A pouco mais de sete meses das eleições, a escalada do preço do petróleo se tornou problema central para o presidente Jair Bolsonaro. A ameaça de que a commodity faça a inflação disparar, após um 2021 em que os consumidores já viram seu poder de compra diminuir, fez o governo e o Congresso colocarem propostas na mesa consideradas, por grande parte dos analistas, populistas e contraproducentes.
Apesar de contrários às medidas, economistas concordam que o preço do petróleo ameaça a inflação e a atividade em um ano em que a economia enfrenta desafios. Do lado da inflação, a desvalorização do dólar (que começou o ano valendo R$ 5,57 e fechou a semana em R$ 5,24) ameniza a alta do petróleo. Mas a expectativa é de que, com a proximidade das eleições, esse efeito seja anulado - e a inflação suba ainda mais.
“Vemos um cenário de incertezas à frente. O câmbio pode ficar entre R$ 5,50 e R$ 5,60 quando o mercado precificar que o próximo governo vai ter dificuldade fiscal. Aí, com o petróleo tateando os US$ 100, haverá mais um elemento de pressão. Com isso, provavelmente, vamos ver a Petrobras subindo o preço do combustível”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, destaca que, apesar da alta do petróleo, a inflação não deve repetir em 2022 uma trajetória como a do ano passado, quando alcançou 10%. “Mesmo que o petróleo se aproxime de US$ 100, o impacto será menor se comparado ao da alta do barril de US$ 40 para US$ 80”, diz. A economista, porém, reconhece que, para o consumidor, cujo poder de compra já se deteriorou em 2021, o efeito é considerável.
Produção
Para Rodolfo Margato, economista da XP, a consequência do petróleo nas alturas será mais sentida na atividade econômica. Além de a alta na cotação reduzir o consumo - dado que a população terá uma renda disponível para compras menor -, prejudicará cadeias produtivas. “O custo de produção da indústria, principalmente logístico, vai aumentar. Em muitos casos, não será possível repassar ao consumidor. As empresas reduzirão margens e investimentos”, diz.
Para tentar aliviar a situação, o governo e o Congresso propõem reduzir impostos sobre combustíveis, dar auxílio-diesel a caminhoneiros, subsidiar o transporte público e aumentar o vale-gás para famílias de baixa renda. Dependendo do que for aprovado, o impacto fiscal dessas medidas pode chegar a R$ 100 bilhões, valor superior ao orçamento do Auxílio Brasil, que é de R$ 89 bilhões.
“Vamos abrir mão de uma arrecadação expressiva sem a mínima garantia de que vai ter um efeito para o consumidor, porque o preço é determinado pelo câmbio e pelo petróleo”, diz Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria.
Alessandra destaca que a proposta deteriora a situação fiscal, o que desvaloriza a moeda. Com o real mais fraco, a gasolina fica mais cara na bomba, e a inflação, mais pressionada. Segundo cálculos da economista, a população já tem pago a conta de medidas que enfraquecem as contas públicas. “Se o real estivesse alinhado aos fundamentos, o preço da gasolina em 2021 teria sido, em média, 76 centavos mais barato”, diz.
Solução, fundo tem de ser criado quando o preço está baixo
Para José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados, uma forma para driblar a alta do petróleo seria criar um fundo de estabilização. Com um imposto sobre as vendas da commodity, seriam obtidos recursos para usar quando a cotação ultrapassasse determinado patamar. Isso, porém, tem de ser feito quando o preço está baixo, explica.
“O problema é que, aqui, fica tudo para a última hora. Depois que a casa foi arrombada, é difícil fazer seguro. Ninguém se preparou para a situação atual. Se o petróleo chegar a US$ 100, o governo está desarmado, e dar subsídio para quem não precisa é torrar dinheiro público”, diz.
Fonte: Estadão
27/11/2024
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