O empoderamento do consumidor durante a pandemia e a consequente necessidade de as empresas serem mais criativas, investindo em inovação e tecnologia, foram o ponto de partida do debate realizado na manhã desta quinta-feira no painel de encerramento da Expo Logweb W6 Connect – Feira e Congresso Virtual de Logística. A diretora-executiva da ABOL, Marcella Cunha, foi uma das convidadas para abordar temas voltados ao setor de logística, como e-commerce, mercado de trabalho, desafios e perspectivas para os próximos meses.
Também participaram do painel Cassia Pereira, que tem vasta experiência na área de Supply Chain e Operações, Paulo Bertaglia, Mentor de executivos, Professor e Diretor-Executivo da Berthas e Paulo Roberto Guedes, Consultor, Professor e Conselheiro Consultivo da ABOL. A mediação foi feita pelo presidente da Abralog, Pedro Moreira. O evento teve início na última quarta-feira em formato 100% virtual.
As vendas online, que tiveram aumento expressivo durante a crise sanitária, foram vistas como protagonistas de um processo de transformação em toda a cadeia logística. Ao gerar impacto, sobretudo, no comportamento do consumidor, o e-commerce fez com que a logística também passasse a ser importante para o cliente final. Desde que foi instituído o isolamento social e as pessoas foram obrigadas a trocar as lojas físicas pelas compras via internet, foi iniciada uma nova era, na qual a preocupação com a experiência do público se tornou um dos pontos chave para manter a competitividade em um mercado repleto de opções.
"O consumidor passou a ter uma conscientização muito maior do que quer e precisa. Isso demanda que a cadeia comece a ter reações e essas reações podem ser criativas, inovadoras, usando a tecnologia. O empoderamento do consumidor é extremamente importante, pois a partir daí as empresas começam a se preparar de maneira adequada", destacou Bertaglia.
Nesse contexto, Marcella acredita que as vendas online estão consolidadas e devem manter o constante crescimento. "O volume do e-commerce aumentou e, consequentemente, a atuação dos Operadores Logísticos também. Antes da pandemia, estimamos que algo em torno de 25% dos operadores atendiam o comércio eletrônico. Acredito que esse percentual tenha praticamente dobrado a partir de 2020. E ainda há muito espaço para crescer.
Guedes também observa que a chegada dao Covid apenas acelerou algo que demoraria um pouco mais para acontecer. As pessoas tiveram que encontrar uma solução diante do inesperado e graças à internet descobriram a saída nas compras à distância. "Mas, os grandes supermercados, por exemplo, ainda têm que desenvolver um processo para isso. Tudo ainda é feito de forma tradicional. As mudanças fizeram com que o consumidor se tornasse mais exigente. Agora, ele não entra mais e faz a compra imediata, ele pesquisa várias lojas, vê a qualidade, compara preços", analisou.
Interligada a esse processo, a tecnologia também tem sido o foco das empresas do setor. De acordo com a diretora da ABOL, os Operadores Logísticos estão cada vez mais atentos às logtechs, associando-se a hubs e aceleradoras de startups para ou encontrar soluções a problemas específicos ou para apadrinhar projetos que já apresentam uma solução relativamente madura para o mercado. "Há uma aposta maior em soluções tecnológicas. Aqueles OLs que não tinham departamentos de inovação, agora estão passando a ter e alguns vêm surgindo de áreas como a própria área de TI. No geral, as startups também têm se mostrado essenciais tanto para ajudar as empresas que sofreram os impactos da pandemia a traçarem novos caminhos em seus modelos de negócios, como para aumentar a eficiência daquelas que já estavam indo bem e se fortificaram com a crise", ressaltou Marcella, apontando um interesse específico das associadas à ABOL por drones, robótica, veículos autônomos e semi autônomos, impressões 3D, internet das coisas (IoT), realidade virtual, wearables (tecnologia que pode ser vestida), entre outros..
Na visão de Bertaglia, a tecnologia propicia muitas facilidades antes inimagináveis, como uma maior visibilidade e rastreabilidade das cargas transportadas por caminhões. "Hoje temos mais de 300 startups na área de logística oferecendo esse tipo de serviço. A tecnologia só vai ajudar e tem trazido muitos empreendedores para esse negócio", disse, citando o projeto da Techstart, uma iniciativa onde são buscadas empresas, que têm essa necessidade de modelo de negócio.
Por outro lado, Guedes trouxe à tona a importância de capacitar as pessoas para as novas ferramentas, que estão sendo implantadas e utilizadas. "Quem faz a tecnologia ser eficiente são as pessoas. Não adianta querer comprar tudo de moderno e não saber usar. Um grave problema no Brasil é a educação. Se o País tem problema de educação, por que as empresas não teriam? É preciso se habilitar ao novo e para isso tem que romper algumas barreiras, sair da zona de conforto. É preciso uma análise profunda, até porque as tecnologias são diferentes e têm impactos e soluções diferentes dependendo da empresa".
Ao tratarem do mercado de trabalho, os participantes ampliaram as discussões mostrando que para conquistar seu espaço dentro de uma empresa não basta conhecimento técnico, é fundamental ter inteligência emocional. “O que falta é tratar dos aspectos comportamentais e emocionais dos funcionários. As técnicas eu tenho certeza de que serão desenvolvidas, mas será que o comportamento das pessoas também será trabalhado? Voltar ao normal é voltar ao que estava ruim, temos que voltar ao novo normal. Precisamos de uma coisinha a mais para todo o ser humano: conscientização em relação aos problemas da humanidade”, disse Guedes.
Marcella complementou o pensamento do consultor, enfatizando que é fundamental que o profissional de logística se mostre flexível e tenha maturidade emocional para se abrir ao novo, para aprender novos dispositivos e tecnologias.. “O profissional ganha o benefício de gozar de uma mobilidade completa ao adotar no seu dia a dia os recursos digitais que permitem resolver problemas de forma rápida e às vezes não presencial.
Os minutos finais do painel trataram dos modais de transportes brasileiro e das perspectivas para o futuro. “Precisamos ter uma matriz de transporte nacional mais equilibrada e percebe-se que o Governo Federal vem olhando mais atentamente às ferrovias, por exemplo. Ontem, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes, postou em suas redes sociais que recebeu 14 pedidos de autorizações de ferrovias, o que geraria algo em torno de R$ 80 bilhões em investimentos em 5,3 mil km de novos trilhos, dentre eles um pedido para "short lines" (ferrovias de curta distância), modelo que ainda não temos no Brasil e que é usual nos EUA. O grande desafio do governo é receber os pedidos e ver o que realmente faz sentido em termos de multimodalidade e com a perspectiva de médio e longo prazos"”, mencionou a diretora executiva da ABOL.
Paulo Guedes foi mais incisivo ao tratar da multimodalidade e da necessidade de melhorias nos modais. “Faltam investimentos eficientes em todos os modais, projetos viáveis, a criação de alternativas ao rodoviário. Temos que usar o que há de melhor em cada modal. O Brasil, mesmo no rodoviário, é o último na proporção. Não temos nenhum conhecimento de transporte multimodal. Não posso transportar em duas ou três diferentes com só um conhecimento”.
Para finalizar, Marcella falou das previsões positivas, principalmente, diante do avanço da vacinação contra o coronavírus. “Temos detectado uma recuperação gradual no volume de carga transportada e a intensificação de investimentos em geral realizados pelos Operadores Logísticos. Esperamos, no entanto, que a combinação de problemas fiscais, alta do combustível, crise energética, eleições e resquícios da pandemia não sejam uma bomba atômica que impeça a recuperação do setor e da economia brasileira a partir de 2022”.
Fonte: Conteúdo Empresarial
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