O custo do diesel continua no centro das preocupações do setor logístico brasileiro, mas a pauta de pleitos inclui a desburocratização fiscal, a regulamentação da atividade e a garantia de continuidade de políticas já implantadas. O setor teve a primeira reunião com o alto escalão do atual governo e saiu otimista com a recepção das propostas apresentadas.
Na noite do dia 18, quarta-feira da semana passada, representantes da Associação Brasileira dos Operadores Logísticos (Abol) estiveram reunidos com o ministro dos Transportes, Renan Filho. A primeira impressão foi de muita abertura ao diálogo e disposição de “fazer diferente”.
“O ministro ainda não definiu seu segundo escalão, mas mostrou muita disposição ao receber o setor de forma muito aberta”, afirma Marcella Cunha, diretora executiva da Abol.
Quanto aos pleitos do setor, a diretora afirma que o ministro se mostrou disposto, por exemplo, a seguir com o plano de unificação dos documentos fiscais que foi definido pelo governo passado e agora precisa sair do papel. Ela explica que hoje são 90 tipos diferentes de documentos necessários ao transportador, dependendo do tipo de carga, valor, trajeto e de outras variáveis. A unificação será implantada por etapas e por regiões.
Quanto à questão do diesel, a Abol define como uma das questões mais sensíveis ao setor. “Batemos recordes de transporte com a pandemia. Recordes de geração de emprego, de carga transportada e de receita. Mas isso não se refletiu no lucro. No ano passado, algumas empresas chegaram no seu limite”, afirma Cunha.
A Abol tem 31 associadas entre multinacionais e empresas médias com receita mínima de R$ 100 milhões por ano. Em 2021, último dado oficial, tinha 2 milhões de empregos, recolheu R$ 44 bilhões em impostos e transportou 391 milhões de toneladas de cargas. As empresas hoje não fazem apenas o transporte, mas têm de oferecer também serviços de armazenagem e gestão de estoque.
“Temos um “delay” em torno de dois meses entre o reajuste na bomba de combustível, que é imediato, e a renegociação com nossos clientes. Isso obrigou a mudar nossos contratos. Antes, a revisão era anual, agora, passou para a ser trimestral”, afirma a executiva.
Cunha lembra que uma das promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi rever a política de preços dos combustíveis praticada pela Petrobras. Como o novo governo ainda não assumiu de fato o comando da estatal, fica a expectativa de qual será escolhida.
Cunha está otimista pelas primeiras medidas que foram adotadas pelo governo. Ela lembra que, logo no dia 1º de janeiro, a Medida Provisória 1.157 manteve o benefício de alíquota zero de PIS e Cofins para compra de óleo diesel até o fim de 2023. A MP que garantia o crédito tributário, que pode ser compensado já no mês seguinte, tinha perdido a validade no dia 31 de dezembro.
O setor ainda espera que o atual governo mantenha em vigor a MP 1153, de dezembro de 2022. O dispositivo transfere para o operador logístico a contratação do seguro, que até então era negociado pelo dono da carga. “Vemos a medida com bons olhos porque gera mais eficiência ao setor logístico”, afirma a diretora da Abol.
Fonte: Valor Econômico