Indústrias no Rio Grande do Sul estão retornando paulatinamente a sua produção anterior às enchentes que assolaram o Estado no início de maio. Para uma retomada plena, no entanto, as empresas ainda têm de recuperar as instalações afetadas pelas águas e enfrentar as dificuldades na logística devido ao bloqueio de estradas, o que dificulta a chegada de matéria-prima e o escoamento de produtos.
Segundo levantamento realizado na terça-feira (11) pela Secretaria de Logística e Transportes do Estado, 53 rodovias ainda estão bloqueadas total ou parcialmente, o que aumenta o tempo de deslocamento entre as regiões. Até o momento, já foram liberados mais de 100 trechos de mais de 40 rodovias estaduais. Com isso, estão liberadas todas as rotas necessárias para escoamento da produção e abastecimento das cidades.
Localizada no município de Carlos Barbosa, na Serra Gaúcha, região que sofreu o impacto de ter estradas e vias urbanas comprometidas, as fábricas Tramontina Cutelaria e TEEC tiveram dificuldade no recebimento de matérias-primas e insumos necessários para a produção e, também, no escoamento das mercadorias. As áreas administrativas e comerciais seguiram operando, com equipes reduzidas e permitindo trabalho remoto para aqueles que necessitavam. O escritório central seguiu com as operações presenciais, permitindo trabalho remoto em casos específicos.
Já as fábricas Tramontina Multi e Eletrik, também em Carlos Barbosa, e Tramontina Farroupilha e Garibaldi, nos municípios homônimos, seguiram operando normalmente.
“Como as demais empresas que atuam no Rio Grande do Sul, tivemos impacto nas operações. Ainda assim, conseguimos garantir a operação, com pequenos atrasos”, disse José Paulo Medeiros, diretor da Tramontina.
A empresa de calçados Beira Rio não está sofrendo nenhum atraso na entrega de mercadorias e no recebimento de matéria-prima, como afirma Roberto Argenta, presidente da companhia. Segundo o executivo, para conseguir cumprir os prazos estabelecidos, o setor de logística da empresa realizou estudos para mitigar o tempo necessário para o percurso dos caminhões, que em função da situação de algumas rodovias, ainda são obrigados a percorrer “rotas mais longas” em determinadas regiões do Rio Grande do Sul.
De acordo com Argenta, somente a unidade no município de Roca Sales, a 160 quilômetros de Porto Alegre, teve uma paralisação de 15 dias devido às enchentes. Mas a limpeza do local já foi feita e o espaço está funcionando plenamente, como antes das inundações. A Beira Rio tem um grande impacto na economia do município localizado no Vale do Taquari, pois emprega 700 funcionários diretamente e mais 1.100 indiretamente, além de responder por 55% do valor adicionado da cidade, que possui 10.418 habitantes, segundo o Censo de 2022.
Com a sede localizada em Caxias do Sul, município da serra gaúcha, a RandonCorp, grupo fabricante de reboques e semirreboques e com atuação também em autopeças, suspendeu de maneira preventiva suas atividades fabris entre os dias 2 e 6 de maio na cidade. Já a unidade Controil, da Frasle Mobility, em São Leopoldo, ficou sem operações presenciais do dia 3 até 27 de maio.
Além disso, outra unidade do grupo afetada foi a DB, da Rands (Vertical de Serviços Financeiros e Digitais). Embora sua estrutura física não tenha sido impactada, clientes suspenderam suas operações em razão dos alagamentos. A companhia afirma que, desde o início, adotou as medidas necessárias para adequar as operações aos cenários vividos, com monitoramento contínuo e priorizando a segurança dos funcionários.
Já a siderúrgica Gerdau informou que todas as operações no Estado foram retomadas, e a paralisação não causou impactos.
Outra dificuldade para uma retomada plena da produção foi a interrupção no abastecimento de água. Porém, de acordo com Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), desde o dia 21 de maio as operações de fornecimento estão normalizadas.
A Estação de Tratamento Rio Branco, localizada na cidade de Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, foi a última a ser completamente reparada e retomar os serviços. Segundo a assessoria da Corsan, no momento, somente há suspensão do abastecimento em casos pontuais de rotina. No pico das cheias, no dia 4 de maio, eram 906 mil pontos sem água em todo o Rio Grande do Sul.