Dados do Fórum Econômico Mundial apontam que deve levar em torno de 136 anos para que a paridade de gênero se torne uma realidade. Diante dessa estimativa, que está relacionada à participação econômica e oportunidade, educação, saúde e capacitação política, fica clara a necessidade de projetos que ofereçam protagonismo ao público feminino. E foi exatamente isso que um grupo de mulheres mostrou, na tarde desta quarta-feira, durante o painel "O protagonismo feminino na logística brasileira", durante o Fórum Logtechs, organizado pela Biz Events. Os debates foram mediados pela diretora executiva da ABOL, Marcella Cunha.
Para subsidiar as discussões, a executiva da entidade trouxe números de uma pesquisa realizada recentemente pela Associação junto às suas filiadas, cujo resultado mostrou uma variação entre 20% e 50% de força de trabalho feminina dentro das empresas, maioria concentrada em cargos administrativos. Por outro lado, o levantamento destacou um aumento na contratação de mulheres ao longo dos últimos cinco anos. "Infelizmente, observamos que as mulheres seguem como minoria, ainda que sejam as mais preparadas e capacitadas. Isso mostra que ainda há relação direta entre gênero, salário e posição nas corporações", afirmou.
A visão da executiva foi corroborada pelas participantes do evento. Não é à toa que elas atuam efetivamente, oferecendo espaço e incentivando a participação feminina em uma área majoritariamente masculina. "Quando entramos num mercado competitivo é a nossa postura que vai trazer a transformação e o meu objetivo foi justamente participar dessa mudança para que amanhã a gente pare de dizer que isso é um problema. Meu desejo, por exemplo, é que em breve possamos participar de outros paineis, não sendo necessária a existência de um como este, voltado especificamente para tratar da questão das mulheres", disse a cofundadora e COO da Venuxx, Gabrielle Jaquier.
A Venuxx é a primeira solução de logística personalizada do Brasil capaz de conectar uma rede de mulheres especialistas e capacitadas – e seus veículos – para atuarem como plataforma de entrega de alto valor agregado. Garantir uma experiência satisfatória ao cliente é a principal missão da Venuxx. E para Gabriela, a mulher por si só tem várias características positivas diretamente alinhadas ao foco da empresa, como compromisso, comprometimento e capacidade de fazer diversas coisas, entregando mais qualidade.
"Isso se funde totalmente com o momento da logística, de se reinventar o tempo todo. Olhamos para essa questão na hora de desenvolver o produto ou definir as políticas a serem adotadas. Quando trazemos esse olhar complementar de diversidade de pensamento e colocamos a mulher na liderança, já provocamos pensamentos que não teríamos dentro da organização. Eu provoco esses temas na contratação e no dia a dia operacional. Pensamentos divergentes trazem enriquecimento e é isso que precisamos para a logística", afirmou Gabriela.
Fundadora e CEO da Flows, Anna Valle, descobriu, logo no primeiro estágio, em início de carreira, que a logística ia muito além de levar um objeto de um lugar para o outro. O resultado foi uma paixão pela área e, mais do que isso, a responsabilidade por mostrar para outras mulheres que elas podem, sim, integrar esse universo considerado apenas masculino. E a capacidade do setor de despertar paixões é, exatamente, um dos motivos para que as mulheres também estejam inseridas nesse mundo.
"Na flows não existe barreira em relação ao gênero, o nosso time é composto em sua maioria por mulheres na liderança. Uma diferença que observamos hoje é que antes as mulheres eram responsáveis pelo desenvolvimento de projetos, mas não eram protagonistas. Elas precisam ter consciência de que podem se impor, mostrar que têm conhecimento. Logística traz brilho nos olhos, paixão por gente e mulher tem essa questão de se apaixonar. Temos desafios gigantescos, mas oportunidades maiores ainda", afirmou Anna.
A Flows é uma plataforma intuitiva, com dados obtidos em tempo real, por meio da utilização de Inteligência Artificial, integração de sistemas, automação por meio de robôs e uso de APIs.
Para a fundadora e CEO da WE Impact, Licia Souza, divergências são ricas para que sejam construídas soluções sólidas, que tragam valor para a sociedade. Ela observa a própria proposta de uma startup, que é de trazer inovação, transformação e agilidade, como representativa para colaborar com a mudança necessária, quando se trata de equidade de gênero. "Acreditamos que trazer esse enfoque para o lugar da tecnologia e das transformações, é fazer o impacto positivo escalável, inserindo o protagonismo feminino nessa nova economia. Não queremos esperar o tempo apresentado pelo Fórum Econômico Mundial. Crescimento acelerado temos aqui", disse Licia.
A WE Impact é a primeira venture builder dedicada a mulheres líderes de startups. A empresa acredita na diversidade aliada à tecnologia como driver de inovação e, por isso, ajuda empreendedoras e mulheres em posição de liderança a construírem startups tecnológicas, escaláveis e globais. "Se a gente traz essas mulheres para o protagonismo e para o ambiente de startups, estamos dando oportunidade de talentos aparecerem. Investir nesses talentos e ajudar que eles cresçam. Precisamos partir para uma ação efetiva e agir para mudar o cenário que existe. Não podemos nos afastar pela diferença".
O final do painel foi marcado pelo incentivo das participantes para que outras mulheres sigam pelo mesmo caminho, certas de que estão prontas para serem líderes e ingressarem em qualquer tipo de mercado. "É importante estimular desde cedo, dentro de casa, que meninas se interessem por tudo, visitem portos, pesquisem aquela encomenda tão esperada comprada pelo e-commerce, conheçam mais as etapas logísticas. Tenho certeza de que esse mundo dinâmico encantará jovens mulheres que ainda não o conhecem e que podem vir contribuir com o seu desenvolvimento no futuro", mencionou a diretora executiva da ABOL.