Para a maioria dos OLs, a crise sanitária quebrou paradigmas e alterou todo o sistema de logística já consolidado para o atendimento de alguns segmentos da cadeia produtiva
O setor de logística ganhou significativa visibilidade durante a pandemia não apenas pela sua essencialidade ao garantir o abastecimento do País, mas também pelos novos caminhos que tiveram que buscar para se adequarem às novas demandas e rearranjos na forma de consumo. Agora, em um momento no qual a variação dos casos de covid-19 baixou em mais 39% e o termo pós-pandemia se encontra mais consolidado, os maiores operadores logísticos do País avaliam as mudanças nas cadeias de produção em um dos períodos de maior instabilidade no mundo inteiro.
Uma pesquisa desenvolvida pela Associação Brasileira dos Operadores Logísticos (ABOL) junto aos seus filiados, revelou que os segmentos de Varejo, Indústria de base e Automotivo foram os que mais sofreram mudanças na dinâmica do comércio exterior nos últimos três anos. No entanto, apesar dos obstáculos, 50% dos OLs acreditam que hoje, em 2023, os seus clientes estão melhor posicionados no comércio internacional, enquanto 33,3% acreditam que estão pior posicionados e 16,7% não souberam ainda medir.
Ao serem questionadas especificamente sobre as principais alterações verificadas durante a pandemia, os entrevistados trouxeram alguns pontos, como a maior busca por tecnologia, o aumento do consumo, principalmente no setor alimentício e de bebidas - agora já mais estabilizado e consciente -; a desaceleração do processo de gestão just in time (em que um item é produzido apenas sob encomenda, com o objetivo de se manter o estoque baixo), e ainda a necessidade de repensar a dependência de um único fornecedor.
Há quem diga que a pandemia da Covid-19 quebrou os paradigmas e alterou todo o sistema de logística já consolidado na elaboração das cadeias produtivas de valor. O setor automotivo, por exemplo, ainda lida com a falta de insumos e peças no mercado global, desacelerando a produção de montadoras no país já nesse primeiro trimestre de 2023.
“Algumas empresas afirmam que o desafio maior está em enfrentar a crise econômica e as incertezas políticas que o país ainda vivencia, na expectativa de que ainda em 2023 observemos uma melhora sistêmica, em todos os elos da cadeia de suprimentos. Nos setores mais afetados, os operadores apontam a aplicação de novas metodologias e a criação de projetos estratégicos que podem tornar possível a transformação do negócio, a médio e até curto prazo. De modo geral, os OLs entendem que é natural que a logística seja constantemente desafiada e que a pandemia trouxe importantes aprendizados, os quais serão considerados em outros momentos de adversidades”, destacou a diretora executiva da ABOL, Marcella Cunha.
Em meio ao novo cenário, as empresas filiadas à associação concordam que, no geral, os setores produtivos não estão se beneficiando da forma esperada do pós-pandemia e da "volta à normalidade", com exceção do comércio online. Para alguns OLs com atuação na América Latina, ainda paira certa incerteza frente a um cenário de instabilidade e imprevisibilidade econômicas, resultando em redução de consumo e recessão.
No Brasil, a avaliação é de que além do peso da política monetária sobre itens mais dependentes de crédito, como eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos, veículos e materiais de construção, há uma expectativa de demanda menor.
"A indústria tem sido cautelosa nos últimos meses e segue andando de lado. Apesar da recuperação pós-pandemia, o cenário de altas taxas de juros e inflação desacelera esse ritmo. No longo prazo, não vejo uma recuperação pujante em função desse cenário político e de inflação, que leva empresários a postergar investimentos e a contratar créditos, o que impacta diretamente em produtos parcelados, como os bens duráveis”, disse uma das associadas.