09/02/2021

Fora dos holofotes, startups de logística crescem em importância no Brasil

 Fora dos holofotes, startups de logística crescem em importância no Brasil


Indispensável para o funcionamento de uma economia, o setor de logística finalmente está se adaptando aos novos tempos mais digitais e conectados. Nos últimos anos, o setor começou a se organizar e, recentemente, ganhou força. De acordo com levantamento de novembro de 2020 feito pela GMC, hoje já são mais de 300 startups de logística (logtechs) em atuação no Brasil nas mais diversas áreas -- da last mile ao setor de transporte pesado.

No entanto, segundo especialistas da área, ainda há muito a ser feito. Primeiramente, por mais que o setor esteja ganhando tração acelerada, ainda está longe de promover mudanças profundas nas empresas do segmento, como foi visto com as fintechs -- além de ser um assunto menos “sexy” dentro das próprias conversas sobre inovação. Além disso, há a esperada resistência dentro do próprio mercado de logística para crescimento consistente.

“Várias startups, principalmente algumas estrangeiras, estão mostrando que há muita coisa a ser transformada dentro do mercado de logística”, afirma o professor de engenharia, Cléber Ignácio, em entrevista ao Yahoo! Finanças. “Acredito que a própria pandemia do novo coronavírus acelerou esse processo de transformação da logística brasileira, pois há cada vez mais coisas circulando por aí e uma maior necessidade de digitalização do setor”.

Entre crescimento e desafios

Hoje, são várias as empresas que estão deixando sua marca no mercado. A Equilibrium, por exemplo, nasceu em 2019 a partir das observações dos fundadores Fabio Nunes e Marcos Arante das deficiência do setor de logística no Brasil comparado com o mercado americano. Assim, desenvolveram ferramentas similares ao sistema de entrega da Amazon, dos EUA, e começaram a operar de olho numa fatia desse mercado de US$ 70 bilhões.

Assim, com um processo que otimiza e gerencia o processo logístico de mercadorias, a Equilibrium está avançando. Cresceu 1900% em 2020 e recebeu seu primeiro aporte de R$ 1 milhão da Invisto, maior hub de investimentos de venture capital da Região Sul. Tudo isso, segundo a empresa, reduzindo custos de frete em até 35%, fazendo entregas em mais de 400 pontos de vendas distintos e, por fim, realizando entregas em um prazo de 48 horas.

“Logística é um mercado gigantesco, que movimenta mais de 12% do PIB e possui muitas vertentes: vai do armazenamento ao transporte de cargas, via modal rodoviário, marítimo e aéreo”, conta Fabio Nunes, CTO da Equilibrium. “Mas o mercado de tecnologia para logística ainda é muito pequeno, não existem grandes players consolidados. A maioria das empresas ainda são startups ou scale-ups, com faturamento de poucos milhões anuais”.

Para Fabio, atualmente, o grande empecilho para um crescimento ainda mais constante está nas pessoas. “Nosso maior desafio é a mão de obra! Capital intelectual para área de tecnologia está muito escasso e com custo altíssimo e, sendo uma startup, competimos com empresas maiores”, diz o executivo. “Crescer o time e criar uma cultura em momento de pandemia, com quase todo time trabalhando remoto, também é um desafio”.

Voos estrangeiros

Enquanto Fabio luta internamente com a Equilibrium, empresas de outros países também estão de olho nas possibilidades do mercado nacional. A empresa chinesa Lalamove, por exemplo, desembarcou no Brasil em 2019 com planos de se fortalecer aqui como uma das principais marcas de entregas “no mesmo dia” -- hoje, as empresas gastam o equivalente a 12,37% do seu faturamento em logística, do armazenamento ao transporte, por exemplo.

Como diferencial de outras empresas do mercado, a marca investe em tecnologias como agendamento de entregas, meios de pagamento, protocolo eletrônico, otimização de rotas, rastreamento em tempo real e relatórios mensais consolidados aos pequenos e médios negócios atendidos. “O transporte e a entrega das mercadorias é uma etapa complexa e desafiadora. Por isso, acreditamos que o melhor caminho para as empresas brasileiras é contar com serviços especializados em logística”, diz Luiz Giordani, gerente geral no Brasil.

Segundo a empresa, eles conseguiram se consolidar ainda mais em 2020, quando marcas antes resistentes ao ambiente digital começaram a fazer vendas online. “A Lalamove vem crescendo exponencialmente de tamanho nos últimos meses e consideramos que vamos manter esse ritmo por muito mais tempo”, diz Luiz. “Apesar do inevitável crescimento do mercado de entregas na pandemia, acreditamos que as empresas aumentarão a demanda por entregas”. Em 2021, a startup também deve expandir pelo País.

A colombiana Picap, também de entregas rápidas e focada em last mile, também afirma que este é o momento das logtechs. “A tendência de migração do consumo para os canais digitais, já vista nos últimos anos e que foi acelerada pela pandemia, trouxe muitas oportunidades ao setor”, afirma Diogo Travassos, CEO da empresa. “Cada vez menos vemos o varejo como conhecíamos. Ele foi substituído por grandes galpões logísticos com um fluxo intenso de chegada e saída de produtos diários. Podemos traçar um paralelo com o que vem acontecendo também com restaurantes, farmácias e mercados. Há um desafio tanto em estocagem quanto escoamento. E as oportunidades mais interessantes estão aí”.

Cléber Ignácio, professor de engenharia, diz que não será surpresa se vermos uma empresa brasileira ganhar escala global, e se tornar um unicórnio, nos próximos dois ou três anos. “A logística brasileira é um desafio imenso. Não é à toa que há tanta pressão sobre os Correios”, diz ele. “Aquela marca que souber desbravar cada canto desse país e entregar um serviço digitalizado e seguro irá descobrir uma mina de ouro. Logtechs são o futuro”.

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