De olho na forte demanda por transporte aéreo de carga, puxado por negócios como o e-commerce, um total de R$ 83 milhões está no pipeline de investimentos para melhorar a infraestrutura dos terminais administrados pela CCR. Entre as melhorias em andamento estão áreas de armazenamento e ampliação de pistas para receber aviões maiores e mais pesados, figurando assim como uma alternativa aos terminais tradicionais de Guarulhos e Viracopos.
O Brasil fechou setembro com crescimento de 9,36% na demanda por transporte de carga aérea na comparação com 2023, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Globalmente, o setor também tem crescido: 9,4 % em setembro contra um ano antes, segundo dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) divulgados na quinta-feira (31).
Do total a ser aportado nos terminais, a CCR tem um investimento planejado de R$ 53 milhões, ao passo que a PagLog, operadora de um terminal de cargas no aeroporto de Navegantes (SC), entrou com outra parcela de R$ 30 milhões.
Em 2021, a CCR foi a grande vencedora de dois blocos de aeroportos leiloados pelo governo federal, que incluiu 15 terminais. Destes, apenas o terminal de Curitiba tinha capacidade de receber aviões cargueiros - um total de seis voos por semana, capacidade que já subiu para 10 voos por semana hoje. Já no primeiro semestre do ano que vem o aeroporto de Goiânia vai receber um voo cargueiro por semana e Navegantes deverá ter dois semanais - cada voo tem uma capacidade média de 20 toneladas de carga.
“Temos feito alguns investimentos além dos previstos nos contratos de concessão porque enxergamos muitas possibilidades, seja pelo crescimento do e-commerce ou pela expansão de determinados segmentos da indústria”, disse Fabio Russo, CEO da CCR Aeroportos, ao Valor.
A movimentação da CCR está alinhada à disparada na demanda por transporte de carga aérea puxada pelo e-commerce, que provocou uma onda de investimento por parte de operadores aéreos. A alemã DHL Supply Chain investiu R$ 480 milhões para ter quatro aeronaves cargueiras dedicadas no Brasil em parceria com a startup Levu. Outros nomes também são a Total Express (que tem a Amazon como acionista), a Braspress e a Prosegur. Além de empresas de logística, a própria Gol, que antes tinha uma operação tímida, hoje é a companhia aérea com maior número de aviões cargueiros no mercado doméstico.
Monique Henriques, diretora comercial da CCR Aeroportos, disse que apenas no aeroporto de Goiânia foram investidos cerca de R$ 23 milhões para construir o primeiro Terminal de Cargas 100% refrigerado localizado em um aeroporto do Brasil. A estrutura será utilizada exclusivamente para cargas dos setores farmacêutico, químico e hospitalar. Sua área construída é de 2.133,31 m2. A estimativa é de que a estrutura comece a operação no início do ano que vem após obtenção de licenças.
“Grande parte das cargas para atender à indústria farmacêutica em Goiás chega por Guarulhos, Viracopos e um pouco por Galeão. E então ela entra no transporte rodoviário refrigerado e, por ser de alto valor agregado, isso implica um custo maior com seguro e alguns precisam até ser escoltados”, disse Henriques. O armazém refrigerado é importante, uma vez que as cargas podem ficar até 10 dias estocadas a espera da liberação de órgão públicos.
A ideia é de que com o novo galpão refrigerado, assim como ajustes na pista para receber aviões maiores, a CCR abocanhe parte das cerca de 600 toneladas de carga farmacêutica que são transportadas por mês via modal rodoviário para Goiás.
O grupo concluiu também ajustes no terminal em Navegantes, com ampliação de pista e áreas de taxiamento. O terminal já está preparado para receber voos cargueiros e a estimativa é ter o primeiro voo semanal no início de 2025 - a frequência deve subir para duas por semana ainda no primeiro semestre.
A sinalização dada pela executiva é de que a CCR já estuda espaço para aumentar as frequências de carga para três semanais nos dois aeroportos. “Às vezes uma carga demora para chegar e perde o voo. Com essas outras frequências, o importador tem mais segurança. Três é o ideal”, disse.
Outro investimento no radar, mas fora do pipeline anunciado, será no terminal de Foz do Iguaçu, onde a CCR espera construir no segundo semestre do ano que vem um terminal de carga. Inicialmente focado na operação de carga na barriga dos aviões comerciais e não cargueiros. Agora, o grupo está concluindo a homologação da extensão da pista.
A demanda por transporte de carga no mercado global (medida em toneladas de carga por km, ou CTK) subiu 9,4% em setembro na comparação com igual mês de 2023, segundo dados divulgados pela Iata. Este foi o 14º mês seguido de crescimento na demanda. Considerando apenas a América Latina, que representa 2,8% do mercado de carga global, a demanda subiu 20,9%.
“Com um crescimento de 9,4% ano a ano, os volumes de carga continuaram a marcar recordes históricos de demanda. Os rendimentos também estão melhorando, subindo 11,7% em 2023 e 50% acima dos níveis de 2019. Tudo isso aponta para um forte final para este ano”, disse Willie Walsh, diretor geral da Iata, em nota.
Walsh ponderou que ao se olhar para o longo prazo o mundo da carga aérea acompanhará de perto o resultado da eleição dos Estados Unidos para obter indicações de como a política comercial americana evoluirá e de que forma isso vai se refletir na atividade econômica.
Fonte: Valor Econômico