29/03/2022

Lockdown em Xangai é novo teste para as cadeias de suprimentos

 Lockdown em Xangai é novo teste para as cadeias de suprimentos



O lockdown em Xangai pode marcar outro revés para a máquina de exportação da China, reacendendo as preocupações com novas interrupções nas cadeias de suprimentos globais já afetadas pela pandemia de covid-19 e pela guerra na Ucrânia.


Autoridades impuseram um lockdown de duas etapas na cidade mais populosa da China, a mais recente reverberação da estratégia de tolerância zero com a covid-19 no país, que está agora enfrentando seu teste mais difícil devido à variante ômicron altamente transmissível.


A Tesla está suspendendo a produção em sua fábrica de automóveis em Xangai por quatro dias, disseram pessoas familiarizadas com o assunto, mas a Semiconductor Manufacturing International Corp., que tem duas fábricas na cidade, está produzindo e operando normalmente, disse um representante da empresa hoje.


O porto de Xangai continua aberto, mas os exportadores estão se preparando para atrasos, já que os lockdowns afetam armazéns e transportes, um padrão experimentado durante confinamentos semelhantes, como o decretado na cidade de Shenzhen, no sul da cidade.


Embora a China esteja melhorando em conseguir manter os portos abertos e as fábricas funcionando ao apertar as restrições, economistas e executivos de empresas dizem que os contínuos surtos e as dores de cabeça logísticas de navegar pelas mudanças nas medidas de saúde pública estão afetando a indústria, o que mantém a inflação sob pressão em uma economia mundial que já luta contra os preços em alta.


“A China está ficando melhor em administrar os choques, mas os choques estão ficando maiores”, afirmou Hui Shan, economista-chefe para a China do Goldman Sachs em Hong Kong.


Um aumento nos casos de covid-19 no início deste mês levou as autoridades chinesas a impor bloqueios e fechar fábricas em partes de país, como os centros industriais de Shenzhen e de Changchun, cidade que fica na província de Jilin, no norte da China.


Xangai determinou que os moradores da parte leste da cidade fiquem em casa a partir desta segunda-feira e que o transporte público seja fechado por quatro dias, enquanto as autoridades de saúde pública realizam milhões de testes. O lockdown entrará em vigor na parte oeste da metrópole de cerca de 25 milhões de habitantes em 1º de abril.


Por enquanto, o porto da cidade permanece aberto 24 horas por dia, como o usual, de acordo com o Shanghai International Port Group. Trabalhadores essenciais, como médicos, policiais, entregadores de comida, ainda poderão se movimentar pela cidade, desde que mostrem um passe de trabalho.


Empresas e fábricas poderão manter as operações sob um “circuito fechado”, disseram as autoridades municipais, um sistema que prevê que os funcionários permaneçam e vivam nos locais de trabalho.


No entanto, mesmo com essas medidas, manter o fluxo de mercadorias em movimento das fábricas para os clientes no exterior pode ser complicado, já que o lockdown envolve armazéns, caminhoneiros e outros elos críticos das cadeias de suprimentos.
“Os armazéns fecharam e o transporte de e para o porto foi interrompido”, disse Zou Xiaodong, vice-gerente geral da Shangai Gangxian International Freight Fowarding Co. Ltd.


Os motoristas de caminhão são obrigados a mostrar um resultado negativo em teste realizado nas 48 horas anteriores se quiserem entrar na cidade, disseram representantes de várias empresas de logística. Alguns deles estão evitando o transporte de mercadorias para Xangai, com medo de acabarem em quarentena.


“Muitos motoristas se preocupam com a possibilidade de transportar mercadorias para o porto, mas não poderem retornar devido às rigorosas restrições da pandemia”, disse Zou.


Cameron Johnson, chefe de estratégia para Ásia-Pacífico na consultoria FAO Global, afirmou que “há muito o que pode ser feito antes que a produção diminua devido à lotação dos armazéns”, já que haverá dificuldade para escoar os produtos.


Para minimizar os atrasos, a Kuehne+Nagel International AG, operadora global de logística com sede na Suíça, desviou alguns navios com destino a Xangai para o porto de Ningbo, a cerca de 160km, e está realizando fretes aéreos para Zhengzhou, a 800km de distância, segundo Siew Loong Wong, presidente para Ásia-Pacífico da empresa.


Wong disse que prevê de quatro a oito dias desafiadores à medida que o lockdown de duas etapas é implementado, mas ressaltou estar relativamente confinante de que as interrupções serão de curto prazo.


Um lockdown total para tentar conter um surto de covid-19 em junho do ano passado fechou o terminal Yantian do porto de Shenzhen por um mês, causando um enorme acúmulo de contêineres que atrapalharam o tráfego marítimo e elevaram os custos de frente.


Desta vez, o porto permaneceu aberto e alguns empregadores instituíram “bolhas” para manter os funcionários nos locais de trabalho ou em áreas próximas durante a noite para manter as atividades. O transporte público foi suspenso em Shenzhen durante o lockdown de uma semana e exigiu que a maioria das companhias fechassem enquanto as autoridades realizavam testes em toda a cidade.
A Foxconn Technology Group., a maior montadora de iPhones da Apple, conseguiu retomar as operações após uma paralisação de apenas dois dias em suas fábricas de Shenzhen, onde os trabalhadores vivem em dormitórios próximos à empresa.


Aqueles que transportam mercadorias por meio das divisas das províncias devem enfrentar uma colcha de retalhos de diferentes regras de saúde, disse Akhil Nair, vice-presidente de gerenciamento global de transporte e estratégia oceânica da Seko Logistics.


Os caminhoneiros que fazem longas viagens normalmente precisam mostrar o resultado de seus exames mais de uma vez. Falhas em ter o código digital certo para a região também provoca atrasos. Às vezes, eles também são parados nas estradas. A desinfecção dos caminhões e suas cargas também podem aumentar o tempo de viagem em horas, segundo Nair.


Em outro sinal de alerta inflacionário, os custos com o transporte rodoviário na China estão subindo entre 8% e 10%, à medida que os motoristas enfrentam preços mais altos dos combustíveis por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia. “Há muitas partes móveis”, disse Nair.


Antes do lockdown em Xangai, dados sobre a movimentação de contêineres pelos portos chineses sugerem que, por enquanto, as indústrias voltadas à exportação estão se saindo melhor do que as focadas no mercado doméstico.


A movimentação de contêineres em oito grandes portos mostra que o comércio doméstico foi 24,4% menor em meados de marco do que na comparação com o ano anterior devido às restrições da covid-19 e o mau tempo. O comércio exterior caiu 1,2% no mesmo período.


A razão é que algumas dessas áreas que sofrem o impacto dos contágios e restrições, como Jiangsu e Jilin, abrigam grandes indústrias, como produtos químicos, madeira e fabricação de veículos, voltadas para o consumo doméstico e não para exportação, dizem analistas. A demanda no exterior por produtos chineses também é mais forte do que a demanda doméstica, onde a economia está desacelerando.


Ainda assim, a preocupação é que a pressão sobre as cadeias de suprimentos globais não diminua enquanto os surtos de ômicron continuam surgindo. A interrupção até agora no fluxo de mercadorias não é enorme, mas “isso diminui a velocidade quando já existem alguns gargalos com os quais se preocupa”, disse Craig Botham, economista-chefe para China na Pantheon Macroeconomics.


Fonte: Valor Econômico



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