O segmento de cadeia fria no Brasil é muito amplo e envolve desde fabricantes de soluções, provedores de transporte, armazenagem, contêineres, validadores de tecnologias, sistemas, insumos até operadores logísticos. “Temos aproximadamente 25 empresas capacitadas a atuar no segmento de soluções ativas (caminhões refrigerados) e passivas (embalagens térmicas) de frio”, diz Kleber Fernandes, diretor para assuntos da Anvisa na Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol).
Mesmo com seu importante papel, ligado principalmente aos setores de alimentos e medicamentos, a cadeia fria passou a ter mais visibilidade a partir da pandemia, quando o transporte de vacinas, que requer temperatura baixas e controladas, ganhou destaque. Segundo a Global Cold Chain Alliance (GCCA), o Brasil está entre os 20 maiores mercados para a indústria de armazenamento a frio, com capacidade de cerca de 6 milhões de m3. A GCCA estima que o mercado brasileiro de logística da cadeia fria apresente uma taxa de crescimento anual superior a 8% no período de 2020 a 2025.
Com o isolamento social, houve aumento do consumo de alimentos e bebidas processados, impulsionando a demanda por espaço de armazenamento refrigerado e logística. Assim, enquanto vários setores sofreram grandes perdas, o setor de logística da cadeia fria viu seu movimento crescer, como conta Marcelo da Paixão, presidente da Taff Brasil. “Para nós, o ano de 2020 foi bom, pois enquanto a entrega para restaurantes caiu 90%, vimos a venda para o setor de varejo crescer mais de 80%, pois com o home office, o consumo alimentar mudou muito, com as pessoas comendo mais e em casa. Agora, com os restaurantes voltando à ativa, o movimento está crescendo a uma taxa média de 30% ao ano.”
Também no segmento de alimentos, a americana Martin Brower, há mais de trinta anos no Brasil, atende às principais cadeias de restaurantes, indústria alimentícia, grandes empresas e empreendedores individuais. Tem como clientes McDonald’s, Bob’s, Subway, Freddo, Giraffas, Pizza Hut, KFC, entre outros. A empresa conta com cinco centros de distribuição (CDs) e 10 pontos de cross-docking (sistema no qual o fornecedor, transportadora ou operador logístico recebe os produtos e os envia aos destinatários o mais rápido possível) espalhados pelo país, servindo mais de 4.500 restaurantes e entregando mais de 30 mil cargas por mês.
Na pandemia, a Martin Brower alterou diversos processos internos para garantir o trabalho remoto dos funcionários sem que houvesse impacto na operação. “Além disso, durante a pandemia nós diversificamos nossos negócios e lançamentos outros quatro segmentos, utilizando o nosso know-how, recursos e ativos internos”, informa a empresa em nota. Os maiores desafios do segmento de alimentos estão relacionados à padronização e qualificação dos serviços no mercado, além de garantir a segurança alimentar. “Do lado de infraestrutura, os investimentos em armazéns refrigerados são altos e, portanto, não se encontram disponíveis para pronta entrega no mercado, exigindo das empresas um planejamento de médio a longo prazo”, informa a Martin Brower.
Na área da saúde não foi diferente e em termos de logística de cadeia fria, a vacinação foi um grande desafio. Os operadores logísticos do segmento de saúde têm um componente a mais para se preocuparem: a resolução da diretoria colegiada 430/2020 – a RCD 430, da Anvisa, que dispõe sobre as boas práticas de distribuição, armazenagem e transporte de medicamentos.
Segundo Ramon Peres, gerente comercial e de marketing da Andreani, a RDC 430 eleva os custos das empresas. “Apesar desse aumento, que para a Andreani foi de 15% a 20%, a medida da Anvisa vem para trazer maior rigidez no controle de armazenagem e transporte dos medicamentos.”
A Andreani, de origem argentina e há 21 anos no Brasil, investe fortemente em atualização e manutenção para crescer. “Só no primeiro semestre aplicamos R$ 10,5 milhões com renovação de frota, treinamento e ampliação. Com isso, registramos crescimento de 22% no primeiro quadrimestre em relação ao mesmo período de 2021 em volumes transportados”, afirma Peres.
Para Roberto Vilela, presidente da RV Ímola, investimentos em manutenção, renovação de frota e inovação são fundamentais para manter o crescimento. “Investimos em torno de R$ 15 milhões por ano. No ano passado, nosso faturamento foi de R$ 265 milhões, e graças a novos CDs que inauguramos — temos 12 no total — esperamos fechar 2022 com faturamento na faixa de R$ 320 milhões.” Entre os desafios do setor, Vilela destaca as dimensões do país, com temperaturas variáveis, o que requer muito investimento em monitoramento.
A Temp Log, especializada em armazenamento, fracionamento e transporte para a indústria farmacêutica, registrou crescimento de 41% no número de clientes durante o primeiro semestre de 2022, se comparado ao mesmo período do ano passado. A estimativa é fechar 2022 com faturamento 30% a 40% maior e volume 30% acima do ano passado. A alta foi impulsionada pelo mercado da estética. “A empresa é responsável por 40% de toda a movimentação de toxina botulínica e ácido hialurônico no país”, afirma Ricardo Canteras, diretor comercial e de operações da empresa.
Segundo Canteras, o mercado de toxina botulínica, no ano passado, movimentou 2 milhões de unidades e R$ 1bilhão em vendas. Assim como outros players do segmento de medicamentos, Canteras diz que o maior desafio é seguir a RDC 430 da Anvisa. “É um avanço de que o país precisava e elimina concorrentes que não seguem as boas práticas. É bom para todos.”
Fonte: Valor Econômico