O setor de galpões logísticos e industriais do país teve um 2022 intenso em novas entregas. Segundo a consultoria JLL, o novo volume que chegou ao mercado no ano passado foi de 3,1 milhões de metros quadrados, ante 1,9 milhão em 2021. Mesmo assim, a taxa de vacância do segmento ficou estável, em 11,09%.
Para 2023, é aguardada uma desaceleração desse crescimento, afirma André Romano, gerente de industrial e logística da JLL, com a entrega de 3,3 milhões de metros quadrados de galpões.
O setor passa por um momento de revisão das áreas locadas por companhias de ecommerce, que fomentaram o crescimento expressivo do estoque desde o início da pandemia. Como explica Celina Antunes, presidente da Cushman & Wakefield, essas empresas tiveram que crescer “a toque de caixa” e agora precisam repensar sua distribuição logística.
Como aponta a projeção de novo estoque para 2023, esse momento do ecommerce não significa queda na procura pelos galpões. O setor industrial tem elevado sua demanda pelos espaços, afirma Romano.
“A guerra da Rússia acabou acelerando a demanda da indústria, tivemos algumas consultas grandes de empresas dos BRICS que estão olhando o Brasil com maior carinho”, afirma. Segundo Romano, a procura tem sido maior nos segmentos farmacêutico e de agropecuária.
Os problemas nas cadeias produtivas causados pela pandemia e pela guerra fomentam o interesse de empresas nacionais, e estrangeiras que atuam aqui, em ampliar sua presença fabril no Brasil, para diminuir a dependência de importações. “Estão pensando mais em ter uma cadeia logística melhor do que simplesmente em custo”, afirma Fábio Maceira, presidente da JLL.
O forte aumento nos custos da construção civil, também resultado da pandemia e da guerra na Europa, arrefeceu desde o segundo semestre do ano passado, conta Hailton Liberatore, sócio-diretor da construtora Libercon Engenharia, que fabrica galpões logísticos e industriais pelo país.
Segundo ele, já não se verificam mais os grandes aumentos nos insumos básicos do setor, como aço e cimento. Há, no entanto, uma preocupação com novas altas do metal, de cerca de 10%, anunciadas no início do mês pelas principais companhias siderúrgicas. “É muito mais palatável do que foi anteriormente”, afirma.
O empresário também tem a expectativa de que o governo federal ajude a fomentar o consumo interno, se seguir as mesmas diretrizes adotadas nas gestões passadas de Lula, o que levaria a mais demanda para os galpões. “É expansão na veia, porque pode ter consumo sem loja [física], mas não sem logística”, diz.
Por enquanto, a situação econômica do país tem jogado mais contra do que a favor. Liberatore afirma que as negociações para novos condomínios industriais e logísticos ficaram mais lentas no último ano. Ciclos que antes duravam de dois a quatro anos, do fechamento do negócio à entrega do empreendimento, passaram a durar de três a cinco, o que atrapalha o andamento dos projetos. “Tudo foi mais lento, a decisão de investimento, de liberar projeto para começar a realizar, dos inquilinos, de aquisição de terreno ou dos ativos”, afirma. “Não é algo só do setor, mas da economia brasileira”.
Reclamação antiga de quem produz e aluga galpões no país, por estar supostamente defasado, o preço da locação do metro quadrado desses espaços subiu 16,3% em 2022, para R$ 24,29. Neste ano, Romano vê tendência de estabilização do valor, com a acomodação dos custos para produzir e da demanda do ecommerce.
Os efeitos do rombo de R$ 20 bilhões nas contas das Americanas, e da recuperação judicial da empresa, ainda deve ser avaliado pelo mercado. De acordo com o gerente, a companhia era um dos dez maiores locatários desses espaços, mas já vinha revendo a área que ocupava. Para Maceira, é principalmente a reação do ecommerce da companhia à essa situação que deve ditar o impacto na área logística.
Fonte: Valor Econômico