18/04/2022

Startups levam tecnologia e geram renda para as favelas durante a pandemia

 Startups levam tecnologia e geram renda para as favelas durante a pandemia



A pandemia foi mais difícil para a população mais pobre – e isso ficou claro nas favelas brasileiras, onde o desemprego afetou gente como Alex Ferreira Pinto, de 42 anos. Vendedor em uma loja de eletrônicos, ele foi demitido em junho de 2020. Pouco tempo depois, na comunidade onde mora, em São Bernardo do Campo (SP), Alex viu uma propaganda do chip da Alô Social, startup de telefonia celular lançada no início da pandemia como uma alternativa de acesso à internet a baixo custo. Em busca de renda, ele se tornou revendedor da empresa.


A história de Alex remete a uma movimentação que se tornou intensa na crise sanitária, de um ecossistema que agrupa empreendedores que buscam na tecnologia recursos para mitigar os efeitos da pandemia e da crise econômica e empresários nascidos em favela que hoje atuam como aceleradores de startups em comunidades, ajudando a formar uma economia de R$ 124 bilhões.


“A gente pode acelerar uma startup ou mesmo investir em um negócio que tenha potencial e ainda esteja em estágios iniciais. Podemos investir inclusive em formação para o empreendedor, por exemplo”, afirma o diretor executivo da Favela Holding, Celso Athayde, que lançou em fevereiro um fundo de capital de risco de R$ 50 milhões, o Favelas Fundos, focado em acelerar negócios criados em comunidades. “Do meu ponto de vista, que é transformar a favela, mesmo que o negócio não vá para a frente, se eu tiver investido no desenvolvimento das pessoas para que elas sigam empreendendo, considero que tive retorno.”


É de Athayde, também fundador da Central Única das Favelas (Cufa), a iniciativa de criar a startup de telefonia móvel Alô Social, uma das 23 empresas em que investe através da Favela Holding. Voltada a ampliar o acesso à internet nas favelas brasileiras, a startup tem como carro-chefe o plano Alozão, que custa R$ 120 por semestre, com ligações ilimitadas e 7GB de internet.


Para Alex, a Alô Social foi um meio para ele se reestruturar na pandemia. “Soube que a Alô Social era vendida por pessoas das próprias favelas. No primeiro mês, comprei 100 chips.” Hoje, ele aderiu ao MEI (Microempreendedor Individual) e comercializa entre 3 mil e 5 mil chips, com lucro de R$ 1 sobre cada unidade. Quando estava empregado, ganhava R$ 3 mil.


Para ampliar o negócio, Alex convidou outras pessoas da região. Hoje, tem 20 revendedores que cobrem 41 favelas em São Bernardo. “Um vendedor tira entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil.”


INFLUENCIADORES
Outra iniciativa que tem recebido atenção da holding de Athayde é a Digital Favela, aberta em sociedade com o empresário Guilherme Pierri, fundador da agência de publicidade Peppery. A ideia do negócio é “fazer a ponte entre a favela e grandes marcas através de micro influenciadores digitais”, conta Athayde. Pierri afirma que o foco são “pessoas que tenham entre 5 mil e 100 mil seguidores em redes sociais”.


A sacada, diz ele, é perceber que, com os departamentos de marketing olhando para as favelas, as empresas precisam buscar legitimidade na comunicação. “Não adianta criar algo que não tenha a linguagem da favela que não vai funcionar.” O executivo explica que, por isso, além de indicar o influenciador para as marcas, as campanhas têm a criação desenvolvida na agência por profissionais captados e formados nas favelas.


Desde que iniciou suas atividades, em 2020, a startup fechou projetos com empresas como Facebook, Bayer, Pfizer, Casas Bahia, Boticário, Vult, Claro e Devassa. Nesses trabalhos, conseguiu monetizar o trabalho de 1,5 mil micro influenciadores. Tamires da Silva, de 23 anos, moradora de Guaianases, zona leste da capital paulista, é uma delas.


Tamires, a Tamirão no Instagram, tem 38 mil seguidores em seu perfil, em que fala sobre moda e arte urbana. Ela fez o primeiro trabalho com a Digital Favela em setembro, quando ainda era assistente de marketing em uma agência de publicidade, com salário de R$ 2 mil.


“Eu ganhei R$ 1 mil neste primeiro trabalho. Aí pensei que, se evoluísse, poderia viver só disso. Era metade do que eu ganhava antes, mas em apenas um dia”, lembra. “Deixei meu emprego há pouco mais de seis meses para me dedicar apenas ao trabalho de influenciadora digital. Se dividir por mês o que ganhei nesse semestre deve dar algo próximo a R$ 3 mil.”


INVESTIMENTOS
Assim como Athayde, outros líderes nascidos em favelas têm feito movimentos semelhantes. É o caso de Gilson Rodrigues, 37 anos, presidente da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis e do G10 Favelas, bloco econômico formado pelas dez maiores comunidades brasileiras. O grupo foi idealizado por ele em 2019 a partir de articulações pelo WhatsApp e mantém uma agenda de iniciativas que se apoiam em recursos tecnológicos para fomentar o empreendedorismo.


Entre as ações mais recentes estão a fundação da fintech G10 Bank – “um BNDES das favelas”, segundo Gilson, voltado ao microcrédito para impulsionar empreendedores locais e também de outras comunidades – e da Bolsa de Valores das Favelas, projeto lançado em 2020 como instrumento de captação de recursos para empreendimentos criados em comunidades de todo o Brasil.


A bolsa das favelas foi idealizada com a Divi-Hub, plataforma de [ITALIC]equity crowdfunding[/ITALIC], ou investimento coletivo, que segue uma regulação simplificada da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Nela, o investidor tem à disposição cotas a partir de R$ 10, com retorno distribuído trimestralmente.


A primeira empresa a se lançar na Bolsa foi a Favela Brasil Express, startup de logística criada por Givanildo Pereira, de 21 anos, para funcionar como um centro de distribuição para plataformas de e-commerce que não realizavam entregas em Paraisópolis, assim como em outras favelas brasileiras.


A startup ofertou suas cotas entre novembro de 2021 e março último, período em que arrecadou R$ 500 mil. Givanildo conta que os recursos serão distribuídos em diferentes frentes de expansão: 42% em sistemas de logística, 21% na transformação da base de Paraisópolis em 100% sustentável, 21% no projeto de expansão das 7 favelas em que atuavam até o IPO para 25 bases – atualmente já estão em 10. Os 17% restantes serão destinados à capacitação e melhorias de processos da startup.


UMA NOVA FAVELA
Outro projeto que visa a transformação das comunidades é o Favela 3D, criado pela organização Gerando Falcões, fundada por Eduardo Lyra há 11 anos e que hoje, além de projetos próprios, acelera iniciativas surgidas em favelas. “Fechamos acordos com governos e iniciativa privada mobilizando mais de R$ 52 milhões para transformar uma favela de ponta a ponta e vencer a pobreza naquele território, servindo de modelo”, conta Lyra. O projeto, em fase de implantação em quatro favelas brasileiras, conta com ações que vão da construção de moradias à capacitação de moradores para trabalhar com a internet.


Uma das comunidades do projeto que está com o processo mais adiantado é a favela Marte, em São José do Rio Preto, onde o trabalho é coordenado por Amanda Oliveira. Ela conta que é fácil notar a força que tem a internet e o simples acesso a um telefone com WhatsApp. “Tinha um restaurante de uma senhora aqui do bairro que precisou fechar na quarentena e conseguiu se organizar por mensagens, por exemplo. Hoje ela trabalha por WhatsApp, com aplicativos.”


Por isso, o projeto contará com uma sede física nas comunidades, em que haverá espaços para capacitação e alfabetização digital. “Levar inovação e alfabetização digital, cidadania, é uma das principais ferramentas para interromper o ciclo de pobreza”, diz Amanda.


Lyra lembra que a Gerando Falcões mobilizou mais de R$ 100 milhões na pandemia através de plataformas digitais. “Sem tecnologia, a gente levaria séculos para transformar as favelas. Com ela, talvez leve décadas. Eu consigo captar recursos rapidamente, gerar oportunidades com velocidade e empregar pessoas. A tecnologia diminui o arco de tempo da mudança nas favelas.”


Fonte: Estadão



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