Ferramentas são fundamentais para reestruturar cadeia de suprimentos do setor de logística
O crescimento expressivo do comércio eletrônico este ano - com alta de 56,8% no faturamento de janeiro a agosto, em comparação ao mesmo período do ano passado - colocou pressão sobre o setor de logística - que viu a demanda por entregas superar as expectativas para 2020.
O número de pedidos de mercadorias no e-commerce avançou 65,7% no período, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) e a logística “virou um gargalo, registrando atrasos e problemas de atendimento”, afirma Rodolfo Eschenbach, líder de estratégia e consultoria da Accenture.
Para o especialista, as dificuldades enfrentadas escancaram o atraso do setor na adoção de tecnologias, especialmente em processos de movimentação de mercadorias e gestão das entregas. “As empresas que estavam adiantadas na transformação digital foram mais ágeis na adaptação”, afirma.
O baque foi sentido pelas transportadoras, os operadores logísticos e também na expedição de fábricas e lojas. “O e-commerce era um canal secundário para a maior parte das empresas. Muitas não possuíam processos para vendas on-line”, explica Eschenbach.
Com o isolamento social, a migração para o comércio eletrônico aconteceu em massa. A plataforma iFood, por exemplo, digitalizou 100 mil restaurantes durante a pandemia e fechou agosto com 236 mil estabelecimentos ativos no sistema - 74% mais parceiros do que o registrado em janeiro.
O iFood oferece o serviço de marketplace, para restaurantes que possuem frota própria, e também conecta entregadores àqueles sem estrutura para o delivery. Nesta modalidade, foram processados 15 milhões de pedidos só em agosto, gerando trabalho para 150 mil entregadores. “A plataforma se tornou alternativa imediata para quem não tinha canal digital”, diz Roberto Gandolfo, vice-presidente de logística do iFood.
Como toda nativa digital, o iFood usa recursos de inteligência artificial desde o início de sua operação. Treina algoritmos para calcular rotas, estimar tempo de entrega, encontrar o entregador disponível e mais perto da loja. Na prática oferece um sistema de gestão tanto para os estabelecimentos como para os prestadores de serviço de transporte. “Os entregadores conseguem enxergar onde tem demanda, os pedidos que realizou, as rotas. Está tudo no aplicativo”, diz.
A agilidade do sistema é garantida por técnicas de computação cognitiva que baixam o tempo de processamento de dados. Como resultado, o iFood consegue manter uma média de 27 minutos entre o registro do pedido e a entrega da comida ao consumidor.
Segundo Gandolfo, com a chegada da pandemia, a equipe trabalhou no ajuste do sistema para absorver a demanda dos restaurantes sem ampliar, na mesma proporção, o número de entregadores.
“Estávamos preocupados em manter o nível de renda desses profissionais. Tínhamos de fazer mais com a mesma base”, afirma. Para os restaurantes, a plataforma entrega dados logísticos - métricas valiosas como o tempo médio de preparo na cozinha, os pratos mais pedidos e previsão de demanda. “Quem não tinha sistema de delivery pôde entender, rapidamente, a dinâmica do modelo”, diz.
Na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D), há uma equipe dedicada ao estudo de modais de entrega. Entre as novidades estudadas pelo iFood está o uso de drones. A empresa conseguiu autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para realizar testes na cidade de Campinas, interior paulista. “O drone reduz de 12 para dois minutos o tempo de entrega, em um trajeto de dez quilômetros”, afirma Gandolfo.
Para ele, o equipamento não vai substituir as motos, mas criará possibilidades de atendimento dentro de bolsões urbanos. Como exemplo, ele utiliza os condomínios residenciais. “É mais rápido, nestes casos, enviar o drone. Podemos criar uma área de pouso dentro desses bolsões”, explica.
Para Gustavo Brito, diretor de indústria digital da IHM Stefanini, as empresas terão de mudar seus modelos de negócios para acompanhar as novas tendências de consumo, o que inclui uma revisão nos processos logísticos. “Os clientes não vão tolerar atrasos e atendimento ruim de quem deixa o produto em sua porta”, alerta. A boa notícia é que as tecnologias ligadas à logística 4.0 estão mais acessíveis e vão ajudar na reestruturação da cadeia de suprimentos. “O relevante é entender que a tecnologia é o meio para resolver problemas de negócios. O foco é no modelo e não em hardware e software”, aconselha.
Avaliar as necessidades reais e promover mudanças incrementais e constantes é o caminho mais indicado. Para Brito, é preciso ter equilíbrio entre os “sonhos” da companhia e a urgência, traçando planos para implementar processos de curto prazo e com ganhos imediatos na operação. “Para quem está no início da jornada digital, não adianta querer armazéns automatizados e cheios de robôs. A conta não fecha”, diz.
O ideal é apostar em tecnologias de rastreamento de mercadorias e sistemas capazes de aumentar a produtividade da equipe. “É um processo progressivo, que demanda disciplina, investimento e esforço contínuo.” Outra dica é investir na integração com outros elos da cadeia produtiva, acompanhando a carga durante a movimentação. “Depois de arrumar a casa, é preciso agregar informações dos parceiros logísticos”, diz Brito.
Segundo Angela Gheller, diretora de manufatura e logística da Totvs, a pandemia está puxando a agenda de investimentos em tecnologia e a pressão da cadeia produtiva deve reduzir o atraso. “As embarcadoras estão exigindo eficiência e digitalização”, afirma.
O acesso direto ao consumidor final é um dos motivos desta nova demanda. As fábricas de bens de consumo, acostumadas a escoar a produção para o varejo e centros de distribuição, estão agora em contato direto com o seu cliente. “A boa logística é essencial neste processo”, explica Gheller.
Uma abordagem pragmática é o direcionamento da equipe de Adolpho Bastos, vice-presidente de logística para Scania Latin America. Para ele, a capacidade de rastrear a carga é o atributo mais valioso da logística. “A rastreabilidade sempre fez parte do dia a dia da nossa operação. Quando começou a covid-19, na China, ficamos obcecados em melhorar o sistema”, diz.
A equipe de Bastos acompanhou a evolução da pandemia na Europa e sua chegada ao Brasil. Percebeu que haveria uma crise logística, interferindo nas entregas globais de peças e insumos para seus veículos. Começou, então, a aplicar modelos de demanda e de entrega para entender quais ações seriam necessárias. “Em março, já tínhamos mapeado a localização de tudo o que precisávamos na produção”, conta Bastos.
Obter esse nível de informação é um processo longo. A Scania criou um laboratório de logística que, desde 2017, toca projetos de transformação digital. Instalou uma torre de controle de onde monitora sua cadeia de suprimentos. Acompanha pedido, carga, chegada de produtos no porto (importação) e despacho de mercadorias (exportação). “Temos, em tempo real, a posição de tudo”, comenta Bastos.
A importância da operação logística torna-se evidente com o isolamento social. O serviço é considerado essencial e não pode parar. O primeiro choque na Ambev, lembra Jean Pierre Carillo, diretor de tecnologia em logística, foi o de preparar a equipe para continuar na ativa. “Adaptamos veículos, centros de distribuição e processos para proteger a saúde das pessoas”, comenta.
Entre as ações, ele cita distribuição de álcool em gel, máscaras, instalação de tanques de água para lavar as mãos nos caminhões e revisão de procedimentos. A área de tecnologia criou um aplicativo para medir e manter o distanciamento entre as pessoas. A solução usa o sinal bluetooth dos dispositivos móveis para alertar sobre a necessidade de afastamento. “A ferramenta também nos permitiu rastrear quem teve contato próximo com profissionais com suspeita de covid-19. Assim conseguimos monitorar e isolar os colaboradores, evitando a disseminação da doença na empresa”, explica Bruno de Barros Leite, líder de novos negócios na Ambev.
Com a equipe protegida, a empresa deu início ao monitoramento de dados para prever a demanda por bebidas, entender os efeitos sobre o fechamento de bares e restaurantes e procurar alternativas para escoar a produção. Ligou, como define os executivos, o instinto de sobrevivência.
Nos centros de distribuição, com a equipe desfalcada, a saída foi acelerar a transformação digital, implementando ferramentas previstas no planejamento, mas ainda em fase de desenvolvimento e testes. “Ajustamos os sistemas para a necessidade da operação, implementamos e fomos atualizando”, diz Carillo. Entre os aprendizados, o executivo destaca a decisão de migrar o sistema de roteirização. A Ambev apostou em centralizar a solução em uma torre de controle e, de lá, comandar toda a movimentação de carga.
Além de melhorar o desempenho logístico, a empresa uniformizou a captação de dados, matéria-prima para os sistemas de aprendizagem de máquinas e algoritmos que planejam a logística urbana. Na gestão de suprimentos, a equipe trabalhou na integração entre as informações da logística e dados de consumo para munir as fábricas. “Nossa atuação é do campo ao copo. Temos de rastrear desde o pedido de matéria-prima até a entrega na casa do consumidor”, ressalta Leite. Com a solução, ficou mais fácil mudar planos de produção. “Ao percebermos que um ingrediente vai atrasar, avisamos o gestor da fábrica, que tem tempo reprogramar a planta para produzir outra receita”, complementa Carillo.
Entre as ações da DHL, Eduardo Nogueira, vice-presidente de supply chain, destaca o sistema de gestão de pátio, criado para reduzir o tempo de circulação dos caminhões nos centros de distribuição e o contato físico entre as pessoas. “O motorista instala um aplicativo e, antes de chegar, sabe qual será sua carga e a doca onde deve ir”, comenta.
A ferramenta reduz em até 60% o tempo de circulação dos veículos nas dependências da DHL. De acordo com Nogueira, a pandemia aumentou a pressão dos clientes. A demanda forte do comércio eletrônico exigiu adaptações e melhorias de processos. Outro fator relevante foi a busca dos fabricantes de bens de consumo por soluções logísticas para atender o consumidor final. “É preciso tecnologia para viabilizar uma operação como esta. As exigências são muito diferentes”, afirma.
Fonte: Valor Econômico - Suplemento Infraestrutura e Logística
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