O mercado de concessões de infraestrutura deverá receber uma nova leva de investidores financeiros. O segmento de rodovias é um dos que mais têm atraído gestoras. Na semana passada, no leilão da BR-381, o Opportunity participou da disputa e, embora não tenha conquistado a concessão, fontes afirmam que deverá seguir buscando contratos. A Prisma Capital e o BTG também se preparam para disputar licitações da área, segundo fontes.
Outros setores também têm gerado interesse de fundos de investimento. No segmento de logística e portos, a I Squared negocia a compra da Wilson Sons, a XP Asset comprou neste ano uma participação da Multiterminais, no Porto do Rio de Janeiro, e outras gestoras têm buscado ativos do segmento, como a Perfin. Em saneamento, há também interesse de novos grupos financeiros, como o Pátria, que recentemente disputou a concessão de água e esgoto em Sergipe e, embora não tenha saído vencedora do leilão, deverá seguir estudando grandes leilões do setor, segundo fontes.
No caso do setor de rodovias, há um interesse grande principalmente pela ampla oferta de novas concessões, com um desenho que tem sido considerado atrativo, e uma competição relativamente baixa, dado que os operadores tradicionais estão com pouco fôlego financeiro após conquistarem diversos contratos nos últimos anos.
Após a presença do Opportunity no último leilão do setor, e expectativa é que a Prisma Capital, que já atua nos segmentos de energia elétrica e oleo e gás, apareça nas próximas licitações do governo federal. A gestora deverá entrar no setor em consórcio com outros grupos, com perfil de construção e operação, diz uma fonte. Procurado, o grupo preferiu não comentar o assunto. Opportunity, BTG e Pátria também não se manifestaram.
A presença de fundos nas concessões de infraestrutura não é novidade, principalmente no segmento de energia. A percepção é que principalmente após a Operação Lava Jato abriu-se espaço para a entrada das gestoras, com a derrocada das empreiteiras que dominavam o setor e a crise fiscal que limitou a capacidade de obras públicas, impulsionando as concessões.
Recentemente esse movimento tem ganhado ainda mais força, avaliam participantes do mercado. Um fator decisivo é a melhora substancial da qualidade dos projetos, que cada vez mais trazem mecanismos de compartilhamento de riscos, de negociação fora do Judiciário e regras mais claras, afirma o representante de um grupo que pediu anonimato.
“Após 2015 houve um certo vácuo deixado pelas construtoras. O setor começou a ter oportunidades de investimento sem muitos atores, então foi uma combinação perfeita. Negócios bons, em um ambiente positivo, e a competição de alguma maneira limitada”, afirma Carolina Rocha, diretora de operações da Perfin.
A gestora tem sido bastante presente no setor. Em rodovias, em parceria com a Equipav, formou a EPR, que desde 2022 já conquistou duas concessões federais e contratos em Minas Gerais. Em saneamento, o grupo tem uma parceria com a Aegea para operações no Sul do país e recentemente disputou o leilão de Sergipe com a BRK Ambiental. Agora o grupo está concluindo a captação de um novo fundo de infraestrutura, que já chegou a cerca de R$ 1,5 bilhão, e que poderá chegar até R$ 2 bilhões.
Um dos próximos focos da Perfin é o segmento de logística. “Começamos olhando pela tese do agronegócio, mas tem outras interessantes, ativos de contêineres ou não necessariamente de comercialização de algum produto, por exemplo com dragagem. Há uma relação de possibilidades.”
A XP Asset, que já tem a concessão dos aeroportos de Jacarepaguá (RJ) e Campo de Marte (SP), recentemente também entrou no segmento portuário por meio da Multiterminais, no Rio.
Até outubro, a gestora está em captação de um novo fundo voltado a infraestrutura, que poderá chegar a R$ 500 milhões. Túlio Machado, que lidera a área de infraestrutura do grupo, afirma que não há um foco em segmentos específicos. “Porém, estamos sempre olhando os setores elétrico, de portos e aeroportos, em que já atuamos. E para novos setores, o que tem mais interesse hoje é saneamento e rodovia.”
Para gestoras com um foco em ativos estressados, como a IG4 Capital, os últimos anos ofereceram muita oportunidade em infraestrutura, mas hoje a percepção é que esses negócios são mais raros, avalia Paulo Mattos, cofundador do grupo. “Desde 2017 pegamos um ciclo de infraestrutura com muita necessidade de reestruturação, de ajuste de capital”, diz ele. Nesse período, a gestora investiu na Iguá (ex-CAB Ambiental), da qual já saiu; na peruana Aenza (ex-Graña y Montero), de construção e concessões; e na operadora portuária CLI (Corredor Logística e Infraestrutura).
Agora, o terceiro fundo da gestora deverá ter menos foco em infraestrutura, que não vive mais uma situação de tanto estresse. Mas ainda há uma perspectiva de se investir em concessões do setor por meio da Unna, nova plataforma formada a partir da Aenza. “A Unna já tem operação no Peru, na Colômbia, no Chile e pode entrar no Brasil. Não vamos investir [em concessões] a partir do fundo de private equity, mas a partir das plataformas”, diz Mattos. Fontes do setor disseram que nos últimos meses a gestora tem começado a estudar os projetos rodoviários no país.
Apesar da disponibilidade de capital, que em geral é o trunfo dos grupos financeiros, analistas e gestores apontam que a execução dos contratos é um desafio para esse perfil de operador.
Para Marcos Ganut, sócio-diretor da A&M Infra, o maior risco é a execução de obras. Uma fonte próxima a uma gestora interessada no setor aponta que o cenário de escassez de empreiteiras e de mão de obra qualificada é um grande desafio. Machado, da XP, também compartilha da preocupação e afirma que a gestora busca mitigar a questão por meio de parcerias firmadas com antecedência. “Tentamos ir ao leilão com um contrato de engenharia amarrado, bem desenhado.”
Por conta desse risco, Ganut afirma que já existem no mercado dúvidas sobre o sucesso de algumas concessões assumidas por investidores financeiros, além da expectativa de que problemas na execução dos contratos possam abrir oportunidades de venda de ativos. “Existem muitas gestoras e fundos com boa estrutura para tocar projetos, mas há outras que estão bancando um risco talvez sem necessariamente conhecer na plenitude o desafio. Acredito que vamos ver um mercado secundário de parte desse grupos que vão ter que revisar planos e eventualmente vender ativos.”
Fonte: Valor Econômico