O Brasil conta com diversos problemas de ordem logística, com adversidades impostas pela infraestrutura de rodovias, portos, ferrovias e hidrovias.
São inúmeros os relatos de produtores do agronegócio que registraram perdas na produção em função de contratempos ocasionados por questões estruturais.
De acordo com João Ferreira Netto, coordenador do Centro de Inovação em Logística e Infraestrutura Portuária da Universidade de São Paulo (CILIP/USP), o principal problema estrutural da matriz de transporte do país passa por seu desbalanço, com cerca de 60% do escoamento das cargas por rodovias.
“Essa é uma realidade que não mudou nos últimos 50 anos, não houve incentivo para modais como ferrovias e hidrovias, que contam com uma maior economia de escala. Com isso, você concentra muitas mercadorias em rodovias, sendo que a própria infraestrutura não é das melhores, principalmente para o agronegócio”, avalia.
Custos elevados e impacto no consumidor
Netto, que enxerga a logística como o “calcanhar de Aquiles” do Brasil, ressalta que os problemas de transportes resultam em custos até 40% mais altos no bolso do consumidor final brasileiro e destaca que, apesar das semelhanças geográficas com os Estados Unidos, o país apresenta problemas em seus alicerces.
“Por incrível que pareça, o Brasil conta com sistemas de produção agrícola mais eficientes e com tecnologia superior, na comparação com os centros produtores norte-americanos. No entanto, nós perdemos competitividade em grãos, por exemplo, justamente por custos logísticos”, explica.
“O custo logístico no Brasil é cerca de oito a nove vezes maior do que nos Estados Unidos, assim, apesar da nossa maior sustentabilidade e produtividade, nossos problemas estruturais afetam a competitividade brasileira“.
Diferenças logísticas
O professor da Universidade de São Paulo destaca a operação logística do país através de hidrovias e rodovias, que fornecem toda infraestrutura necessária para o escoamento de grandes volumes.
“A hidrovia do Mississipi opera com todas as suas eclusas, e isso faz com que os grãos estadunidenses ganhem competitividade. Assim, com um sistema, um comboio de barcaças com capacidade entre 18 mil e 20 mil grãos, você consegue transportar o mesmo do que 500 a 100 caminhões”, pondera.
Por outro lado, no Brasil, de acordo com levantamento da Esalq/USP, todo o custo logístico no Brasil, somando gastos rodoviários e portuários, representam entre 30% e 40% do valor pago pela soja.
“Alguns estudos apontam que os custos logísticos com a soja são 6 vezes maiores que os custos produtivos. Ou seja, se a saca custa US$ 100, o transporte dessa saca é de US$ 600, gerando um forte impacto”, diz.
Fonte: Money Times