A Frete.com, um dos mais recentes unicórnios brasileiros, vai investir R$ 300 milhões em aquisições de empresas de tecnologia no setor logístico. A previsão da companhia, que já captou mais de R$ 2 bilhões de investidores como Softbank, Goldman Sachs e Tencent, é de assinar mais de 20 contratos até 2024.
Segundo o CEO e fundador Federico Vega, o valor investido veio do capital levantado pela empresa nos últimos anos. Para estruturar e liderar o setor de M&A e Relações com Investidores (RI), a empresa contratou Marco Fabio Moura de Castro, que deixou a posição de head de M&A do Grupo Fleury para assumir o cargo.
Os critérios para o investimento são: empresas brasileiras, nativas digitais e com equipes abertas à colaboração. A ideia é que o quadro de funcionários e executivos seja mantido, sem reestruturação. Por isso, a Frete.com optou por uma abordagem de parcerias a longo prazo, buscando empresas que tenham uma “sinergia de cultura”, como explica Vega em entrevista à Época NEGÓCIOS.
No Brasil, o foco será complementar o serviço oferecido pela companhia, adquirindo desde plataformas para facilitar a documentação do transporte de cargas até soluções de segurança e controle de combustíveis para os caminhões. Em outros países, avalia adquirir concorrentes diretos.
Além do aporte financeiro, as empresas adquiridas terão acesso a uma base de 712 mil caminhões ativos (47% de toda a frota brasileira) e 146 mil usuários publicando cargas mensalmente. Atualmente, a Frete.com afirma processar mais de R$ 100 bilhões em transações, com um crescimento de 90% ao ano. A empresa tem 1.000 funcionários e pretende contratar mais 350 ainda neste ano.
“O setor de logística brasileiro não recebe a mesma atenção que os outros”, diz Vega. “Sempre foi difícil aplicar em empresas do segmento. Agora que captamos dinheiro e vemos startups com dificuldade de encontrar capital, decidimos pegar um pouco do nosso caixa e investir para acelerar o desenvolvimento e trazer pessoas boas para dentro.”
O CEO afirma que já há uma aquisição feita, a ser anunciada nas próximas semanas, mas acredita que os investimentos serão consolidados de fato no ano que vem. “As grandes oportunidades vão surgir em 10 meses, quando as empresas se derem conta de que o dinheiro acabou e não há investidores no mercado.”
O investimento em aquisições vai na contramão do cenário observado nos últimos meses, com as demissões em massa e redução dos aportes financeiros às startups. O fundador da Frete.com não vê esse cenário com pessimismo: “O inverno é para todos”, diz.
Vega conta que a empresa foi criada em 2014, em um ano turbulento para o mercado. “Já apanhamos muito. Sempre fomos conscientes dos nossos gastos e sempre gastamos pouco. Agora, com capital arrecadado, é o momento de ir para o mercado. Quando ninguém investe, você consegue os melhores negócios.”
Para ele, a fórmula para sobreviver é focar na eficiência. “O segredo é cuidar do dinheiro mais do que nunca. Cada real tem que ser bem investido. Demissões ou reduções nas contratações têm que acontecer, senão a empresa morre.”
O preço dos combustíveis
Além do corte de investimentos, empresas do setor de logística sofrem com a alta no preço dos combustíveis, em decorrência de problemas nas cadeias de suprimentos, gerados pela guerra na Ucrânia. O CEO da logtech vê esse movimento da economia como uma oportunidade para acelerar o crescimento. “Nesse contexto, os caminhoneiros procuram mais eficiência e a encontram na nossa plataforma.”
O serviço oferecido pela empresa busca otimizar o transporte de cargas, apresentando as melhores rotas, os melhores preços em postos de combustíveis, os fornecedores mais confiáveis, mais segurança no processo de pagamento, entre outros recursos. “Com o aumento dos combustíveis, o caminhoneiro tira menos lucro. Por isso, precisa de processos mais confiáveis.”
Ele acredita que ainda há um longo caminho para caminhões elétricos se tornarem uma realidade – “o diesel vai continuar dominando” –, mas uma tendência que vem se concretizando é a de caminhões autônomos. “Eles são mais seguros e simples de serem adotados, basta aplicar softwares e hardwares já disponíveis no mercado.”
O futuro da Frete.com
“A gente quer fazer com que esse mercado seja mais seguro para caminhoneiros e transportadoras”, comenta Vega. Segundo o CEO, no curto prazo, o foco é contratar mão de obra qualificada e proporcionar uma infraestrutura segura para os colaboradores brasileiros; no médio prazo, expandir para o mercado internacional.
Por ora, não há IPO em vista: “Não precisamos de capital e as condições do mercado não são as melhores”.
Fonte: Época Negócios