Em seu penúltimo dia como diretor presidente e CEO da ABOL - Associação Brasileira de Operadores Logísticos, Cesar Meireles, mediou, nesta terça-feira, a primeira live do Conselho Internacional do Brasil Export, cuja presidência foi assumida pelo executivo recentemente.
O encontro virtual teve como tema Conectividade das nações no âmbito da infraestrutura, logística e tecnologia, nos próximos dez anos. Para falar sobre o assunto, foram convidados Cláudio Frischtak, economista e presidente da Inter. B – Consultoria Internacional de Negócios, Nadir Moreno, presidente da UPS Brasil, e Roberto Giannetti da Fonseca, economista, sócio-fundador da KWP Energia e presidente da Kaduna Consultoria.
A abertura foi feita pelo CEO do Brasil Export, Fabricio Julião, que aproveitou a oportunidade para agradecer Meireles pelo grande legado deixado ao setor, após oitos anos e meio à frente da ABOL. “Costumo dizer que o nome dele é Carlos Cesar Abol Meireles. Parabéns pelas grandes conquistas e obrigado por toda a dedicação”, destacou Julião.
Antes de chamar os participantes, Meireles fez uma breve exposição, instigando os debates e questionando a nova realidade que está por vir. “Como conectar ou reconectar as nações através da infraestrutura logística inteligente e da tecnologia de ponta? No último dia 23 de março, um mega-carrier conteineiro encalhou e fechou o Canal de Suez por seis dias. Para uma obra de 151 anos com a realidade atual tão distinta do período da sua fundação, luzes amarelas acenderam para uns e vermelhas para outras. Qual será o real impacto disso tudo na conectividade entre as nações?”
Para o executivo, não é mais possível sermos um país ainda muito fechado! Na América Latina, é inadmissível ainda estarmos, em muitos projetos de costas uns para os outros, pois todos formamos um bloco de inúmeras oportunidades. “O Brasil e o mundo estão na virada do modelo energético e estamos diante da era 5G. Como será, então, o novo normal? Veículos elétricos, carros, caminhões, drones, aviões, navios, alguns não tripulados, já são uma realidade irreversível no mundo e já atingiram o non return point! E no Brasil como será?
Segundo ele, a tragédia da pandemia, que já ingressa no segundo ano, mudou a lógica mundial, mexeu no just in time e mexeu também na matriz de produção para muitos setores. “O e-commerce mostrou-se dinâmico, voraz e irreversível nessa conectividade global. Queremos vacinas, queremos o retorno da normalidade da vida, mas como conectar esse mundo nessa nova realidade? Infraestrutura, logística e tecnologia são matérias de fato amalgamadas?”.
As respostas ficaram para os especialistas. Frischtak observou que a infraestrutura de transportes no Brasil apresenta gargalos que remontam ao século XIX. De 2001 a 2020, disse o economista, a média de investimentos no setor foi o equivalente a 0,67% do PIB. “É muito pouco, deveríamos estar investindo 1,95% do PIB, segundo cálculos da consultoria e publicados pelo IPEA. É um gap de 96 bilhões de reais por ano, incluindo todos os modais e também a mobilidade urbana”.
"Para chegarmos a um nível razoável em matéria de infraestrutura logística, deveríamos investir cerca de 1,95% do PIB por 20 anos seguidos, e não me refiro à níveis fronteiriços, apenas razoáveis", enfatiza Frischtak.
No setor de telecomunicações, o gap é menor, o que não significa menor importância, tendo o Brasil investido 0,56% do PIB em média nos últimos 20 anos, um pouco abaixo do índice de 0,71% esperado e calculado pelo instituto de pesquisas. O economista destacou a necessidade de atrair investimentos privados, já que o Poder Público não dará conta de atender a esses aportes. Os investimentos, ressaltou, também precisam ser contínuos para que o País possa modernizar sua infraestrutura de transportes e de telecomunicações.
Com a responsabilidade de comandar no Brasil as operações de uma companhia com presença em 220 países e com uma frota superior a 100 mil veículos, Nadir Moreno afirmou que tecnologia e inovação são os dois fatores essenciais para proporcionar a aceleração dos negócios e a mitigação de barreiras comerciais. “A UPS está focada em transformação. Em 114 anos de existência tivemos 4 ou 5 transformações distintas, preparando a empresa para o futuro, mas desta vez \[a transformação] é contínua e estamos nos movendo mais rápido do que nunca”.
As pequenas e médias empresas estão muito envolvidas com o comércio eletrônico e buscam soluções logísticas para crescer e superar obstáculos comerciais. A empresa já dispõe de mais de 8 mil veículos com tecnologia avançada e combustível alternativo. De acordo com Nadir, o uso de caminhões e carros autônomos pode reduzir custos médios em até 30% nas operações nos Estados Unidos, além de colaborar para minimizar congestionamentos e poluição nas comunidades em que atuam.
Com passagens marcantes por órgãos de Governo, Roberto Giannetti enfatizou que a sociedade precisa pressionar o Poder Público para a implantação da tecnologia 5G no País. A previsão é de que o 5G impulsione o crescimento do PIB global em US$ 3 trilhões no período de 2020-2025. Segundo o economista, essa é uma grande oportunidade para o Brasil agir e recuperar mais rapidamente a sua economia. Do contrário, ficará para trás no ambiente mundial de competição. “O investidor gosta de chão firme, gosta de previsibilidade, e isso está um pouco prejudicado no momento com a instabilidade macroeconômica atual”.
Giannetti também utilizou o espaço para dizer que os brasileiros precisam aprender a ter cultura exportadora. “Costumo usar uma frase que é: ‘não basta ser competitivo, é preciso vender melhor'”. E nesse momento, prosseguiu, de ociosidade da indústria, de desemprego e de câmbio a R$ 5,80 \[por US$ 1] as exportações de produtos manufaturados estão caindo. Isso acontece, segundo Giannetti, por “falta de ânimo exportador” e por falta de uma política governamental eficiente de comércio exterior. “Coreia e China exportavam igual ao Brasil em 1985, em torno de 25 bilhões de dólares. E olha hoje, 35 anos depois: eles nos dão de goleada, 7 a 1. Estamos passando vergonha no comércio exterior”.
20/12/2024
Vagas no setor de logística crescem 94,7% de janeiro a outubro, segundo BNE
O setor de logística tem registrado um ritmo acelerado de contratações no Brasil. Entre janeiro e outubro de 2024, o número de vagas abertas cresceu 94,7% em relação ao mesmo período de (...)