A guerra na Ucrânia limitou o fluxo de matérias-primas, que já estava sendo restringido por impasses logísticos, pelo mau tempo e por outros transtornos. O resultado foi a disparada dos preços.
Em março, um barril de petróleo Brent chegou a US$ 128, e o preço do gás europeu triplicou em relação ao que era apenas dois meses antes. O cobre, referência para todos os metais industriais, atingiu preço recorde de US$ 10.845 por tonelada. Os preços do trigo, do milho e da soja subiram em porcentagens de dois dígitos. O aumento turbinou a inflação, que, ao desafiar a credibilidade dos bancos centrais, deu às instituições outra razão para aumentar as taxas de juros.
No entanto, nas últimas semanas, os ventos mudaram de direção. O petróleo está sendo negociado por volta de US$ 100 o barril. O cobre caiu para menos de US$ 8 mil a tonelada pela primeira vez em 18 meses; os metais no geral caíram de 10% a 40% desde maio. Os preços das commodities agrícolas estão de volta aos níveis de antes da guerra. A redução talvez alimente as esperanças de que a inflação será derrotada em breve. Mas a sensação de vitória pode se mostrar sem sentido – se é que vai existir alguma.
Desaceleração
Uma explicação para a queda dos preços das commodities é que as preocupações com uma recessão estão ganhando terreno. Nesta perspectiva, o aumento das taxas de juros está esfriando o mercado para novos imóveis, enfraquecendo a demanda por materiais de construção como cobre e madeira, e reduzindo os gastos com roupas, eletrodomésticos e carros, o que, por sua vez, prejudica tudo, do alumínio ao zinco. Além disso, alguns dos problemas de abastecimento que contribuíram para o aumento dos preços no início do ano diminuíram – o clima nas regiões produtoras de grãos melhorou, por exemplo. Enquanto isso, a ONU está tentando acabar com o bloqueio aos carregamentos de trigo da Ucrânia.
Para os bancos centrais, essa é uma notícia ambivalente. Ela sugere que a inflação talvez seja vencida, embora eles tenham apenas começado a ajustar a política monetária. É verdade que isso pode vir acompanhado por uma recessão, mas, como a inflação seria controlada sem que as taxas de juros precisassem subir demais, a retração seria, talvez, pelo menos superficial.
Outras causas
As preocupações com a economia não são a única força empurrando os preços para baixo. Grande parte do dinheiro que fugiu das commodities, segundo especialistas do setor, não pertence a comerciantes físicos, mas a especuladores financeiros. Na semana até 1.º de julho, cerca de US$ 16 bilhões jorraram dos mercados futuros de commodities, elevando o total do ano até agora para um recorde de US$ 145 bilhões, de acordo com o banco JPMorgan Chase. Em parte isso reflete o aumento das taxas de juros. Em maio, as taxas de juros reais a longo prazo nos EUA ficaram positivas pela primeira vez desde 2020. Isso tornou as commodities, que não oferecem rendimentos, menos atraentes para os especuladores.
E sugere que a inflação do preço das commodities talvez não tenha sido atingida. As movimentações motivadas pelas oscilações da taxa de juros reais costumam durar pouco, diz Tom Price, do banco de investimento Liberum. A última vez, em 2013, os preços estabilizaram em semanas. As cotações também são sensíveis a transtornos. Os estoques de commodities continuam 19% abaixo da média histórica em um momento de produção limitada, o que significa que há menos proteção contra surpresas.
Mesmo que alguns problemas de abastecimento tenham diminuído, outros desafios persistem. Os preços da energia ainda são vulneráveis aos caprichos de Vladimir Putin. A energia salgada, por sua vez, poderia fazer com que os produtores de metais reduzissem ainda mais o volume de produção, tornando-o ainda mais limitado. E o retorno do La Niña, fenômeno natural que altera o clima de forma severa, pelo terceiro ano consecutivo pode atrapalhar as colheitas de grãos em todo o mundo. Em outras palavras, os preços podem permanecer altos, mesmo que uma recessão surja.
Fonte: Estadão