O caos logístico provocado pela pandemia passou, mas deixou marcas no planejamento das indústrias globais. Nos próximos três anos, as empresas ainda planejam tomar medidas de proteção: as principais delas são a adoção de duas fontes de matérias-primas e a regionalização da cadeia de suprimentos, segundo um levantamento da McKinsey, realizado em 2023, que ouviu 101 líderes da área de logística em indústrias com atuação global, em diferentes segmentos.
“Para a cadeia de suprimentos global, há um antes e um depois da pandemia. Há cinco, dez anos, o ‘supply chain’ seria o 15º tópico da cabeça de um presidente global da indústria. Hoje passou a ser um dos cinco temas mais relevantes. As disrupções sofridas foram muito marcantes”, afirma Edson Guimarães, sócio associado da consultoria.
Um dos principais aprendizados para as empresas foi a importância de ter mais visibilidade da cadeia, não apenas dos fornecedores diretos, diz ele. “Às vezes a companhia tinha dois fornecedores, mas na pandemia descobriu que o fornecimento deles era o mesmo. A tendência hoje é adotar uma estratégia de, de fato, buscar ao menos duas fontes de fornecimento.”
A pesquisa também indica que uma das ações emergenciais mais implementadas no auge da crise perdeu força no planejamento das companhias: o aumento dos estoques.
“Na pandemia, as empresas montaram estoques bastante elevados, mas agora se questionam se mantêm essa estratégia. Neste ano, algumas companhias estão tentando manter a resiliência, mas reduzir seus custos”, afirma Marcelo Steffen, também sócio associado da McKinsey.
Como qualquer mudança na cadeia de suprimentos de uma indústria é um processo complexo e lento, tratam-se de medidas que ainda estão em análise ou implementação, diz ele. Ao mesmo tempo, a pesquisa indica que o tema está no centro das preocupações dos executivos: 53% dos entrevistados afirmaram que são dependentes de uma região para fornecimento e 89% disseram que pretendem reduzir a dependência nos próximos três anos.
No caso das indústrias no Brasil, porém, o desafio de regionalizar a cadeia de suprimentos tem uma complexidade adicional, destacam os sócios. “Para a nossa região, alguns componentes acabam sendo mais problemáticos. Por exemplo, o abastecimento de placas elétricas depende muito da China, do Sudeste Asiático, não vamos ter do dia para a noite um fornecedor na América Latina. Então é preciso buscar outras medidas, como estoques mais bem posicionados ou ter um acompanhamento mais próximo dos fornecedores”, afirma Guimarães.
Porém, a tendência da regionalização abre uma oportunidade para empresas locais se tornarem um segundo fornecedor de indústrias globais, diz Steffen. “Se houver um item similar, o grupo poderá buscar uma parcela local do fornecimento.”
Fonte: Valor Econômico