Apesar de o primeiro semestre de 2022 ter sido marcado por momentos de tensão com impacto direto no setor de logística, como os conflitos no Leste Europeu, inflação global e aumento das taxas de juros no país, além dos novos reajustes no combustível, a Associação Brasileira dos Operadores Logísticos (ABOL) observa o período como de recuperação de volumes de várias mercadorias no nível pré-pandemia, com crescimento dos Operadores Logísticos em diversos aspectos.
Os OLs de grande porte, com faturamento anual a partir de R$ 601 milhões, se mostraram mais resilientes diante das dificuldades impostas pelos constantes aumentos do diesel pela Petrobras e de "utilities" (energia, água). A inflação reduziu sobremaneira o poder de compra do cidadão e, consequentemente, interferiu na demanda por operações logísticas.
A ID Logistic teve crescimento de 40,3% na receita do segundo trimestre do ano, seguindo a tendência de forte alta nas receitas das atividades internacionais da companhia. De acordo com a empresa, o resultado confirma o bom momento desde o início de 2022. O foco da ID foi na integração das últimas aquisições, mantendo crescimento orgânico.
A DHL informou, recentemente, que seus lucros cresceram no segundo trimestre, subindo de 1,29 bilhão de euros para 1,46 bilhão de euros no período. As receitas subiram 23%, a 24,03 bilhões de euros, enquanto o lucro antes de juros e impostos (Ebit) subiu 12%, a 2,34 bilhões de euros.
A JSL apresentou um incremento orgânico de 27% com resiliência de margens e equilíbrio financeiro dos contratos. A companhia ressaltou ainda a aquisição da Truckpad, empresa de intermediação de fretes.
Já o Grupo Toniato apontou que, em comparação a 2021, "o volume aumentou, mas o resultado diminuiu e o grande motivo foi o aumento do diesel e insumos, que consumiram a nossa margem". Já para o segundo semestre as esperanças estão renovadas com o repasse da alta do combustível para os clientes".
A Penske também deixou claro que 2021 ainda reflete os impactos da pandemia, comprometendo alguns segmentos de forma positiva e outros de forma negativa, trazendo um cenário de certa estagnação no consolidado geral. "Este primeiro semestre demonstra resultado de recuperação de volumes pré-pandemia".
“Temos observado um setor otimista, porém cauteloso, pois também vivemos um momento pré-eleitoral ainda bastante instável e indefinido. Seguimos acompanhando as mudanças e na defesa pela aprovação do Projeto de Lei 3.757/2020, que visa regulamentar a atividade do Operador Logístico no Brasil, trazendo mais segurança jurídica. Atualmente, ele tramita na Comissão de Viação e Transportes (CVT) da Câmara dos Deputados, que foi muito receptiva ao texto”, destaca a diretora presidente da ABOL, Marcella Cunha, que após mais de um ano à frente da Associação, mantém o tema como prioridade.
Desafios
Em contrapartida às expectativas otimistas do mercado, o grande desafio, aponta Marcella, será o de garantir investimentos robustos em pessoas, inovação e tecnologia - pilares essenciais para o desenvolvimento do setor - caso o cenário econômico brasileiro perdure. Ela observa que os atuais entraves precisam ser mitigados por políticas públicas mais estruturadas, permanentes e sistêmicas, ou seja, que impactem todos os elos da cadeia de suprimentos, do produtor ao consumidor final.
“Os OLs nunca investiram tanto em tecnologias e inovação de processos para que os serviços ofertados fossem realizados da forma mais inteligente, eficiente e econômica possível e precisarão seguir essa tendência para acompanhar as constantes transformações, principalmente no que se refere ao comportamento de consumo”, afirma a diretora presidente.
Vale lembrar que os incrementos tecnológicos ganharam um boom principalmente no período pandêmico, devido ao aumento das vendas online gerado pelo isolamento social. O consumidor se tornou mais exigente e os OLs precisaram se adequar, focando no processo e melhorando a interface com fornecedores/clientes e a distribuição de última milha ("last mile").
Os dados apresentados na última edição da pesquisa com o Perfil do Operador Logístico mostram que quem atende o e-commerce investe mais em Integração Tecnológica com clientes e fornecedores (91% vs 85%); Veículos Elétricos (43% vs 9%); Drones (23% vs 6%); Realidade Expandida (17% vs 6%); Veículos Autônomos (14% vs 3%); Computação em Nuvem (80% vs 62%); Data Analytics, usando Machine Learning e Inteligência Artificial (43% vs 21%), e Blockchain (11% vs 6%).
"De modo geral, o estudo revelou que em 2021 a maioria dos OLs realizou investimentos para melhorar a eficiência da operação e em softwares, e pretende seguir com o incremento até 2024", menciona Marcella. Os principais softwares utilizados pelos Operadores são o Transportation Management System (TMS) e o Warehouse Management System (WMS), que realizam o gerenciamento de transporte e armazenagem nas empresas. Elas já são consideradas tecnologias muito mais "habilitadoras" do que diferenciais, pois permitem a centralização das informações e a visualização de todas as operações logísticas, facilitando o controle e a tomada de decisão.
Segundo semestre
“Para este segundo semestre, a tendência é que a demanda por alguns serviços logísticos siga crescendo entre os diversos clientes, que vão desde a indústria de base e agronegócio ao grande varejo e e-commerce”, diz a diretora Executiva da ABOL.
São eles: Transporte Rodoviário Fechado ("FTL"); Transporte Rodoviário Fracionado ("LTL"); Distribuição Urbana; Armazém Geral; movimentações como Separação ("picking") e Embalagem ("packing"); Controle de Estoques; Crossdocking; Logística Reversa e Consultoria e Projetos Logísticos customizados.
“Os OLs oferecem grande diversidade de serviços e soluções, que vão além das atividades de transporte e armazenagem e boa parte é realizada de forma casada, ou seja, ofertados pela mesma empresa”.
Inclusive, nos últimos dois anos, houve um crescimento da demanda de alguns setores. Destacam-se os produtos de Cosméticos ("Personal Care"), atendido por aproximadamente 65% dos OLs e cujo aumento foi de 12% em relação a 2020; os Alimentos Processados (alta de 8%), e produtos Eletroeletrônicos (9%).
Outros aumentos significativos no mesmo período foram do Comércio Eletrônico (16%) e Produtos de Limpeza (14%), refletindo o comportamento de consumo resultante dos efeitos da pandemia, no qual as pessoas passaram a se preocupar mais com higiene e saúde e a transacionar mais pelas vendas online.