A operadora de ferrovias VLI se prepara para participar do leilão da Ferrogrão, projeto bilionário do governo federal, para conectar o Centro-Oeste até o Pará. O objetivo da companhia é consolidar sua presença no corredor de escoamento agrícola pelo Norte do país, segundo o presidente da empresa, Ernesto Pousada.
“A Ferrogrão será um projeto muito competitivo, estamos estudando em profundidade. Por ora, a avaliação está sendo feita internamente, em paralelo ao levantamento de possíveis parceiros, para formarmos um consórcio, conforme a necessidade. É um empreendimento grande, que vai demandar diferentes expertises”, afirma o executivo do grupo, que tem como acionistas a Vale, a Mitsui, o FI-FGTS, o BNDES Participações e a Brookfield.
Não há data definida para o leilão da Ferrogrão, que ainda terá que superar uma série de resistências para sair do papel. Hoje, o projeto está travado por uma decisão liminar do Supremo Tribunal Federal (STF). Além disso, há o risco de sofrer questionamentos no Tribunal de Contas da União (TCU), que precisará dar aval ao edital. Apesar das críticas, o projeto tem sido tratado como prioridade para o governo federal.
Com ou sem Ferrogrão, a VLI definiu o Arco Norte como prioridade em seu planejamento estratégico - mais até do que a renovação antecipada da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), que está em discussão e deverá sair em 2022. “Estamos focados na prorrogação da FCA, mas a principal pauta é o crescimento ao Norte. É nosso foco, é para onde queremos ir”, afirma Pousada.
Hoje, a companhia opera duas concessões: a FCA e o tramo norte da Ferrovia Norte-Sul (entre Tocantins e Maranhão) por onde a empresa já atua no escoamento do agronegócio - nessa rota, a carga sobe pela Norte-Sul, passa pela Estrada de Ferro Carajás, da Vale (maior acionista da VLI), e chega ao porto de Itaqui (MA).
Nos últimos cinco anos, a VLI investiu R$ 997,6 milhões na Norte-Sul. Para os próximos três anos, o plano é aplicar R$ 700 milhões na via, principalmente na aquisição de material rodante e na ampliação de terminais. Os investimentos são previstos em contrato, mas parte deles será antecipada para garantir a capacidade do corredor, diz o executivo.
Outros projetos na região que serão estudados são a Ferrovia de Integração Centro Oeste (Fico), entre Mato Grosso e Goiás, e os trechos 2 e 3 da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol), da Bahia ao Tocantins - ambas ferrovias irão se interligar à Ferrovia Norte-Sul. O governo federal estuda licitar os trechos em bloco, para formar mais um corredor de escoamento agrícola, do Centro-Oeste até a costa baiana. Porém, ainda não há uma definição sobre a modelagem nem prazo para o edital.
“Em relação a esses projetos, estamos em uma fase mais preliminar de análise. A Fico é uma ferrovia que nos interessa bastante. Caso haja o corredor Fico-Fiol, vamos analisar as potencialidades e, a seu tempo, tomar a decisão. A princípio, nos interessa porque são vias que levam ao Norte. O Norte é o futuro, é o Norte que vai mudar a logística do Brasil. E, além do Mato Grosso, a região do Matopiba \[Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia] terá destaque na expansão”, diz.
Em relação à renovação antecipada da FCA, Pousada afirma que as negociações estão sendo conduzidas pelo governo federal. O objetivo da empresa é renovar o contrato por mais 30 anos, em troca de R$ 13,8 bilhões de investimentos, além de uma outorga de R$ 3,3 bilhões - os valores ainda são preliminares.
As discussões, porém, deverão ser duras. A dificuldade é que se trata de uma malha extensa, de 7.220 km, que atravessa sete Estados: Bahia, Sergipe, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. No início deste ano, foram feitas audiências públicas, nas quais vieram à tona questionamentos e uma clara disputa entre os Estados pelos recursos gerados a partir da renovação. O Ministério de Infraestrutura projeta encerrar o processo no próximo ano.
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