Glaucia Megna*
A demanda pelo transporte aéreo de carga vem apresentando avanço contínuo, com a América Latina puxando o crescimento entre as regiões do globo, conforme divulgado no relatório de setembro da IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo). O bom momento da indústria também é corroborado pelo World Air Cargo Forecast (WACF) 2024, da Boeing, que informa uma previsão de crescimento médio de 4% ao ano até 2043 no tráfego de carga aérea.
Os ventos favoráveis que sopram sobre o setor são provocados por alguns fatores, entre eles o crescimento do e-commerce, que deve beneficiar o segmento de envios expressos, e a escassez de capacidade no modal marítimo. Junto com eles, vem o desafio de tornar o modal aéreo mais sustentável.
Analisando o cenário brasileiro, verificamos que o crescimento da demanda por soluções rápidas, seguras e com baixo impacto ao meio ambiente é uma realidade que eleva o nível estratégico do transporte aéreo para os embarcadores.
Além de oferecer agilidade e segurança, o modal serve como um conector para alcançar áreas remotas ao possibilitar a combinação com os transportes rodoviário, fluvial e ferroviário. Reconhecido tradicionalmente para envios urgentes e de mercadorias frágeis e/ou de alto valor, o aéreo vem quebrando barreiras e se mostrando uma opção recomendada para os mais diversos tipos de necessidades – sempre com o objetivo de encurtar distâncias.
O ecossistema do transporte aéreo de cargas é vasto e apresenta uma série de oportunidades e desafios que devem ser observados nos próximos anos. A seguir, exploro alguns deles:
Impacto positivo do e-commerce
A expansão do e-commerce tem aumentado a demanda por eficiência logística, com foco na redução de prazos de entrega e na melhoria da qualidade e segurança do serviço.
Dados da IATA mostram que a demanda por transporte aéreo de cargas cresceu 9,4% em setembro deste ano em relação ao mesmo período de 2023. Esse aumento acompanha o desempenho do e-commerce, cujas vendas, no Brasil, avançaram 9,7% em relação a 2023, totalizando R$ 44,2 bilhões no primeiro trimestre de 2024. Projeções da e-marketer indicam que, até 2027, o comércio eletrônico representará 15% das vendas no varejo, refletindo a preferência dos consumidores por praticidade e personalização — 61% dos brasileiros já preferem compras on-line, apontam dados da Octadesk em parceria com a Opinion Box.
Restrições do modal marítimo
Conflitos em regiões ao redor do mundo, como os que ocorrem na Ucrânia e no Oriente Médio, por exemplo, afetam rotas importantes para o comércio global, impactando a movimentação das embarcações por oceanos e mares. O transporte aéreo tem sido a alternativa das empresas na reorganização de suas cadeias de suprimentos durante o período de acesso limitado ao marítimo.
Alternativa estratégica para o transporte doméstico
O modal, já bastante consolidado para envios internacionais, tem ganhado relevância no mercado doméstico. No primeiro semestre deste ano, 237,5 mil toneladas de carga foram movimentadas no Brasil, representando um aumento de 12,7% em relação ao mesmo período do ano passado. A agilidade proporcionada por esse tipo de transporte o torna especialmente interessante para países de grande extensão territorial, como o Brasil.
Na FedEx, o serviço aéreo nacional foi reformulado. A maioria das rotas está com tempos de trânsito mais ágeis para atender clientes de todos os portes – desde grandes corporações, até micro, pequenas e médias empresas. Desde 18 de novembro, clientes contam com um serviço completo, cuja gestão é totalmente feita pela FedEx, que contrata espaço em aviões de companhias aéreas parceiras, com as quais tem relacionamento comercial de longa data, para fazer o transporte das mercadorias.
Soluções sustentáveis são desafio para atender a demanda em crescimento
Tendo em vista que a demanda por envios aéreos está crescendo, é necessário que o setor trabalhe em conjunto com clientes e outros stakeholders para transportar mercadorias de forma mais sustentável. Uma frota moderna reduz custos, aumenta a confiabilidade e a adaptabilidade operacional, melhora a eficiência e reduz a intensidade de emissões. A busca por combustíveis mais sustentáveis e a contribuição em projetos de captura de carbono também são caminhos para diminuição do impacto do transporte aéreo.
A FedEx, por exemplo, possui a meta de alcançar operações neutras em carbono até 2040, comprometendo mais de US$ 2 bilhões em investimentos iniciais para apoiar ações nessa direção. As iniciativas abrangem eletrificação de veículos, energia sustentável e sequestro de carbono, entendendo que colaboração é palavra-chave quando se trata de descarbonizar a cadeia de suprimentos. A nossa abordagem em relação à sustentabilidade é feita através de diferentes lentes: pelo ponto de vista das nossas operações, das comunidades atendidas e dos clientes. A empresa é membro do grupo de trabalho do Setor de Aviação da First Movers Coalition, iniciativa global dedicada à descarbonização de setores industriais desafiadores, incluindo a indústria da aviação, e à sinalização da demanda do mercado por tecnologias verdes.
Em um contexto em que a globalização exige agilidade e encurtamento do tempo de trânsito, o futuro do transporte aéreo de cargas está intrinsicamente ligado à inovação. Para continuar avançando, os esforços coletivos são primordiais na construção de uma indústria preparada para atender, com responsabilidade, às necessidades do mercado.
* Glaucia Megna é diretora de vendas para o serviço internacional da FedEx no Brasil