A reforma tributária em discussão no Congresso deverá provocar mudanças na localização da malha logística do país, segundo levantamento da consultoria Ilos, que ouviu 86 grandes grupos de diferentes segmentos. A expectativa da maior parte das empresas ouvidas é que as novas regras gerem o reposicionamento dos centros de distribuição.
O principal aspecto da reforma tributária para o setor logístico - caso não haja mudanças significativas no texto final da lei - será o fim da cobrança do ICMS na origem da mercadoria. A proposta da nova regra, que busca acabar com a guerra fiscal entre Estados, é que a tributação seja cobrada no destino das cargas e serviços, beneficiando os locais com maior consumo, em detrimento daqueles que hoje oferecem redução fiscal para atrair empresas e investimentos.
Minas Gerais hoje é apontada como líder na “guerra fiscal da logística”. Segundo o levantamento, o Estado concentra 27 centros de distribuição com benefícios fiscais, enquanto o segundo colocado, Santa Catarina, conta com 11 centros de distribuição nessa situação. Procurado, o governo mineiro não se manifestou a respeito do tema.
Para Leo Laranjeira, sócio-executivo da Ilos, a reforma tributária não deverá provocar uma transformação rápida na malha logística do país. Ele destaca que a estrutura atual das empresas é rígida, principalmente devido aos elevados investimentos necessários para sua implementação. Portanto, a expectativa é que as novas regras, se aprovadas, deverão pesar principalmente na decisão de novos centros.
“Alterar o que já existe é mais difícil. Além do custo de investimento, há muitos contratos vigentes, e rompê-los acarretaria em multas. Há também uma dificuldade para achar imóveis adequados às necessidades das empresas. Fora isso, existe a necessidade de mobilização de mão de obra. Nem todos os funcionários vão querer se mudar, há um custo grande nessa mudança, além do impacto econômico na região. Então o que se espera é uma mudança gradual para algo mais próximo do desejado com a nova configuração tributária”, diz ele.
Hoje, a questão tributária é um fator determinante na escolha da malha logística - trata-se de um aspecto com relevância alta ou muito alta para 78% das empresas ouvidas pela Ilos.
Mesmo sem a versão final do texto, 56% das companhias consultadas já começaram a analisar os impactos da reforma; 41% delas ainda não iniciaram estudos, mas pretendem fazê-lo.
Além do reposicionamento dos centros logísticos, a pesquisa também identificou uma expectativa de efeito sobre os custos logísticos com a reforma. Para 41% das empresas, haverá queda, mas uma parcela expressiva, de 30%, também prevê aumento. Na avaliação de Laranjeira, a reforma tende a reduzir os custos logísticos. “É contraintuitivo [acreditar que haverá alta], mas alguns fatores podem estar levando a essa percepção, como a previsão de aumento da carga tributária no geral, um impacto em preços de combustíveis. Mas não vejo motivos relevantes”, afirma.
Para ele, outro possível impacto da reforma, a depender de como ficará a versão final, é o maior incentivo à contratação de operadores logísticos terceirizados. “Se o imposto for não cumulativo, algo que o texto prevê, mas que não está 100% claro, pode haver o efeito de baratear a terceirização das empresas. Nesse caso, não terá diferença de tributação entre ter armazém próprio ou contratar de um terceiro. Isso pode elevar a demanda para operadores logísticos”, avalia.
Fonte: Valor Econômico