Há um ano, enquanto a pandemia devastava um país após o outro e as economias estremeciam, eram os consumidores os que mais compravam. Agora, na recuperação, são as empresas que correm para acumular estoques.
Fabricantes de todos os tipos, como de colchões, automóveis e folhas de alumínio, compram matérias-primas além do necessário para sobreviver à velocidade vertiginosa com que a demanda por bens se recupera e amenizar o medo primitivo de ficar sem estoque. A onda de compras pressiona cadeias de suprimentos, e a escassez de produtos, gargalos logísticos e preços perto dos níveis mais altos na memória recente reforçam a preocupação de que o superaquecimento da economia global pode acelerar a inflação.
Cobre, minério de ferro e aço. Milho, café, trigo e soja. Madeira serrada, semicondutores, plástico e papelão para embalagens. Aparentemente, falta tudo. “É só nomear, e temos escassez”, disse Tom Linebarger, presidente do conselho e CEO da fabricante de motores e geradores Cummins, durante teleconferência este mês.
Os clientes “tentam obter tudo o que podem, porque veem a demanda em alta”, disse Jennifer Rumsey, presidente da empresa com sede em Columbus, Indiana. “Acham que isso vai se estender até o próximo ano.”
A diferença entre o grande aperto de 2021 e problemas de abastecimento no passado é a magnitude, e o fato de que não é possível ver um fim à vista. Grandes ou pequenas, poucas empresas são poupadas. A Girteka Logistics, maior frota de caminhões da Europa, diz que tem sido difícil encontrar capacidade suficiente. A Monster Beverage, com sede em Corona, Califórnia, enfrenta falta de latas de alumínio. A MOMAX Technology, de Hong Kong, atrasou a produção de um novo produto devido à escassez de semicondutores.
Para agravar ainda mais a situação, há uma lista extraordinariamente longa e crescente de calamidades que abalaram as commodities nos últimos meses. Um acidente no Canal de Suez prejudicou a navegação global em março. A seca tem causado estragos nas safras agrícolas. Uma onda de frio e apagão em massa afetaram as operações de energia e petroquímicas em toda a região central dos Estados Unidos em fevereiro. Há menos de duas semanas, hackers derrubaram o maior oleoduto de combustível dos EUA, elevando os preços da gasolina acima de US$ 3 o galão pela primeira vez desde 2014. Agora, a nova onda de covid-19 na Índia ameaça os maiores portos do país.
Para quem pensa que tudo vai acabar em alguns meses, vale a pena analisar um indicador dos EUA um tanto obscuro, conhecido como Índice de Gestores de Logística. O indicador é baseado em uma pesquisa mensal com diretores de suprimentos corporativos que busca identificar despesas com estoque, transporte e armazenamento — os três principais componentes no gerenciamento de cadeias de suprimentos — agora e em 12 meses. O índice atual está no segundo nível mais alto desde 2016, e o indicador futuro mostra pouca trégua daqui a um ano. O índice mostrou que tem sido muito preciso no passado, correspondendo aos custos reais em cerca de 90% das vezes.
Para Zac Rogers, que ajuda a compilar o índice como professor assistente na Faculdade de Negócios da Universidade Estadual do Colorado, é uma mudança de paradigma. No passado, essas três áreas eram otimizadas para baixos custos e confiabilidade. Hoje, com o aumento da demanda em comércio eletrônico, os armazéns saíram de áreas urbanas mais baratas para estacionamentos no centro ou espaços vazios de lojas de departamento onde as entregas podem ser feitas rapidamente, embora com imóveis, mão de obra e tarifas de água e luz mais caros. Antes vistos como passivos antes da pandemia, estoques cheios estão em voga. Os custos de transporte, mais voláteis do que os outros dois, não devem diminuir até que a demanda esfrie.
“Essencialmente, o que as pessoas estão nos dizendo é que será difícil fazer com que a oferta atenda à demanda”, disse Rogers, “e, por causa disso, continuaremos a ver aumentos de preços nos próximos 12 meses”.
Termômetros mais conhecidos começam a refletir os custos mais altos para famílias e empresas. Um índice de preços ao consumidor dos EUA, que exclui alimentos e combustíveis, registrou em abril a maior alta em relação ao mês anterior desde 1982. E os preços cobrados aos produtores americanos subiram duas vezes mais do que economistas esperavam. A menos que as empresas repassem esse custo para consumidores e aumentem a produtividade, isso deve corroer as margens de lucro.
Um crescente coro de observadores alerta que a inflação tende a subir ainda mais.
A ameaça tem sido suficiente para abalar capitais mundiais, bancos centrais, fábricas e supermercados. O Federal Reserve dos EUA enfrenta novos questionamentos sobre quando aumentará os juros para combater inflação — e o risco político percebido já ameaça interferir nos planos de gastos do presidente Joe Biden.\
Fonte: Valor
05/05/2025
Novo sistema de arrecadação da reforma tributária entra em fase de testes em junho
A partir de junho, 500 empresas poderão testar o novo sistema de apuração e arrecadação de impostos criado pela reforma tributária . Como mostrou a EXAME, o software para a Contribuição (...)