Por Claudio Adilson Gonçalez, Economista, diretor-presidente da MCM Consultores
Conforme o relatório Focus, pesquisa semanal realizada pelo Banco Central (BC), a projeção mediana dos analistas é de estagnação da economia brasileira em 2022, mais precisamente crescimento do PIB de apenas 0,3%. Há vários fatores que justificam esse pessimismo: aumento dos juros norte-americanos, crise na Ucrânia, recrudescimento da pandemia, incertezas do ano eleitoral, elevação dos juros domésticos e quebra da safra de grãos em virtude da meteorologia. Em tese, tudo isso é verdadeiro, mas é preciso levar em conta também alguns fatores positivos.
Nos EUA, é pouco provável, e desnecessário, que a taxa básica de juros (Fed Funds Rate) seja elevada muito acima do que já está precificado pelo mercado. Apesar da elevada inflação corrente, as expectativas para horizontes mais longos estão sob controle, situação muito diferente da prevalecente na segunda metade dos anos 70. Em 1980, Paul Volcker, então presidente do Fed, o BC norte-americano, promoveu forte choque nos juros, que reduziu a inflação, mas levou a economia americana e a de vários países emergentes a severas recessões.
Internamente, temia-se que a eleição presidencial poderia provocar expressivo aumento das incertezas, com efeitos danosos, principalmente sobre os investimentos. No mercado financeiro, já se acredita que Lula é franco favorito. Apesar disso, e mesmo com o aumento do risco geopolítico, neste ano, até a sexta-feira passada, a Bolsa cresceu quase 10% e o real apreciou-se mais de 8%. Particularmente, não concordo muito com essa tranquilidade em ano eleitoral, mas é o que ouço de grandes gestores de recursos e o que vejo nos preços dos ativos.
Os governos estaduais e municipais estão com altíssimas disponibilidades financeiras. Minhas estimativas indicam que o “caixa” dos entes subnacionais pode ser da ordem de R$ 180 bilhões. Com dinheiro na mão, em pleno ano eleitoral, os governantes tendem a expandir obras e a dar aumentos salariais. A União, por sua vez, deve produzir impulso fiscal positivo, ou menos contracionista que em 2021. É injeção na veia da demanda, embora esse expansionismo possa cobrar um preço alto no futuro, dependendo da qualidade dos gastos e das renúncias de receitas.
O forte crescimento dos lançamentos imobiliários em 2020 e 2021 impactará o PIB a partir do segundo semestre do corrente ano, na medida em que os imóveis vendidos comecem a ser construídos. Tampouco a construção pesada, voltada principalmente para infraestrutura, está parada. Algumas concessões em rodovias, ferrovias, saneamento, portos e aeroportos devem ter obras iniciadas já em 2022.
Claro, está mais para voo de galinha do que para retomada sustentável do crescimento, pois esta depende de profundas reformas estruturais. Mas não se deve descartar a possibilidade de expansão do PIB entre 1% e 2% no corrente ano.
Fonte: Estadão
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