30/06/2022

Flexibilização na China destrava negócios

 Flexibilização na China destrava negócios



A decisão da China de flexibilizar as medidas de restrição sanitária para combater a covid-19 deve melhorar o fluxo de comércio com o Brasil, agilizando a logística e ajudando a repor estoques de empresas de bens de consumo. Mas os preços do frete marítimo não devem cair no curto prazo. Setores de calçados, eletroeletrônicos, tecnologia e trading companies especializadas em importações temperam o otimismo com cautela.


O preço do frete marítimo não deve cair no curto prazo pois o segundo semestre é de alta temporada, turbinada por encomendas para Black Friday e Natal. A tendência é de preços mais remuneradores para o transporte marítimo.


“O preço estava seguindo tendência de baixa antes do último lockdown [na China]. O mercado chegou a bater US$ 6 mil [para um contêiner de 40 pés São Paulo-Xangai]. No pico da crise ele chegou a custar US$ 15 mil. Agora voltou para US$ 9 mil”, disse Luciano Sapata, vice-presidente e sócio da Sertrading. No curto prazo, acrescentou, a tendência é de alta. “A partir do ano que vem o preço voltará a se acomodar perto de US$ 6 mil, nível que o mercado tem considerado hoje como saudável”.


O presidente da fabricante de eletrodomésticos Mondial, Giovanni Cardoso, disse que os preços do frete voltaram a subir este mês, após uma queda em maio, por conta de embarcações paradas no Norte da Europa, como reflexo da guerra na Ucrânia. “Reduzindo o volume de navios disponíveis no mercado, os preços aumentaram”.


Dependendo do destino da importação no Brasil, segundo Cardoso, o preço de um contêiner pode variar de US$ 8,5 mil para o centro de distribuição da empresa, em Araquari (SC), onde um pedido chega em 30 dias, a uma faixa de US$ 14 mil a US$ 18 mil, para a fábrica em Manaus (AM), com prazo de entrega em 60 dias.


O preço do frete não deve cair, mas a flexibilização chinesa ajuda a repor estoques e vai ampliar os negócios da Sertrading. “Considerando a reabertura dos portos e a sazonalidade do segundo semestre, estimamos um aumento de 50% no volume de importação, quando comparado ao primeiro semestre deste ano”, disse Sapata.


Para o setor de calçados, a flexibilização das medidas do lockdown anunciadas ontem na China foi um “bom sinal”. Mas há o temor de aumento nos casos de covid-19 e da possibilidade de novas restrições na China, cenário que se soma ao preço ainda salgado do frete.


O gestor de mercado internacional da Assintecal (Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos), Luiz Ribas Júnior, diz que o mercado chinês é o principal destino dessa indústria, tendo movimentado US$ 39,88 milhões de janeiro a maio. “As exportações para a China nem chegaram a cair. Mas, em comparação com outros mercados, cresceu muito menos. Cresceu 11% em cinco meses, mas mercados como Argentina cresceram cerca de 60%”, diz ele. Nas importações, que se concentram especialmente em produtos como resina para a fabricação de solados ou palmilhas, houve falta de insumos. “O impacto é positivo agora, por restabelecer rotas de alguns de produtos que só têm fornecedores chineses”, diz Ribas Júnior.


Falta de insumos não foi um problema para a fabricante de calçados Grendene, segundo seu diretor de relações investidores Alceu Albuquerque. Mas foi sentido um “atraso muito grande” para produtos chegarem ao Brasil. “Esses anúncios tendem a ajudar na melhoria do fluxo e nos atrasos”.


A maior expectativa da Grendene está na exportação ao mercado chinês. Ele diz que, no primeiro semestre, os lockdowns atrapalharam as operações da Grendene Global Brands (GGB, a joint-venture com a 3G Radar). “Um exemplo é que a GGB não conseguia nem abrir conta bancária na China porque os funcionários não saíam de casa. Tinha que movimentar calçados de um centro de distribuição para outro e não conseguia por causa das medidas de lockdown. Essas medidas nos tornam mais otimistas.”


Com vendas em ritmo lento, a Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (Eletros) diz que o anúncio de flexibilização na China chega em boa hora. Seu presidente executivo Jorge Nascimento observa que a decisão traz maior segurança em relação à cadeia de suprimentos. “Nos últimos meses, entretanto, os impactos já estavam sendo sentidos de forma mais amena pelo setor diante da atual conjuntura econômica que, infelizmente, tem nos projetado quedas sucessivas nas vendas”, observa ele. Ou seja, diante da redução nas vendas no mercado interno, as fabricantes não estão com tanta necessidade de reposição de estoques.


Agora, Nascimento está confiante de que deverá haver melhora nas vendas de linha branca (geladeira e fogão, por exemplo) e marrom (TV e aparelhos de som) no segundo semestre, quando tradicionalmente há aumento na demanda por esses produtos.


O impacto na cadeia de suprimentos deve ocorrer no médio prazo, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato. “Esperamos que haja maior disponibilidade de navios e aviões o que poderá, a médio prazo, se refletir nos preços, mas não de imediato”, disse.


O relaxamento das regras de quarentena na China traz alívio a empresas que vendem computadores e smartphones no Brasil e que concentram boa parte da importação de componentes do mercado chinês, mas não se reflete em queda de preços ao consumidor, dizem especialistas da consultoria IDC Brasil.


Em celulares, qualquer impacto da flexibilização chinesa será percebido para as vendas de Natal e no início de 2023, disse Reinaldo Sakis, gerente de pesquisas da IDC Brasil. “Os pedidos para a Black Friday, auge de vendas da categoria, já estão a caminho”, completou.


“Pode haver abundância de componentes tendo em vista a desaceleração na demanda da China e dos EUA, mas não há indicação de que frete ou componentes fiquem mais baratos”, diz Sakis. “O que a gente vê é uma tentativa da indústria não subir muito mais os preços para não espantar o consumidor”.


Apesar de certo alívio para a cadeia de abastecimento “a desconexão global das cadeias de suprimentos e o aperto financeiro diante do aumento da inflação e da taxa de juros são detratores mais impactantes para o mercado de PCs” disse Daniel Voltarelli, analista de mercado da IDC. O setor deve lidar com uma projeção de queda de, ao menos, 2,7% nas vendas de computadores ao varejo, este ano. A estratégia é compensar o resultado com a alta de 9,7% projetada na demanda das empresas.


Fonte: Valor Econômico



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