Desde que o setor marítimo mundial começou a discutir, já há alguns anos, a plausibilidade de navios autônomos para o transporte de mercadorias, uma transformação disruptiva agita as atividades marítimas e portuárias em nível global. Não estamos distantes do tempo em que navios e portos poderão ser operados sem o elemento humano. Ainda que improvável sua predominância no setor, a autonomia, agora, está no centro da arena da competição.
O mundo marítimo entendeu rapidamente como as inovações tecnológicas e a inteligência artificial poderiam acelerar a autogestão da navegação e dos portos, aportando volumosos investimentos na modernização dos sistemas a bordo de navios.
Projetos antes imagináveis na ficção se tornaram realidade. Lançado no fim de 2021, o navio norueguês Yara Bierkeland, que combinou tecnologia e eficiência energética, foi pioneiro entre os navios autônomos, ainda que não tenha excluído completamente a presença de uma equipe humana a bordo. Em seguida, o Mikage, da japonesa Mitsui Lines, conseguiu atracar sozinho, usando drones para soltar os cabos para os trabalhadores portuários. A transformação apenas começou.
O Brasil tem acompanhado com atenção o novo cenário e, desde 2020, conta com um cluster de inteligência artificial que reúne representantes do governo, da academia, de empresas marítimas e da indústria para promover soluções tecnológicas em parceria com centros de pesquisa e atrair investimentos para as novas apostas do País para o transporte marítimo e as atividades portuárias. Cidades portuárias brasileiras também já possuem importantes centros de inovação tecnológica.
Observe-se que a eficiência esperada para o transporte marítimo somente será atingida com a integração de toda a cadeia logística envolvida na movimentação de mercadorias, desde a coleta nas fábricas, armazenamento, expedição, transporte, descarga e entrega ao seu destinatário final. Nesse sentido, a guerra entre Rússia e Ucrânia pode desacelerar a onda transformadora do setor. Além da tragédia humanitária e consequente escalada da miséria, o conflito traz riscos à integridade de portos e navios e à infraestrutura de comunicações, não restritos aos países envolvidos. Não menos relevantes são os impactos sofridos com a guerra cibernética entre essas nações.
É preciso avançar na proteção das estruturas de comunicação para que nenhum navio opere isoladamente, mas como parte da rede mundial de suprimentos. A agenda empreendedora de uma navegação inteligente e tecnológica reivindica um ambiente de paz e de colaboração entre as nações.
Fonte: Estadão