As restrições de espaço em navios continuam trazendo impactos negativos nas movimentações portuárias da Costa Leste e do Golfo dos Estados Unidos. Os terminais de contêineres estão quase no limite de suas capacidades, ocasionando entraves nesse tipo de descarregamento, principalmente porque os portos estão lidando com volumes recordes de TEUs em 2022.
De acordo com o relatório “Situação do mercado global de transporte de contêineres” da Project44, plataforma global de monitoramento das cadeias de suprimentos, enquanto a Costa Leste dos EUA registrou um aumento de 11,2% em agosto, comparado a igual mês de 2021, a Costa do Golfo registrou um crescimento de 16,1%. Já a Costa Oeste norte-americana mostrou uma melhoria de 13,9% nos tempos de atracação na mesma comparação.
Conforme o documento, a greve de oito dias no maior porto de contêineres do Reino Unido – o Felixstowe – trouxe gargalos nos tempos de atracação, que cresceu 86,1% entre julho e agosto passados. A situação foi vista como crítica, levando em conta que em torno de 48% de todas as importações, que chegam ao país, aporta nesse complexo. As linhas de transportadoras também se viram obrigadas a redirecionarem seus navios para outros grandes portos europeus e menores do Reino Unido.
De acordo com a Project44, todo esse cenário culminou em um aumento considerável na carga de trabalho de outros portos da região, como os de Southampton e London Gateway, com “efeitos colaterais” nos complexos portuários de Roterdã e Hamburgo, e refletindo no crescimento de 12,2% nos tempos de atracação, no mês de agosto sobre julho.
“As cadeias de suprimentos globais ainda apresentam vários pontos críticos, mas tudo permanece dentro do contexto das pressões inflacionárias e da desaceleração da demanda do consumidor. A temporada de inverno provavelmente será mais difícil para a Europa, já que os preços do gás devem afetar bastante as despesas discricionárias”, comentou Josh Brazil, vice-presidente de Supply Chain Insights da Project 44.
Congestionamento
O relatório ainda destacou que, ao contrário dos gargalos terrestres mais conhecidos, os costeiros caíram em todo o mundo. Embora o Reino Unido tenha registrado alta de 20% em suas movimentações portuárias, em agosto na comparação com julho, elas ainda estão 66% menores do que há um ano. A Europa e a Costa Oeste dos EUA também tiveram uma queda vertiginosa de 83% e 90%, respectivamente, no congestionamento portuário ano a ano.
A Project44 indicou que as costas Leste e do Golfo dos EUA são as únicas grandes regiões do mundo que viram um aumento mensal e anual no congestionamento. Enquanto a primeira teve um aumento anual de 120%, o congestionamento da segunda cresceu 223%, simultaneamente.
Os tempos de atracação e o congestionamento portuário também aumentaram por causa de contêineres vazios, que estavam sobrecarregando o espaço disponível dos terminais. Enquanto as linhas de contêineres priorizaram o movimento de vazios dos EUA para a China, em 2021, devido à demanda consistente, o foco no segundo semestre deste ano “parece ter mudado devido à queda na demanda dos EUA em meio ao aumento da inflação”.
O relatório ainda apontou outras duas razões: há unidades excedentes disponíveis na China decorrente da produção pesada de contêineres em 2022; e as transportadoras de contêineres não são incentivadas a removê-los. “A confiabilidade do cronograma agora é uma prioridade para as transportadoras, fazendo com que elas descarreguem contêineres e deixem os portos sem carregar vazios para garantir que cheguem à próxima escala a tempo. Embora muitos portos nos EUA tenham sido aconselhados a implementarem multas para contêineres, que residam nos portos, nenhum dos portos ainda as cumpriram”.
Tempo de permanência
Segundo a Project44, em território norte-americano, vários fatores também agravaram os atrasos na movimentação de contêineres para fora das instalações portuárias: “Por um lado, os problemas com o reposicionamento de unidades vazias estão reduzindo o espaço disponível nos terminais. Em segundo lugar, embora uma greve ferroviária nos EUA tenha sido evitada, as empresas ferroviárias continuam a enfrentar problemas de mão de obra e capacidade, resultando em serviços restritos e atrasos”.
O relatório destacou que a falta de disponibilidade de chassis vem se tornando um problema para a liberação das importações dos terminais portuários, com contêineres deixados de fora dos armazéns, imobilizando os chassis sobre os quais estão assentados. “Isso criou uma escassez de reboques para as viagens de transporte, aumentando os tempos de permanência”.
Como perspectivas, a plataforma Project 44 elencou que as condições industriais chinesas devem permanecer sob os olhares atentos, depois dos crescentes lockdowns regionais anti-Covid e de uma crise hidrelétrica que causou interrupções de energia em várias regiões industriais importantes.
Nos EUA, embora uma greve ferroviária tenha sido evitada, os serviços desse modal de transporte e os atrasos continuam restritos, por causa de problemas de mão de obra e capacidade de longo prazo. A incerteza do contrato ILWU-PMA continua sendo uma fonte de preocupação para os expedidores, considerando que uma paralisação ainda tenha o potencial de fechar os portos da Costa Oeste.
Quanto à Europa, a situação não é muito melhor: “Se suas demandas não forem atendidas, tanto Felixstowe quanto trabalhadores portuários de Liverpool, no Reino Unido, podem iniciar outra greve. O continente europeu continua a sofrer muito com greves de caminhoneiros e descontentamento dos trabalhadores portuários, o que aumentou o risco de manutenção da eficiência e do rendimento dos portos. À medida que as pressões inflacionárias aumentam e a demanda do consumidor diminui, as cadeias de suprimentos globais ainda têm vários pontos críticos. Espera-se que os preços do gás tenham um grande impacto nos gastos discricionários na Europa durante a temporada de inverno”.
Fonte: Portos e navios