A Rumo, empresa de logística do grupo Cosan, inaugura nesta terça-feira (27) o trecho considerado mais importante de sua operação na Ferrovia Norte-Sul. Em março deste ano, a empresa já havia iniciado a movimentação na primeira etapa da via, entre Estrela D’Oeste (SP) e São Simão (GO). Agora, a companhia coloca em funcionamento o novo terminal de de Rio Verde (GO), que permitirá uma ampliação considerável do volume de carga transportado.
“O novo terminal fica 200 km acima de São Simão. Então, a ferrovia chegará mais perto dos produtores do Sudoeste de Goiás e poderá captar carga do Leste do Mato Grosso”, diz Pedro Palma, vice-presidente comercial da Rumo. A estrutura, que demandou R$ 400 milhões de investimento, terá capacidade para 11 milhões de toneladas de grãos por ano.
A Rumo assumiu o tramo central da Norte-Sul em julho de 2019, sob o compromisso de concluir a obra da ferrovia e, enfim, tirar do papel o corredor logístico concebido há décadas para ser a “espinha dorsal” do país.
O trecho operado pela empresa vai de Estrela D’Oeste (SP) até Porto Nacional (TO). A via tem conexões nas duas extremidades: ao sul, há ligação com a Malha Paulista, outra concessão da Rumo, que chega até o Porto de Santos. Ao norte, a conexão é com as ferrovias da VLI e Vale, que vão até o porto de Itaqui, em São Luís. Até agora, os investimentos da Rumo se concentraram principalmente no trecho Sul, para viabilizar o corredor de escoamento até Santos, todo ele operado pelo grupo.
Ainda falta concluir o restante da ferrovia. No início do ano, a previsão era finalizar ainda em 2021, mas hoje a perspectiva é concluir “no primeiro semestre de 2022”, afirma Palma. Resta concluir apenas um último pedaço, de aproximadamente 290 km, entre Rio Verde e Ouro Verde de Goiás (próximo a Anápolis). O trecho seguinte, que vai até o Tocantins, já estava construído e em operação antes mesmo da concessão da ferrovia à Rumo.
Quando houver a conclusão total das obras, a expectativa é atrair as cargas agrícolas também do Norte de Goiás e do Sul de Tocantins, que poderão ser escoadas pelo Porto de Santos. Além disso, a ideia é transportar contêineres entre o Maranhão e o Sudeste, segundo Palma.
No entanto, a avaliação é que o principal volume da Norte-Sul estará concentrado “de Rio Verde para baixo”. “A demanda já estabelecida está no Sul e Sudoeste de Goiás. Acreditamos que a chegada da infraestrutura logística vai estimular os produtores agrícolas \das demais regiões atendidas pela via], mas são processos de prazo mais longo”, diz ele.
O foco da ferrovia é o transporte de grãos, como soja, milho e farelo. Mas há potencial de outras cargas. Em Rio Verde, já está em construção um terminal de fertilizantes, em parceria com a Andali (joint venture da cooperativa americana CHS e da BRFértil), onde haverá estrutura para transbordo e mistura dos adubos. A planta deverá ficar pronta no primeiro semestre de 2022.
Também deverá ser construída uma base para combustíveis, para receber gasolina e diesel da refinaria de Paulínia (Replan) e biocombustíveis dos produtores agrícolas da região. “Estamos em fase final de detalhamento do projeto e seleção do parceiro adequado”, afirma Palma. A operação deverá começar até o início de 2023, estima o executivo.
Apesar dos investimentos compartilhados com parceiros estratégicos, ele diz que serão terminais “bandeira branca”, que poderão atender outros grupos.
Além da Norte-Sul, a Rumo busca consolidar sua posição na rota de escoamento agrícola com outro projeto, anunciado na semana passada: a extensão da Malha Norte, no Mato Grosso. O objetivo é que a ferrovia, que hoje chega até Rondonópolis, alcance Lucas do Rio Verde, ampliando a captação de carga, que será escoada também via Santos.
A extensão da malha vinha sendo negociado com o governo federal, mas diante de dificuldades nas conversas, acabou saindo por meio de um projeto do Estado do Mato Grosso. A contratação ainda terá que passar por chamamento público, mas a escolha da Rumo é dada como certa. Na visão de Palma, não faz diferença se a obra sairá via governo federal ou estadual, contanto que seja viabilizada.
No mercado, uma das dúvidas é a segurança jurídica do projeto estadual, feito com base em uma lei inovadora aprovada no início deste ano, que autoriza obras ferroviárias por meio de autorização, e não concessão — ou seja, projetos privados, feitos sem licitação ou atuação direta do Estado. Questionado sobre o tema, o executivo minimiza o temor. “O governo fez de forma bastante diligente, com transparência. Temos a expectativa de que o projeto caminhe sem problemas.”
Fonte: [Valor Econômico
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