Ao assumir o Ministério da Saúde do governo Jair Bolsonaro (sem partido) em maio de 2020, o general da ativa Eduardo Pazuello foi apresentado como um especialista em logística. Porém, desde então, uma série de erros operacionais marcaram a atuação do órgão em meio à pandemia da Covid-19.
Ameaçado de ser investigado pelo Senado Federal por sua atuação na crise, Pazuello teve que prestar esclarecimentos no Congresso. A casa ainda avalia a abertura ou não de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a apurar a conduta do governo federal durante a pandemia.
Listamos a seguir os sete erros de logística cometidos pela pasta nos últimos meses:
1) Vacinas pro lugar errado
O mais recente equívoco logístico cometido pelo Ministério da Saúde foi uma confusão com o destino de remessas da vacina contra Covid-19. O governo enviou para o Amapá uma carga de 78 mil doses do imunizante Oxford/Astrazeneca que deveria ser destinada ao Amazonas.
Com isso, o Amazonas, que vive uma crise em seu sistema de saúde, recebeu apenas as 2 mil unidades que seriam remetidas ao estado vizinho. A pasta afirmou que corrigirá o erro e que o Amapá ficará com as 2 mil doses que lhe cabem, e as outras 76 mil serão enviadas ao Amazonas.
A causa dessa troca de remessas não foi esclarecida até o momento.
2) Inação frente ao colapso no Amazonas
O governo federal admitiu que sabia do “iminente colapso do sistema de saúde” do Amazonas por conta do novo coronavírus dez dias antes de a crise estourar. A informação faz parte de um ofício encaminhado pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF).
3) Vaivém de vacinas da Índia
No início deste ano, o governo anunciou que enviaria um avião à Índia para buscar vacinas contra a Covid-19. O ministério da Saúde divulgou o plano à imprensa, e um avião da Azul foi adesivado com a marca “Brasil imunizado” para fazer a viagem.
Porém, as negociações entre os governos brasileiro e indiano ainda não estavam concluídas. A partida da aeronave teve que ser adiada mais de uma vez, após um recuo da Índia, que não autorizou a exportação, sob a justificativa de que coincidiria com o início da vacinação local.
Com o fracasso do plano inicial, o avião foi deslocado para levar cilindros de oxigênio a Manaus. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, atribuiu ao “fuso horário” a dificuldade de negociação com a Índia.
4) Demora para compra de seringas
O Ministério da Saúde demorou três meses para responder à Organização Panamericana da Saúde (Opas) se desejaria ou não efetuar compra de 40 milhões de seringas. O primeiro contato da pasta com a organização foi em 10 de agosto, quando o ministério questionou a Opas sobre a possibilidade de fornecimento de 40 milhões de seringas por meio do fundo rotatório. Porém, o governo se queixou do preço dos insumos.
Diante da falta de definição sobre a importação de seringas via Opas, o governo foi alertado de que isso poderia acarretar um prazo ainda maior para a chegada dos insumos no país. Somente em 10 de dezembro, após um novo orçamento apresentado em 7 de dezembro, a pasta decidiu fechar contrato com a Opas.
5) Opção pelo frete mais lento para seringas
No mesmo caso da compra das seringas, quando o governo finalmente fechou o negócio, optou pelo prazo de entrega mais demorado, escolhendo frete por navio, e não por avião. O Ministério da Saúde chegou a contrariar um parecer da própria pasta que recomendava a compra de seringas com entrega por frete aéreo para garantir que o país tivesse insumos suficientes a tempo para efetuar a vacinação contra a Covid-19.
6) Testes parados em um armazém
Em novembro do ano passado, foi revelado que Ministério da Saúde tinha estocado 6,8 milhões de testes RT-PCR, considerados o "padrão ouro" para diagnosticar a Covid-19, mesmo com o país tendo um ritmo de testagem muito aquém da meta criada pela própria pasta.
Além disso, os testes tinham prazo de validade entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, ou seja, estavam prestes a vencer. O governo, então, pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) uma extensão da validade do produto. Em dezembro, a agência aprovou, e os lotes passaram a poder ser usados até abril.
7) Menores de idade listados como vacinados
O banco de dados do Ministério da Saúde lista, como vacinadas, 2.355 pessoas com menos de 18 anos. A princípio, a vacinação para esse grupo não é permitida, já que nem a CoronaVac nem o imunizante da Oxford/AstraZeneca foram testados em menores de idade.
Procurada, a pasta não informou se menores de idade foram mesmo vacinados ou se os dados de idade e data de nascimento de adultos foram inseridos de forma errada.
Para especialistas, as incoerências nos dados aparentam ser um erro de registro no sistema.
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