) — equipamento utilizado como prova em acidentes e fatos da navegação. Esse sistema armazena uma série de áudios e informações, como ordens de leme, estado de máquinas, imagens do radar e do ECDIS (sistema de apresentação de cartas náuticas), funcionando para o navio como uma espécie de “caixa preta” de avião.
Um dos principais problemas para as autoridades em Suez e para os responsáveis pelo navio no momento é aliviar o peso do navio, tendo que retirar contêineres longe do cais e sem os guindastes apropriados. Equipes com rebocadores, dragas e retroescavadeiras tentam fazer o navio flutuar. O prejuízo total nos dois sentidos do tráfego no canal é da ordem de US$ 9 bilhões, de acordo com a Lloyd’s List.
20/12/2024
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