Um transporte mais automatizado e customizado, essa deverá ser a tendência para os próximos anos no setor logístico. As mudanças foram aceleradas, principalmente, após a propagação da Covid-19, mas deverão ser mantidas mesmo a pandemia enfraquecendo.
“Deixamos de ir às lojas para comprar muitas coisas e ficamos em casa a encomendar pela Internet o que queríamos”, aponta o sócio-gerente da Olano Portugal Logística e Distribuição, João Logrado Batista. O empresário acrescenta que são novas oportunidades de negócios que se apresentam.
Ele defende que a logística precisa se adaptar à realidade, sendo mais colaborativa, digital e com o uso da inteligência artificial para buscar a rentabilidade. “O consumidor decide onde quer, como quer e o que vai receber”, enfatiza. O jornalista e sócio-gerente da Dicas & Pistas de Portugal, José Monteiro Limão, concorda que a pandemia trouxe alertas quanto à necessidade de mudar e adequar a operação logística para um mundo diferente.
Ele cita que a Covid-19, conforme dados de 2021, jogou em torno de 4,3 milhões de europeus na pobreza (ganhando menos de US$ 5,5 por dia). Particularmente na área de movimentação de cargas, as receitas do transporte rodoviário de mercadorias na União Europeia (composta por 27 países) caíram 17% em 2020, em relação a 2019. Já a média de toneladas transportadas diminuiu em 3,8%.
Com a expectativa de um setor mais saudável e aprimorado depois da pandemia, Limão frisa que a intermodalidade será um fator importante para o desenvolvimento da atividade logística.
De acordo com o jornalista, um dos pontos que precisa ser mais observado, principalmente no Brasil, é o modal ferroviário. “Porque o caminhão não é feito para realizar viagens de 5 mil ou 10 mil quilômetros para entregar pouca carga, não faz sentido”, salienta.
O sócio-gerente da Dicas & Pistas de Portugal ressalta que a pandemia demonstrou que o setor logístico pode ser mais eficiente, com melhor desempenho econômico.
“Os transportadores rodoviários não precisam se assustar, porque vão se adaptar. O negócio não é fazer o transporte por mais quilômetros, o negócio está em transportar cargas”, comenta. Limão e Batista palestraram nesta quarta-feira (15) na 22ª TranspoSul – Feira e Congresso de Transporte e Logística, que se encerra na quinta-feira (16), no Centro de Eventos da Fiergs, em Porto Alegre. Além dos debates sobre as perspectivas para o setor, o evento é um ambiente em que diversas empresas prospectam oportunidades de negócios.
O gerente regional de vendas da Mercedes-Benz do Brasil, Fernando Michetti, assinala que a feira permite fazer um trabalho institucional e comercial ao mesmo tempo. “É uma excelente ocasião para mostrar produtos e serviços”, destaca o dirigente. A companhia levou para o evento veículos de segmentos que vão do extra-pesado (como o modelo Arocs, com capacidade para até 58 toneladas de carga) até os leves.
Já o diretor-executivo da Delta Global, Nícolas Galvão, diz que a TranspoSul está demonstrando o potencial do setor de movimentação de cargas. A empresa atua no campo de serviços e tecnologia para o mercado de transporte e logística operando com transportadoras e seguradoras.
Para Galvão, a tendência da tecnologia nos caminhões indica o emprego cada vez maior de sensores e softwares mais precisos. “A estrutura de 5G também aumentará muito a velocidade de transmissão de dados”, reforça o diretor-executivo da Delta Global. No entanto, ele alerta que não basta a tecnologia avançar, o transportador precisa estar preparado para aproveitar as informações que terá à disposição.
Um dos chamarizes da TranspoSul neste ano foi a participação de caminhões elétricos. A Volkswagen Caminhões e Ônibus aproveitou a feira para apresentar, entre outros produtos, o seu modelo de veículo nessa categoria.
O diretor adjunto de vendas, marketing e pós-vendas da empresa, Sérgio G. Pugliese, informa que o caminhão 100% elétrico é produzido na planta da companhia em Resende (RJ) e há uma capacidade de fabricação de até 500 unidades ao ano. Ele detalha que cerca de 60% das peças são comuns ao do similar movido a diesel, mas o que o torna diferente é fundamentalmente o seu motor elétrico. Entre os benefícios do modelo, Pugliese aponta o menor impacto ambiental, com a substituição do uso do combustível fóssil, e o menor ruído gerado quando o veículo está se movimentando. “Essa é uma vantagem para uma operação noturna em um centro urbano, não incomodando as pessoas à noite”, argumenta.
Como toda tecnologia nova, o caminhão elétrico também é mais caro do que os produtos convencionais. O diretor adjunto de vendas, marketing e pós-vendas da Volkswagen Caminhões e Ônibus informa que o veículo hoje custa quase três vezes mais que um modelo a diesel. Porém, ele argumenta que a perspectiva é de a diferença diminuir com o passar do tempo, com o avanço tecnológico, e mesmo hoje o produto já desperta o interesse de empresas com políticas de ESG (Environment, Social and Governance) ou com metas de redução de emissões.
Como o caminhão da Volkswagen na TranspoSul estava disponibilizado para test drive, o aposentado Fábio Salvatti Pêra aproveitou a chance e aprovou a experiência. Ele comenta que a característica que mais chama a atenção no veículo elétrico é a sua operação silenciosa. Pêra acredita que esses produtos devem se difundir no País, mas ainda terão que superar obstáculos como o preço mais elevado e o limitado número de pontos em que é possível fazer a recarga.
Fonte: Jornal do Comércio