Parcerias estratégicas entre operadores logísticos e embarcadores de mercadorias, em busca de mais assertividade e eficiência nas entregas aos consumidores finais, têm se revelado as grandes responsáveis pelo crescimento acelerado da logística brasileira nos últimos anos, avalia Marcella Cunha, diretora-executiva da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL). Segundo ela, a receita dos operadores – um agrupamento de mais de 1,3 mil empresas que empregam 2,3 milhões de pessoas – passou de R$ 166 bilhões em 2021 para R$ 192 bilhões em 2023, o que não significa ausência de desafios.
“O que estamos vendo é o mercado ditando as regras do jogo para os operadores logísticos, que agora precisam lidar com pedidos a serem entregues no mesmo dia ou no dia seguinte, quando não nas próximas horas, o que os leva a estruturar operações específicas para lidar com uma infinidade de produtos”, diz Cunha.
“Embarcadores de todos os nichos – do e-commerce ao agro – são cada vez mais desafiados em termos de produtividade, nível de serviço, custos e preços pelos seus clientes finais. Isso aumenta a necessidade de fortalecer e consolidar parcerias com os operadores logísticos”, explica.
A norte-americana Penske Logistics, um dos principais fornecedores de soluções para a cadeia de suprimentos, armazenagem e logística do setor automotivo brasileiro, por exemplo, fechou parceria com a montadora alemã Mercedes-Benz para gestão de seu novo centro de distribuição de peças, em Itupeva (SP). Além disso, a operadora inaugurou um armazém multiclientes em Cajamar, na Grande São Paulo, com investimento superior a R$ 3 milhões. O armazém tem localização privilegiada – fica perto do aeroporto internacional de Viracopos, em Campinas (SP) – e permite modulação de espaço e rateio de custos entre clientes. Pelo menos cinco clientes devem operar simultaneamente o novo armazém, mas a empresa espera atrair também pequenas e médias empresas. “É um modelo que traz uma série de benefícios”, diz Paulo Sarti, diretor-presidente da Penske no Brasil.
O fechamento de novos contratos em escala crescente reflete o alinhamento com as necessidades dos clientes, diz Ramon Alcaraz, CEO da JSLCotação de JSL, empresa que tem mais de 30 mil empregados, 84 centros de distribuição, 1,4 milhão de metros quadrados dedicados à armazenagem e atua em 17 segmentos de negócios. "A JSL é hoje um empilhamento de contratos”, diz Alcaraz. “Saio todo dia em busca de projetos grandes que vão garantir o crescimento nos próximos anos”, acentua. No último trimestre de 2024, a empresa divulgou fechamento de contratos para os próximos 60 meses que somaram quase R$ 5 bilhões.
A JSL ainda não consolidou os números de 2024, mas caminha para se tornar uma empresa com receita anual entre R$ 10 bilhões e R$ 11 bilhões, fruto de um crescimento acelerado a partir de 2020, quando abriu seu capital e enveredou por uma estratégia de aquisições. “Mas isso não significa que estamos focados apenas na incorporação de empresas – 50% do crescimento acontece de forma orgânica", afirma Alcaraz.
Aquisições também fazem parte da estratégia da DHL Supply Chain, empresa da alemã DHL Group, fornecedora global de contratos logísticos. Uma de suas aquisições foi a brasileira Polar Transportes, que atua no segmento de saúde. “Mas nosso crescimento em 2024 foi fruto, basicamente, de estratégias orgânicas”, conta Fábio Miquelin, vice-presidente de operações de e-commerce da DHL no Brasil. Segundo ele, o ano foi marcado por investimentos e expansão dos negócios em mercados mais rentáveis como comércio eletrônico e transporte.
"Aumentamos o volume de carga transportada em 10% com o aquecimento da economia”, diz. Boa parte dos investimentos foi destinada a um centro de distribuição em Extrema (MG), inaugurado no ano passado, como parte do programa de expansão de soluções compartilhadas de armazenagem, distribuição e logística reversa entre vários clientes no segmento de e-
Companhia global com faturamento de 1,729 bilhão de euros, no último ano fiscal, uma alta de 11% em relação ao período anterior, a francesa FM Logistic registrou aumento de 30% nos seus negócios no país, informa Ronaldo Fernandes da Silva, presidente da subsidiária brasileira. “Foi um crescimento impulsionado pelo setor de transportes, que avançou ”, diz ele. Em 2024 foram movimentados mais de cem milhões de caixas de produtos entregues em várias regiões do país, e a previsão é crescer, em média, 25% ao ano.
Segundo Silva, o plano é centrar foco na ampliação da área de armazenagem para atender ao crescimento contínuo do comércio on-line, principalmente cosméticos e bens de consumo, que respondem por 10% do faturamento da empresa no país. A FM Logistic tem uma área de armazenagem de 80 mil metros quadrados em quatro centros de distribuição multiclientes no Sul do Brasil. Uma nova unidade, com sete mil metros quadrados, foi inaugurada em Cajamar (SP) e estão programados investimentos de mais de R$ 10 milhões para ampliar áreas de armazenagem.
O mercado de saúde tem sido um dos mais rentáveis e promissores para grandes operadores logísticos. É o caso da Ativa Logística, de São Paulo, que atua com uma frota de quase 1,9 mil veículos, cujos negócios no segmento de saúde responderam por 80% da receita de R$ 700 milhões de 2024. Especializada no transporte e armazenagem de medicamentos com temperatura controlada, a Ativa Logística destina anualmente, segundo Clóvis Gil, presidente da companhia, 14% do seu faturamento para a criação e ampliação de unidades, climatização de armazéns, seguindo regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além de sistemas de automação e pessoal qualificado.
Pelo menos R$ 30 milhões foram aplicados em 2024 na compra de 81 veículos e equipamentos para refrigeração. “A demanda por medicamentos no país aumenta a cada ano, sempre na casa de dois dígitos, por isso vamos investir cada vez mais para aumentar a capacidade operacional dos nossos clientes e futuras parcerias”, diz Gil.
Investimentos estratégicos em tecnologia e digitalização de processos, permitindo maior eficiência operacional e redução de custos favoreceram a expansão da base de clientes e das receitas (que atingiram R$ 1,023 bilhão em 2024) da Multilog. A estratégia não deve se alterar, segundo Fabrício Baggio, diretor de operações da empresa.
“As tendências para 2025 no setor de transporte rodoviário de cargas indicam transformação significativa, impulsionada por inovações tecnológicas, práticas sustentáveis e melhorias na infraestrutura rodoviária”, diz ele.
A intenção é aplicar os recursos em roteirização inteligente, otimização de cargas e sistemas de monitoramento, para reduzir o número de viagens vazias e diminuir o consumo de combustível. “Além disso, buscamos cada vez mais parcerias estratégicas com fornecedores que compartilham compromissos de sustentabilidade, para garantir que práticas responsáveis sejam adotadas em toda a cadeia de suprimentos”, afirma.
Criada em 2018 como parte da divisão de novos negócios do grupo Gerdau, para atuar como operadora logística, inicialmente na área de mineração e siderurgia, a G2L Logística expandiu suas operações em 2024 com soluções de logística integrada e multimodais para diversos setores, como automotivo e bens de consumo, diz Marcos Bagnolesi, CEO da G2L.
Fonte: Valor Econômico