05/10/2020

Reino Unido tenta garantir importação “livre de desmate”

 Reino Unido tenta garantir importação “livre de desmate”


Termina hoje uma consulta pública sobre importações de commodities que poderá resultar em regras mais rígidas para as compras de produtos como soja e carnes

O Reino Unido encerra hoje uma consulta pública sobre importações de commodities. A iniciativa, pouco comum, deve ter como resultado uma nova lei que obrigará grandes empresas a garantir cadeias de fornecimento livres de desmatamento. A estratégia é vista como um exemplo do que está sendo chamado de “'barreiras reputacionais” e pode afetar as exportações brasileiras.

A iniciativa começou em 26 de agosto. O governo britânico havia encomendado à Global Resource Initiative, uma força-tarefa independente formada por empresários, ONGs e pessoas ligadas ao governo e ao sistema financeiro, ações que poderiam tornar as cadeias globais de suprimentos mais sustentáveis. “Muitos dos produtos que compramos usam ingrediente produzidos em países onde há alto risco de desmatamento”, diz o texto da consulta no site do Defra, o equivalente ao Ministério do Meio Ambiente e Agricultura.

A conclusão do GRI foi entregue em março com a recomendação-chave que o governo introduza um sistema obrigatório de “due dilligence” ou “diligência prévia”. A intenção é elaborar uma nova lei que proteja florestas e o clima.

O governo britânico justifica a medida como forma de chegar às forças econômicas que possam estar no centro do desmatamento. O ministro do Ambiente e Agricultura, George Eustice, escreveu à ministra Tereza Cristina e a convidou para consultas sobre o tema, assim como outros parceiros. “O mercado se transformou e há maior demanda, particularmente no Reino Unido, de consumidores e investidores que buscam produtos sustentáveis. Não é uma medida protecionista”, afirma uma fonte. “Não é o governo dizendo isso. É uma mudança de mercado.”

O governo britânico faz clara diferença entre desmatamento legal e ilegal. A nova lei pelo controle das commodities importadas será aplicada somente às grandes empresas. Segundo o governo de Boris Johnson, o Reino Unido consome volumes importantes de sete commodities cuja rápida expansão é associada com desmatamento e frequentemente em contravenção com leis locais: carne bovina, couro, soja, celulose e papel, borracha e óleo de palma.

A proposta pode tornar ilegal para grandes empresas o uso de commodities com risco florestal - ou seja, que não tenham sido produzidas de acordo com as leis locais. As companhias precisariam realizar a “devida diligência” para mostrar que tomaram iniciativas para garantir que isso seja o caso. Quem não cumprir a exigência estará sujeito a sanções.

Na visão de Rodrigo Pupo, advogado especialista em comércio internacional da MPA Trade Law, em São Paulo, esse é o tipo da chamada barreira reputacional que não viola nenhuma regra multilateral e atinge em cheio mesmo empresas que cumprem os mais rigorosos padrões de sustentabilidade, os critérios ESG ambientais, sociais e econômicos.

A barreira reputacional do país tem o efeito de respingar em outros segmentos e outras empresas que já estão se antecipando aos problemas. O mínimo que se pode dizer é que a reputação do Brasil na área ambiental, no momento, é catastrófica.

Pupo nota que a iniciativa do Reino Unido contrasta com a “'Farm to Fork” da União Europeia. Os britânicos visam adotar a lei do país de origem da importação para determinar se o produto é ilegal ou não. Não impõe extraterritorialidade de seus padrões ou instiga a formulação de padrões mais aceitáveis aos britânicos. Também não implica em obstáculo na fronteira contra importações.

Na prática, joga para o governo brasileiro a obrigação de demonstrar publicamente, com dados e informações, que tem feito o “enforcement” de sua própria lei e não meras campanhas de imagem.

É uma postura menos combativa mas não necessariamente menos eficiente, do que a UE está estudando, avalia Pupo. Pode pegar toda a cadeia de suprimento e ter impacto na decisão do varejista de não comprar o produto importado pelo risco de auditoria e danos à imagem.

Fonte: Valor Econômico

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