As vendas online cresceram 47% no primeiro semestre de 2020, segundo estudo feito pela Ebit Nielsen em parceria com a bandeira de cartões Elo. Essa é a maior alta nos últimos 20 anos e ela foi impulsionada pelo fechamento forçado de lojas físicas, por conta da pandemia do coronavírus. Apesar desse avanço, a mudança também expôs a dificuldade de pequenos e médios empreendedores com a logística.
A pesquisa mostra que a média de tempo de envio de encomendas foi de 11,3 dias, maior que os 10,6 dias observados no mesmo período do ano passado. Por isso, empresas intermediadoras, como as logtechs (ou startups de logística), passaram a ser mais procuradas para ajudar empresas a gerir as entregas.
Esse modelo de negócio se concentra em cobrar uma taxa para recolher encomendas em diversos e-commerces e depois selecionar e organizar diferentes serviços de transportadoras para enviar as compras aos clientes. As startups são responsáveis por todo o processo logístico da venda e, como trabalham com grande quantidade de produtos e vendedores, conseguem barganhar os valores de fretes e definir melhores estratégias de trajetos e entregas. Também podem se responsabilizar pelo gerenciamento de reclamações de clientes.
No último mês, o Estadão PME publicou um buscador com 28 empresas de entrega para o empreendedor comparar os principais serviços disponíveis no mercado, sem intermediários. O que logtechs como Mandaê, Smart Envios ou Melhor Envio fazem é justamente resolver essa ponte desde a saída do produto do estoque até as mãos do cliente.
Rubens Massa, professor do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV (FGVcenn), explica que a logística é um dos quatro pilares essenciais para uma empresa, junto com o produto, o preço e a divulgação. “Uma intermediadora é usada primeiro para resolver todos os problemas em um único lugar, já que você faz uma contratação multimodal e multidestino pela mesma empresa, e segundo para aproveitar os ganhos de escala, porque diferentemente de um negócio feito só por você, esses lugares estão fazendo negociações em um alto volume e conseguem melhores preços”, explica.
Desafio
Para Marcelo Fujimoto, CEO e cofundador da Mandaê, o fato de o mercado de transporte no Brasil ser fragmentado é um grande desafio para os e-commerces. “Saber qual empresa poderia entregar suas encomendas em uma região específica com certo tipo de carga determinada é muito trabalhoso.”
O processo de negociação, acompanhamento e registro de possíveis insatisfações no envio de cada produto, diz Fujimoto, são tarefas que tomam muito tempo do empreendedor. Ele defende que a terceirização da logística permite que o vendedor se dedique a outros pilares do negócio, como o marketing e o desenvolvimento de produtos.
Outro ponto das logtechs intermediadoras é o alcance de distribuição, já que seus catálogos compreendem diferentes empresas de envio em todas as regiões do País. “Cada transportadora possui sua especialidade. Por exemplo, os Correios são mais competitivos para pequenos objetos nos trechos entre grandes cidades. A Jadlog é melhor entre cidades que possuem franqueados da transportadora, mesmo que sejam cidades pequenas. Já as aéreas são mais interessantes em entregas expressas de objetos grandes e pesados”, exemplifica Éder Medeiros, CEO e fundador da Melhor Envio.
Muitos dos serviços de intermediadoras são criados para serem integrados aos e-commerces. Na Smart Envios, por exemplo, o sistema permite que o empreendedor escolha quais e quantas transportadoras serão indicadas como opção para o consumidor e também que se altere a identificação de “envio expresso” ou “envio normal”, dependendo do caso.
“O vendedor cria as suas próprias regras dentro da plataforma. Nós fazemos uma pré-consultoria para fazer recomendações, mas é tudo bem personalizado. E, ainda assim, incluindo a nossa taxa, o cliente economiza de 20% a 30% do que se ele fizesse a seleção de transportadoras sozinho”, diz Rafael Mazza, CEO da Smart Envios.
Porém, o professor Rubens Massa explica que existem pontos de atenção que devem ser monitorados ao contratar uma intermediadora. “O empreendedor não tem o contato estreito com a transportadora, então ele não deve confiar cegamente nessa solução. A regra de ouro para esses casos é sempre fazer pelo menos três orçamentos, um deles por meio da intermediadora e os outros dois de forma independente”, diz.
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