Caminhões autônomos devem começar a ser usados em sistemas logísticos a partir de 2025. Esta é a visão de mercado da LOTS Group, startup do setor de logística fundada pela Scania, na Suécia. E, com a aposta na tecnologia da informação, a logtech pavimenta o caminho para a fabricante sueca de veículos introduzir no mercado seus modelos que não dependerão da presença de um motorista humano na cabine.
Segundo o diretor geral para a América Latina, Huber Mastelari, a adoção de sistemas logísticos autônomos deve ganhar força primeiro em ambientes controlados, nas áreas próprias das empresas. Posteriormente, tende a chegar à malha rodoviária e aos ambientes urbanos. Sendo assim, segmentos como agronegócio e mineração devem estar entre os primeiros usuários dessa tecnologia no médio e longo prazo.
“Nossa visão de médio e longo prazo é comercializar e operar com os sistemas autônomos do grupo Scania. E, para isso, estudamos os setores que poderiam ser usuários dessa tecnologia de uma forma inicial”, afirma o executivo. “A gente aposta em um veículo que vai sair autônomo de fábrica”, acrescenta.
A LOTS foi criada em 2016. Além da matriz na Suécia e da subsidiária na América Latina, tem uma filial na China. Mastelari explica que, atualmente, a divisão latino-americana responde por 80% do faturamento e da mão de obra utilizada, com os 20% restantes divididos entre a matriz sueca e a divisão chinesa.
A meta em nível mundial é ter, a partir de 2025, pelo menos 20 locais operando com sistemas baseados em caminhões autônomos, diz o executivo. A América Latina deve deter boa parte disso, especialmente considerando ambientes confinados. Em outras regiões, como Estados Unidos e China, há a expectativa de operar também na malha rodoviária.
“A América Latina sempre foi relevante para todo o grupo e a gente espera que uma boa parte desses 20 locais esteja aqui, basicamente no Brasil, Chile e Peru”, diz Mastelari.
No Brasil\
A LOTS começou a atuar no Brasil em 2018. No agronegócio, tem se destacado a demanda do setor de cana-de-açúcar, afirma o executivo, com usinas do interior de São Paulo compondo a carteira da startup desde 2019. Mais recentemente, foi assinado contrato no setor florestal, afirma Mastelari. E há conversas também no segmento de grãos. A expectativa é começar a operar nessa área dentro de um ou dois anos.
“Quando a gente fala em florestas e cana, tem uma demanda logística estável. Nos outros cultivos, tem uma demanda de safra e entressafra. O que a gente está estudando nesse momento é como ter um fluxo e combinar soja, milho e algodão para ter pelo menos nove ou dez meses de estabilidade”, explica o executivo.
A promessa da empresa é de maior eficiência e menos desperdício nas operações de logística. O diretor para América Latina explica ainda que em torno de 60% a 70% do sistema autônomo é básico, com a programação necessária para a implantação em qualquer local. O restante é adaptação para as necessidades específicas do setor e do cliente.
A operação é gerenciada a partir de uma torre de controle montada no espaço de cada cliente. Essa estrutura já é preparada para conectar os veículos autônomos. Mas, enquanto isso não acontece, os ajustes de tecnologia e operacionais são feitos com o equipamento e o pessoal disponíveis.
A implantação do sistema envolve uma avaliação dos processos, com seus gargalos e ineficiências. Além da estrutura disponível, se há vias próprias e com qualidade e da conectividade, o que, em ambientes controlados, pode ser viabilizada pela atual rede 4G ou até mesmo através das redes de internet próprias das empresas.
“Um processo enxuto, uma boa condição viária, um ambiente realmente controlado e uma conectividade interna, seja via wifi ou 4G, é suficiente para rodar um sistema autônomo”, garante o executivo.
Nas condições atuais, explica, o sistema da LOTS funciona como um “laboratório” em tempo real. No curto prazo, o objetivo é criar um ambiente de competitividade para que o cliente, no futuro, possa implantar uma frota de caminhões sem motorista em sua operação logística.
“Tem muito potencial de ganho de produtividade com o sistema atual e as empresas tem um grande dever de casa de se preparar para receber essa tecnologia que virá”, diz Mastelari. “Hoje, tem um motorista por veículo. No futuro, um operador de torre de controle vai conseguir monitorar 30 a 40 veículos em paralelo. O sistema é autônomo, o veículo dirige sozinho, mas precisa ter alguém supervisionando”, explica.
Comunicação e qualificação\
Apesar de pertencer à Scania, o sistema pode ser integrado a caminhões de outras marcas. De acordo com Mastelari, é um dos pontos fundamentais para o aumento da demanda por esse tipo de tecnologia. Ele reconhece que a indústria automotiva sempre foi mais voltada para o desenvolvimento de sistemas próprios, mas a intercomunicação passou a ser fundamental.
A intenção, diz ele, é dar autonomia de decisão. O cliente escolhe a frota que deseja usar, sendo ou não de veículos da Scania. E a startup implanta a operação com o equipamento do cliente, com o seu próprio ou conciliando as duas estruturas. Há casos no Brasil em que a LOTS gerencia de 40% a 100% da frota.
“O cliente tem a possibilidade de escolher como ele quer operar, mas nosso sistema é aberto para conectar o restante da frota”, afirma o diretor da empresa. “Hoje, o sistema já é aberto não apenas para caminhões de outras marcas, mas precisamos conectar outros equipamentos: trator, colheitadeira, motoniveladora”, acrescenta.
Outro ponto de preocupação, segundo ele, é com a requalificação dos profissionais que atuam como motoristas. Mastelari afirma que a intenção é transformar quem hoje dirige um caminhão em um operador logístico, capaz de gerenciar uma frota inteira à distância, na torre de controle.
“Um dos nossos focos é começar a treinar essa nova geração de motoristas. Na parte de segurança, temos feito parcerias. Na parte de torre de controle, temos feito ‘dentro de casa’. Temos promovido nossos melhores motoristas para que saiam da parte operacional e já temos motoristas que são operadores”, afirma o executivo.
Fonte: Globo Rural
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