O setor de infraestrutura poderá gerar R$ 173,1 bilhões de novos investimentos privados até 2027. Deste valor, R$ 96,2 bilhões já estão contratados, pois se referem a projetos licitados desde 2019. Os demais R$ 76,9 bilhões estão previstos em licitações que deverão sair nos próximos anos. Os dados, obtidos em primeira mão pelo Valor, são do Livro Azul da Infraestrutura, publicação anual da Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), que reúne todos os projetos federais, estaduais e das principais cidades do país.
Apesar do volume expressivo, o montante segue muito aquém do necessário para reduzir os gargalos do Brasil, avalia Venilton Tadini, presidente-executivo da entidade. A associação calcula que seria preciso investir em infraestrutura R$ 374 bilhões por ano, ao longo da próxima década, entre recursos públicos e privados.
Os leilões realizados nos últimos quatro anos já geram um impacto positivo. Em 2022, deverá haver um aumento de 10% no valor total de investimentos no setor, que chegarão a um total de R$ 163 bilhões, entre aportes públicos e privados, contra R$ 148,2 bilhões em 2021. No entanto, o hiato entre as obras necessárias e as realizadas continua muito alta: neste ano, será de R$ 211 bilhões.
Mesmo com a perspectiva de novos investimentos privados para os próximos anos, as projeções da Abdib apontam que o montante total não deverá chegar nem mesmo ao patamar de 2014, quando o valor chegou a um pico de R$ 207,5 bilhões (número ajustado a preços de 2021).
Para uma retomada, Tadini afirma que será necessário elevar de forma significativa o investimento público no país.
“O programa de concessões terá continuidade, tanto no governo federal quando nos Estados, é algo irreversível e muito positivo. Porém, o aumento significativo dos investimentos privados não será capaz de compensar a queda grande que temos visto no aporte público. Existe um limite para o corte de recursos do orçamento”, afirma o presidente da entidade.
Para ele, o setor de transporte e logística — que inclui os segmentos de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e mobilidade urbana — deverá ser o foco principal dos próximos governos.
Primeiro, porque se trata de um setor que ainda está em grande medida sob responsabilidade do poder público. “Áreas como energia e telecomunicações já estão nas mãos de grupos privados. Mas em transporte e logística há limitações de transferência à iniciativa privada, por questões de escala e de retorno, que nem sempre atraem”, diz Tadini.
Além disso, este é o segmento com a maior defasagem de investimentos no país. Em 2021, foram alocados R$ 30,1 bilhões no setor. A Abdib calcula que seria necessário investir, por ano, R$ 196,2 bilhões na área.
O volume atual de investimentos deverá ter um salto grande nos próximos anos, diante das novas concessões firmadas e renovadas recentemente e aquelas que deverão ser licitadas no curto prazo. A estimativa da Abdib é que em 2023 o valor total chegue a R$ 47,6 bilhões e, em 2024, a R$ 60,3 bilhões — considerando setor público e privado. Porém, ainda assim, o hiato persistirá.
“Melhoramos muito com o avanço de participação privada, mas não resolveremos os gargalos sem recursos públicos”, diz.
Uma das principais pautas defendidas pela Abdib é a revisão do atual teto de gastos e a substituição por uma regra fiscal que permita a retomada dos investimentos públicos, somada a reformas que reduzam as despesas correntes do governo. “O Brasil fez, nos últimos anos, um ajuste fiscal da pior qualidade, porque o país está comprometendo seu capital físico”, afirma.
Além disso, Roberto Guimarães, diretor de Planejamento e Economia da Abdib, aponta que é possível usar os recursos públicos para alavancar os privados a partir de PPPs (Parcerias Público Privadas). “Quando o governo federal coloca R$ 10 bilhões em um projeto em que o setor privado vai aplicar outros R$ 10 bilhões, há um efeito multiplicador.”
Em relação aos leilões de infraestrutura, que nos últimos anos tiveram um avanço importante, Tadini afirma que não observa risco de descontinuidade.
Ao todo, considerando iniciativas do governo federal, dos Estados e das principais cidades do país, a Abdib mapeou 432 projetos em curso, que somariam ao todo R$ 543,5 bilhões de investimentos. O presidente da entidade destaca que o levantamento é feito juntamente com cada equipe local, que valida os dados.
Em um cenário de mais curto prazo, até 2027, a entidade identificou uma perspectiva de investimentos de R$ 173,1 bilhões, entre os contratos licitados desde 2019 (cujas obras iniciais estão em curso) e os leilões previstos para os próximos anos (no cronograma atual dos governos). A conta inclui projetos de transporte e logística, saneamento básico e infraestrutura administrativa e social.
Neste recorte, o setor de rodovias é aquele que deverá gerar mais obras entre 2023 e 2017. Na sequência, vêm os segmentos de ferrovias e saneamento básico.
Os resultados do segundo turno das eleições foram bem recebidos pelo setor de infraestrutura. Segundo pesquisa realizada pela Abdib e pela EY, logo após a conclusão do pleito (entre os dias 31 de outubro de 9 de novembro), houve uma melhora na percepção do mercado em relação ao comportamento futuro das concessões, segundo Guimarães. Tanto esta pesquisa quanto o Livro Azul serão divulgados em evento virtual da Abdib, nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro.
Fonte: Valor Econômico