26/03/2021

Grupo Big, de ‘sonho’ a maior desafio do Carrefour

 Grupo Big, de ‘sonho’ a maior desafio do Carrefour


Quando entrou, há dez anos, na disputa pelas lojas do Sonae no sul do país, o Carrefour sonhava em ficar com a operação para “escapar” da briga fratricida em São Paulo. “Ir para as ‘pontas’ do país, para o Sul e o Nordeste, sempre foi um desejo deles. Entraram já no finalzinho da negociação, e os americanos do Walmart ficaram com o Sonae. Mas o mundo no varejo dá voltas”, conta um ex-diretor do Carrefour, há 30 anos no setor.

Com o anúncio, na quarta-feira, da compra por R$ 7,5 bilhões do Grupo Big - dono das redes de supermercado e hipermercado que eram do Sonae, no Sul, e do Bompreço, no Nordeste - o Carrefour atinge uma meta antes de encarar o seu maior desafio dos últimos anos, na visão de especialistas: montar uma megaestrutura de sistemas, logística e distribuição integradas, que seja a base para que o varejo e o atacarejo operem de forma rentável e equilibrada.

Este será o maior plano de unificação de negócios do varejo no país, superando em tamanho a integração de Raia e Drogasil. Luiz Fazzio, presidente do Big, deve ficar na função até que a operação passe pelo Cade, o órgão antitruste, apurou o Valor.

Na quarta-feira, o Carrefour anunciou a aquisição das 387 lojas do Big, controlado pela gestora Advent e pelo Walmart, formado por sete marcas (Big, Big Bompreço, Nacional, Super bompreço, Sam’s Club, Todo Dia e Maxxi Atacado) que se somam às sete do Carrefour em varejo alimentar. Dessas sete, devem desaparecer Big e Maxxi. Os hipermercados BIG e Bompreço serão convertidos em bandeiras Carrefour, Atacadão ou Sam’s Club. O Maxxi deve virar Atacadão. Com o Big, o Carrefour passa a ter 876 lojas e R$ 100 bilhões em vendas anuais.

“A atenção maior do mercado estará em ver como eles vão acomodar esses negócios todos e tirar o melhor de cada um. Até montarem isso, vão ter que trocar sistema do Big pelo do Carrefour, unificar política comercial e ‘backoffice’, reformar parte das lojas, fechar outras, ao mesmo tempo que vão ter que pôr na praça uma ação de comunicação com o cliente nessas regiões”, diz o consultor Manoel Araújo, sócio diretor da Martinez de Araújo, ex-executivo de Walmart e Carrefour.

“É algo que eles têm plena condição de fazer, mas é complexo, e os concorrentes devem aproveitar desse foco deles na reestruturação para tentar avançar sobre o mercado do Carrefour. Mas os franceses sabem disso também. Vai ser algo interessante de acompanhar”.

Analistas não esperam uma piora imediata da concorrência, até porque projetam aprovação do Cade para 2022, e acreditam que rivais, como GPA, devem se concentrar nos projetos de melhoria dos próprios negócios. A maioria dos consultores ouvidos não prevê uma corrida às compras, considerando a falta de bons ativos no setor.

“O GPA deve centrar energia na aceleração do seu braço de varejo após a cisão da operação de atacarejo \[em março, o grupo se separou o Assaí do GPA] e acelerar seus ganhos com o grupo colombiano Èxito, incorporado ao GPA em 2019. Não vejo nenhum grande movimento de aquisição de bons ativos agora”, disse Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail.

Grandes redes regionais, como Zaffari e Angeloni, são menores e sem presença nacional e no caso da chilena Cencosud, quarta maior cadeia do setor, consultores entendem que as redes líderes não se interessariam por toda operação da empresa. Anos atrás, a Cencosud, dona de Prezunic e G.Barbosa, chegou a sondar interessados nos ativos. A rede nega que tenha buscado compradores.

Especialistas ainda estimam de dois a quatro anos para o Carrefour integrar as áreas de tecnologia e distribuição das empresas, após a aprovação pelo Cade, mas com uma unificação mais rápida dos escritórios - o Big tem sede em Barueri (SP) e o Carrefour na zona sul da capital paulista.

Com a compra do Big, será a terceira vez, desde 2016, que as marcas Big e Bompreço passarão por mudanças. De 2016 para 2017, anos após o Walmart comprar os ativos no país, a empresa tirou o nome Big e passou a usar Walmart nas lojas no Sul. Em 2019, após vender a operação para a Advent, a marca voltou. Agora, novamente deixará de ser usada. No Nordeste, o grupo deve manter elementos da marca Carrefour junto com o nome Bompreço.

Para especialistas em marca, apesar da presença menor nessas regiões, o Carrefour já tem um vínculo com consumidores do Sul e do Nordeste. “Pesquisas de percepção de marca devem ser contratadas para levantar aspectos e valores que esses clientes veem em Atacadão e Carrefour”, diz um gestor.

Ontem, após o anúncio da aquisição, executivos do setor comentaram os valores negociados para a compra do Big. “Os americanos do Walmart compraram o Bompreço pagando 35% do faturamento anual sem incluir os imóveis. O Sonae foi vendido com prejuízo operacional por 40% da receita bruta, também sem os imóveis”, diz um ex-CEO de uma varejista. “O Carrefour pagou o equivalente a cerca de 30% da receita do Big com os imóveis, e os controladores se mantém com posição na empresa, o que é positivo para eles. Foi uma ‘engenharia’ bem montada”.

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