27/03/2024

Paralisação do porto de Baltimore provocará atrasos no comércio

 Paralisação do porto de Baltimore provocará atrasos no comércio



A queda da ponte que fechou o porto de Baltimore é uma importante estrada americana ontem vai provocar semanas ou meses de interrupções no transporte na região do Meio-Atlântico dos EUA e acelerar a tendência de reorientação da carga para a Costa Oeste do país, com importadores e exportadores buscando evitar possíveis gargalos em importantes centros de comércio exterior, como Boston e Miami.


Autoridades de Maryland disseram ontem que o tráfego marítimo de entrada e saída do porto seria suspenso até novo aviso. Embora o porto seja menor que os de Nova York e Nova Jersey, é o principal ponto de entrada de carros importados na Costa Leste.


Em 2023, Baltimore movimentou um recorde de 52,3 milhões de toneladas de carga estrangeira, no valor de US$ 80 bilhões. Isso incluiu mais de 847 mil carros e caminhões leves e 1,3 milhão de toneladas de máquinas agrícolas e de construção. É também o segundo maior porto de exportação de carvão dos EUA.


“As empresas já começaram a reorientar volumes da Costa Leste para a Costa Oeste”, disse Ryan Petersen, fundador e executivo-chefe da Flexport, plataforma de frete digital com sede em São Francisco. “Com Baltimore ficando fora de cena isso significa que todos os outros portos da Costa Leste terão um aumento de carga — criando congestionamentos e atrasos”.


Isso também significa que empresas e consumidores poderão se deparar com a repetição de um dos grandes efeitos colaterais da pandemia da covid-19 para as cadeias de suprimento: um aumento repentino de 10% ou 20% nos volumes movimentados por um porto, “suficiente para causar enormes atrasos, congestionamentos, navios aguardando no mar e todos os tipos de atrasos que podem se acumular”, disse Petersen.


Enquanto as autoridades se concentravam nos esforços de resgate — seis trabalhadores ainda estavam desaparecidos ontem —, especialistas em logística e economistas já avaliam as consequências do acidente. Segundo eles, o fechamento será um ponto de estrangulamento logístico por algum tempo, mas isso será um problema localizado e não deverá ter um impacto significativo sobre a sólida economia dos EUA, com as empresas sendo capazes de se adaptar.


Montadoras europeias, como BMW, Volkswagen e Mercedes-Benz Group, têm instalações dentro e no entorno do porto. A Ford Motor informou que já tenta encontrar rotas alternativas, assim como a General Motors.


“É um grande porto com muito fluxo de mercadoria, então terá um impacto," disse John Lawler, diretor de finanças da Ford. “Vamos trabalhar para contornar a situação. Teremos que desviar peças a outros portos ao longo da Costa Leste ou a outras partes do país.”


De acordo com Dean Croke, analista da DAT Freight & Analytics, Baltimore é um dos principais portos do país em movimentação de máquinas agrícolas e de construção, como colheitadeiras, tratores, enfardadeiras de feno, escavadeiras e retroescavadeiras.


Março “é o mês de pico de importação em Baltimore de equipamentos agrícolas, em antecipação à temporada de plantio no Centro-Oeste”, disse Croke. Também é um porto importante para materiais de construção como madeira e gesso, segundo Croke.


A Everstream Analytics, que avalia riscos na cadeia de suprimentos, destacou que o porto também é um centro crucial para o comércio de mercadorias como aço, alumínio e açúcar, com cerca de 30 a 40 navios porta-contêineres atracando ali a cada semana.


A Xcoal Energy & Resources destacou que os problemas podem interromper o transporte de até 2,5 milhões de toneladas de carvão.


A A.P. Moller-Maersk, segunda maior companhia de navegação do mundo — que havia fretado de outra operadora o navio envolvido no desastre da ponte — está retirando Baltimore de todos os seus serviços em um futuro previsível.


“Isso vai desestabilizar os cronogramas dos navios e sobrecarregar as capacidades de mão de obra e trabalho em outros portos, como Filadélfia e Norfolk — levando a congestionamentos e atrasos que podem durar meses”, disse Mirko Woitzik, diretor de soluções de inteligência da Everstream.


Na avaliação de Lars Jensen, fundador da Vespucci Maritime, o incidente “provocará, em média, um aumento de 10% nos volumes” nos portos de Nova York-Nova Jersey e no porto de Virginia, em Norfolk. Também “dará margem a certos problemas de gargalos e a um aumento nos custos —, mas que deverão ser administráveis”.


Portos mais distantes como Savannah, Geórgia, e Charleston, na Carolina do Sul, também podem absorver volumes desviados, de acordo com Mike DeAngelis, da FourKites, plataforma de rastreamento on-line de cadeias de suprimentos. “Isso, inevitavelmente, terá um impacto nos fluxos de carga e na infraestrutura na Costa Leste.”


O desastre de ontem acontece em um momento que o sistema logístico internacional enfrenta várias tensões, como guerras e condições climáticas adversas.


“Os serviços de frete marítimo do Extremo Oriente para a Costa Leste dos EUA têm sido afetados pela seca no Canal do Panamá e pelo recente conflito no Mar Vermelho”, disse Emily Stausbøll, analista da firma de análises do setor de transporte Xeneta, com sede em Oslo, em comunicado. Esses fatores já fizeram as tarifas aumentarem 150% e, agora, “este último incidente vai se somar a essas preocupações”, disse ela.


A avaliação inicial dos economistas é que o impacto do desastre na economia dos EUA será limitado. “Eu diria que as consequências macroeconômicas serão limitadas”, embora isso mereça ser monitorado de perto, disse Gregory Daco, economista-chefe da EY.


“O impacto econômico mais persistente será a interrupção do tráfego ao redor da área de Baltimore por um período prolongado até que a ponte possa ser reconstruída”, disse Stephen Stanley, economista-chefe da Santander US Capital Markets.


Embora o impacto econômico como um todo seja limitado, isso “é apenas mais um lembrete da vulnerabilidade da infraestrutura e das cadeias de suprimentos da nação”, disse o economista-chefe da Moody's Analytics, Mark Zandi.


Com a rodovia interestadual 695 bloqueada pela ponte, haverá tráfego mais intenso na I-95 ou na I-895 no futuro previsível, segundo a Oxford Economics.


Quanto à extensão desse futuro, Peterson, da Flexport — que tinha dois contêineres no navio que atingiu a ponte e mais algumas centenas em navios rumo a Baltimore —, estima que o prazo para uma recuperação plena provavelmente será de “meses”.


“Mas, às vezes, esse pessoal faz milagres”, acrescentou.


Fonte: Valor Econômico



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