23/11/2021

Portos no Brasil enfrentarão efeitos mais severos do clima, aponta relatório

 Portos no Brasil enfrentarão efeitos mais severos do clima, aponta relatório


O setor portuário brasileiro já vem sentindo os efeitos das mudanças do clima e que serão cada vez mais severos, com potencial de gerar uma série de prejuízos para os portos e para economia nacional. A conclusão é do estudo "Impactos e Riscos da Mudança do Clima nos Portos Públicos Costeiros Brasileiros", apresentado nesta segunda-feira (22), em Brasília (DF). A publicação, produzida pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e pela Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, fez um levantamento das principais ameaças climáticas, riscos e impactos da mudança do clima e o ranking dos 21 portos públicos brasileiros analisados sob maior risco climático atual.

Vendavais foram os riscos climáticos mais críticos para os portos nacionais observados. De acordo com a publicação os cenários futuros indicam que 7 dos 21 portos analisados (33,3%) já possuem risco “alto” ou “muito alto” em relação a esse fenômeno, podendo passar para 76,2% (16 de 21) no cenário RCP 8.5 (de altas emissões) para o ano de 2050. Imbituba (SC), Santos (SP), Recife (PE), Rio Grande (RS), Salvador (BA), Paranaguá (PR) e Itaguaí (RJ) estão entre os portos mais ameaçados por vendavais. Já para o índice de risco de tempestade e aumento do nível do mar, os resultados classificados como “alto” e “muito alto” permaneceram inalterados ou com pouca variação entre os períodos e cenários analisados.

Para o período de 2050 e cenário de emissões RCP 8.5, esse resultado é projetado em 52,4% (11 de 21) dos portos analisados, para as ameaças de tempestade e aumento do nível do mar. Neste mesmo período e cenário de emissões, a região Nordeste foi a que apresentou mais portos com nível “muito alto” ou “alto” no índice de risco climático para os vendavais e tempestades, igualando-se à região Sul para o aumento do nível do mar.

Alguns portos mantiveram-se entre os cinco primeiros em, pelo menos, duas das ameaças analisadas: Aratu-Candeias (2º lugar para tempestade e 1° lugar para aumento do nível do mar); Rio Grande (1º lugar para tempestade e 2º lugar para aumento do nível do mar); Recife (5° lugar para tempestades e 1º lugar para vendavais); Santos (3º lugar para vendavais e 4º lugar para aumento do nível do mar); São Francisco do Sul (4° lugar para tempestades e 5º lugar para aumento do nível do mar).

“Os impactos nas operações portuárias em função da mudança do clima já são uma realidade no Brasil, e, mantidas as condições atuais, há uma tendência de piora neste cenário”, alerta o relatório, que destaca a necessidade de ações entre governos, autoridades portuárias e agência reguladora para mitigar os impactos da mudança do clima nos portos brasileiros. Os resultados apresentados têm o objetivo de subsidiar políticas públicas nacionais sobre a adaptação da mudança do clima no setor portuário, além de permitir uma regulação e fiscalização mais focadas.

A redução do risco climático envolve a adoção de medidas de adaptação estruturais e não estruturais. Entretanto, uma pequena parcela dos portos adota medidas que os tornem resilientes às ameaças climáticas analisadas. “Ao levar esse fato em consideração e os resultados dos índices de risco climático, nota-se a necessidade imediata da adoção de medidas de adaptação por parte do setor portuário como forma de minimizar os possíveis impactos e prejuízos gerados na ocorrência do risco de tempestades, vendavais e aumento do nível do mar”, diz o relatório.

A segunda parte do projeto terá a apresentação de análises customizadas de três portos: Santos (SP), Rio Grande (RS) e Aratu (BA). Os portos foram selecionados a partir dos rankings de risco climático da primeira etapa, além de considerar o recorte regional e a perspectiva de novos investimentos materializada em arrendamentos qualificados no Programa de Parceria de Investimentos (PPI).

A avaliação da Antaq é que os atuais estudos sobre os riscos climáticos aos quais o setor portuário está ou estará exposto ainda são embrionários e sem informações robustas sobre a eficácia das medidas de adaptação. Um dos motivos da falta de informações disponíveis, de acordo com o relatório, está na dificuldade de se encontrar avaliações sobre as medidas já implementadas por alguns portos, possivelmente devido à falta de monitoramento.

O gerente de desenvolvimento e estudos (GDE) da Antaq, José Gonçalves Moreira Neto, disse que os portos já estão sujeitos a eventos extremos e que a tendência é que eventos extremos aumentem ao longo do tempo, trazendo impactos para infraestrutura portuária e prejuízos logísticos. Ele lembrou que estudos em 2015 apontavam que já eram sentidos impactos das mudanças climáticas nos portos brasileiros, porém por ‘limitações técnicas’ à época consideraram principalmente a questão do aumento do nível do mar. Neto salientou que o estudo atual incluiu novas ameaças e mapeou portos que merecem maior atenção desde já.



Fonte: Portos e Navios

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